sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

À beira de um desastre climático irreversível

Estado do Clima 2024: À beira de um desastre climático irreversível.

“Estamos à beira de um desastre climático irreversível. Trata-se de uma emergência global sem qualquer dúvida. Grande parte da própria estrutura da vida na Terra está em perigo. Estamos entrando em uma nova fase crítica e imprevisível da crise climática”, alertam.
O artigo, assinado por uma equipe de renomados cientistas climáticos, incluindo William J. Ripple e Johan Rockström, oferece uma atualização concisa sobre as últimas tendências dos sinais vitais do planeta, desastres relacionados ao clima, e discute a necessidade urgente de intervenções políticas.

O relatório destaca o aumento recorde das temperaturas globais e oceânicas, a diminuição da extensão do gelo marinho e o aumento de desastres climáticos extremos, atribuindo-os principalmente às emissões de combustíveis fósseis.

Os autores enfatizam a gravidade da situação climática e o papel da humanidade na aceleração da crise.

Principais temas discutidos no artigo:

Crise climática urgente e irreversível:

• O artigo inicia com uma forte declaração sobre a iminência de um “desastre climático irreversível” e a existência de uma “emergência global”. Os cientistas expressam preocupação com o ritmo acelerado das mudanças climáticas e seus impactos crescentes.

• “Estamos à beira de um desastre climático irreversível. Esta é uma emergência global, sem dúvida. Grande parte do tecido da vida na Terra está em perigo”.

• Apesar de décadas de alertas científicos, incluindo previsões feitas por empresas de combustíveis fósseis, as emissões globais continuam a aumentar, levando a um cenário de aquecimento bem acima das metas estabelecidas.

Sinais vitais do planeta em níveis recordes:

• Em 2023, muitos recordes de temperatura e extensão de gelo foram quebrados. As temperaturas da superfície do mar, tanto globais quanto no Atlântico Norte, ficaram bem acima das médias históricas.

• “Em 2023, vários recordes históricos de temperatura e extensão de gelo foram quebrados por margens enormes”.

• Dos 35 sinais vitais planetários monitorados, 25 estão em níveis recordes, sinalizando a gravidade das alterações.

• O relatório destaca o fracasso global em implementar uma rápida redução nos combustíveis fósseis, resultando em impactos climáticos crescentes.

Atividades humanas e o aumento das emissões:

• O artigo mostra como o tamanho e os padrões de consumo da humanidade continuam a acelerar, com recordes de população humana, rebanho de ruminantes, produção de carne per capita e produto interno bruto (PIB).

• O consumo de combustíveis fósseis aumentou em 2023, embora o uso de energia renovável também tenha crescido. No entanto, o consumo de combustíveis fósseis continua cerca de 14 vezes maior que o de energia solar e eólica.

• As emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) atingiram um nível recorde, com as emissões relacionadas à energia aumentando 2,1% em 2023.

• “As emissões de dióxido de carbono causadas pela ação humana e outros gases de efeito estufa são os principais impulsionadores da mudança climática”.

Perda de florestas e o sumidouro de carbono:

• A perda global de cobertura arbórea aumentou em 2023, atingindo o terceiro nível mais alto, em parte devido a incêndios florestais. Essa perda afeta o sumidouro de carbono e alimenta ciclos de feedback que intensificam o aquecimento.

• “Altas taxas de perda de cobertura arbórea podem impulsionar um conjunto de ciclos de feedback relacionados, nos quais a perda de sequestro de carbono florestal leva a um aquecimento adicional, o que pode impulsionar novas perdas no sequestro de carbono e assim por diante”.

• O declínio na taxa de desmatamento na Amazônia brasileira é um ponto positivo, mas a região ainda corre o risco de atingir um ponto de inflexão.

Eventos climáticos extremos:

• O artigo lista uma série de desastres climáticos recentes, incluindo tempestades, incêndios florestais, ondas de calor e inundações, muitos dos quais tiveram sua intensidade ou frequência aumentada pelas mudanças climáticas.

• “A mudança climática provavelmente exacerbou esta precipitação”. (Referindo-se às inundações no Golfo Pérsico)

• O aumento das temperaturas médias globais levou a um aumento na incidência de extremos de calor, com um aumento de 117% nas mortes relacionadas ao calor nos EUA entre 1999 e 2023.

Tópicos de destaque:

• Branqueamento de corais: O aumento da temperatura do oceano está causando o quarto evento global de branqueamento de corais já registrado.

• Rios tóxicos: O derretimento do permafrost no Ártico está liberando ferro e metais tóxicos, tornando as correntes de água laranjas e afetando a vida aquática.

• Pesquisa sobre Modificação da Radiação Solar (SRM): Há um aumento na pesquisa sobre técnicas para refletir a luz solar, mas ainda existem preocupações éticas e ambientais sobre esses métodos.

• Opinião dos cientistas sobre o aquecimento global: Uma pesquisa mostra que a maioria dos cientistas climáticos espera que as temperaturas globais aumentem pelo menos 2,5°C até o final do século, com muitos prevendo um aumento ainda maior, o que implicaria em consequências catastróficas.

Justiça social e as mudanças climáticas:

• O artigo enfatiza que a mudança climática é uma questão de justiça social, pois os países mais ricos, que emitem mais gases de efeito estufa, são geralmente menos vulneráveis aos impactos climáticos, enquanto as regiões do Sul Global são desproporcionalmente afetadas.

• “A vulnerabilidade à mudança climática é moldada por uma complexa interação de fatores sociais, econômicos e políticos, deixando comunidades historicamente diversas, mal atendidas e marginalizadas desproporcionalmente afetadas”.

Ciclos de feedback climático e pontos de inflexão:

• O artigo destaca os ciclos de feedback que amplificam o aquecimento, como o derretimento do permafrost e a perda de gelo, e enfatiza que muitos desses ciclos ainda não estão totalmente integrados nos modelos climáticos.

• Vários elementos climáticos de inflexão, como as camadas de gelo da Groenlândia e da Antártida Ocidental, podem ser atingidos em 1,5°C de aquecimento, o que poderia desencadear uma cascata de efeitos.

Risco de colapso social:

• O aquecimento global é apenas um sintoma de uma crise mais profunda, que inclui degradação ambiental, aumento da desigualdade e perda de biodiversidade.

• O artigo alerta que a mudança climática pode contribuir para o colapso da sociedade, aumentando o risco de conflitos e deslocamentos populacionais.

Refugiados climáticos: desastres levam 4,2 milhões a deixarem moradias

O artigo termina com um apelo à ação urgente, enfatizando que as mudanças necessárias para limitar o aquecimento global exigem transformações profundas em todos os níveis da sociedade.

Os autores destacam a necessidade de eliminar rapidamente o uso de combustíveis fósseis, reduzir o consumo excessivo, estabilizar a população humana e adotar uma economia ecológica e pós-crescimento. Eles insistem que o futuro da humanidade depende da nossa capacidade de agir com coragem e perseverança. (ecodebate)

quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Pela primeira vez, a Terra ultrapassa limite de 1,5ºC de aquecimento

Pela primeira vez, a Terra ultrapassa limite de 1,5ºC de aquecimento. Entenda o que isso significa.
2024 a Terra ultrapassou pela primeira vez o limite de 1,5°C de aquecimento global em relação à era pré-industrial:

A temperatura média global foi de 15,10°C, representando um aumento de 1,6°C.

O índice ficou acima de 1,5°C ao longo de 11 meses do ano.

O ano passado foi marcado por sucessivos recordes mensais de temperaturas.

O limite de 1,5°C é considerado um alerta crítico para evitar consequências graves no clima. O Acordo de Paris estabelece esse limite como uma fronteira entre um planeta habitável ou não. No entanto, o acordo considera a média de 20 anos, o que significa que o limite não foi ultrapassado de forma definitiva.

O aquecimento global é atribuído sobretudo à ação humana e ao fenômeno meteorológico El Niño no Oceano Pacífico.

Má notícia: 2024 foi o ano mais quente da história, anunciaram cientistas em 10/01/25. Mas não só: pela primeira vez nos registros, a Terra ficou 1,5ºC mais quente do que a temperatura registrada na era pré-industrial.

O limite de 1,5°C é significativo porque os cientistas o consideram um ponto de inflexão fundamental para o planeta.

O número é bastante impactante por si só, mas também tem um caráter simbólico: 1,5ºC foi adotado pelo Acordo de Paris, em 2015, como uma espécie de limite máximo de aquecimento – acima desse teto, o mundo passaria a enfrentar as piores consequências da crise climática, como o desaparecimento de ilhas inteiras, intensificação de secas, mais eventos climáticos extremos (como as chuvas do Rio Grande do Sul). E, segundo os novos dados, cruzamos o tal limite em 2024.

Não é o fim da linha, por ora. O “estouro” do limite aconteceu em apenas um ano isolado, mas cientistas costumam levar em conta a média da temperatura de uma década como referência, a fim de filtrar anomalias (anos pontuais que são anormalmente frios ou quentes).

Nessa métrica de 10 anos, a Terra ainda está “só” 1,3ºC mais quente do que na era pré-industrial, ou seja, ainda dentro do limite do Acordo de Paris.

Mesmo assim, a medição de 2024 acende um enorme alerta vermelho, que pode indicar que não só o planeta continua esquentando como que esse processo está acontecendo ainda mais rápido do que prevíamos.

A notícia foi divulgada pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), que, por sua vez, contou com seis bases de dados diferentes que calculam de forma independente a temperatura da Terra, incluindo aí organizações como a NASA e a Agência Meteorológica do Japão. Embora haja pequenas variações entre as medições dessas seis iniciativas, a média entre elas mostra que 2024 ficou 1,55ºC mais quente do que a temperatura pré-industrial.

]Temperaturas anuais da superfície global em comparação com diferentes médias de longo prazo. Para o conjunto de dados de temperatura global da NOAA, “pré-industrial” é definido como o período de 1850-1900. Para relatórios mensais de rotina, a NOAA compara as temperaturas mensais com a média do século 20.

Usa-se a temperatura registrada entre 1850 e 1900 como referência porque o período é anterior a industrialização massiva do mundo (ou seja, a tal era pré-industrial); a partir do século 20, a humanidade passou a queimar combustíveis fósseis em grande escala, emitindo assim gases do efeito estufa que levam ao aquecimento do globo.

O limite de 1,5ºC foi estabelecido pelo Acordo de Paris em 2015, no qual quase 200 países concordaram em manter o aquecimento global abaixo desse teto. Como explicamos, esse número é calculado por década, e não em anos individuais, então o fato de 2024 ter passado do limite não significa necessariamente que esse objetivo já falhou – mas indica que está cada vez mais difícil atingi-lo.

As alterações climáticas são o principal desafio que a humanidade enfrenta. E, como tal, requer medidas drásticas, não remendos.

Meta foi definida porque tanto modelos como dados paleoclimáticos mostram que acima de 1,5°C o risco de impactos graves torna-se maior do que o mundo estava disposto a tolerar.

Além disso, a medição de 2024 foi atipicamente quente, mostrando um aumento significativo em relação a 2023, que, por sua vez, já havia batido o recorde de ano mais quente já registrado. Isso levanta uma enorme questão: será que esses dois anos de rápido aquecimento são uma anomalia pontual, ou será que, daqui para frente, a temperatura vai seguir aumentando ainda mais rápido do que o previsto?

Por isso, a divulgação do dado acendeu o alerta vermelho entre especialistas. Cientistas e autoridades, porém, lembraram que isso não é motivo para jogar a toalha e desistir de tentar reverter o pior cenário. Pelo contrário; é hora de, mais do que nunca, diminuir o uso dos combustíveis fósseis e as emissões totais de carbono.

“A história climática está se desenrolando diante dos nossos olhos. Não tivemos apenas um ou dois anos de quebra de recordes, mas sim uma série completa de dez anos. Isso foi acompanhado por eventos climáticos extremos e devastadores, além da elevação do nível do mar e do derretimento do gelo, tudo isso alimentado por níveis recordes de gases de efeito estufa devido às atividades humanas”, disse, em comunicado, a Secretária-Geral da OMM, Celeste Saulo.

Impactos globais com 1,5°C e 2°C de aquecimento sobre a temperatura média do período de dias mais quentes e de noites mais frias do ano. Em ambos os cenários, tanto os dias quanto as noites ficarão mais quentes, com maior impacto no cenário de 2ºC e no Hemisfério Norte no caso das noites. (msn)

Temperatura do planeta em 2024 foi 1,6°C acima dos níveis pré-industriais

Temperatura do planeta em 2024 foi 1,6°C acima dos níveis pré-industriais, calcula observatório europeu.
Confirmado agora como o novo ano mais quente da história da humanidade, 2024 foi também o primeiro a ultrapassar a barreira de 1,5°C de aquecimento em relação aos níveis pré-industriais. Essa cifra é indicada por cientistas como o limite para conter as piores consequências das mudanças climáticas.

Dados do observatório Copernicus, da União Europeia, divulgados em 10/02/2 indicam que a temperatura média global no ano passado foi 1,6°C superior aos valores de 1850 a 1900, o parâmetro para os termômetros antes da emissão em larga escala de gases-estufa.

Em 2024, a temperatura média no planeta foi de 15,10°C, ficando 0,12°C acima do que foi registrado em 2023, o até então recordista de calor da série histórica. Também no Brasil 2024 bateu o ano anterior como o mais quente já computado, segundo o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), considerando medições desde 1961.

Os resultados indicam que a Terra segue em trajetória de rápido aquecimento, alimentado pela concentração recorde de CO2 e de outros gases que ampliam o efeito estufa.

"Honestamente, eu estou já estou ficando sem metáforas para explicar o aquecimento que nós estamos vendo", disse Carlo Buontempo, diretor do serviço de mudanças climáticas do Copernicus.

Assista ao vídeo Eventos climáticos extremos serão o novo normal: https://www.youtube.com/shorts/PZiZzHs8FxA

Eventos climáticos extremos são o novo normal, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Em relatórios divulgados pela OMM nos últimos anos, há descobertas alarmantes. A média de temperatura até 2032 deverá ultrapassar 1ºC acima dos níveis pré-industriais pela primeira vez.

"O que apresentamos hoje não são nossas opiniões pessoais nem cálculos de modelos complexos. Estes são dados baseados em observações, milhões de observações, que mais uma vez nos dizem de forma inequívoca que o clima continua aquecendo", completou o cientista durante a apresentação do relatório à imprensa.

Todos os 366 dias de 2024 tiveram aquecimento acima de 1,25°C, enquanto três quartos deles superaram 1,5°C.

Além de ser o consenso científico para limitar as piores consequências das mudanças climáticas, como o fim de países insulares, o aquecimento de 1,5°C também é a meta preferencial pactuada pela comunidade internacional no Acordo de Paris, de 2015.

Embora considerem que o resultado seja um sinal de alerta, os pesquisadores destacam que essa barreira ainda não foi definitivamente ultrapassada. Para isso, seriam necessárias duas décadas com temperaturas acima desse patamar.

Além do recorde nos termômetros aferido pelo observatório europeu, outras instituições, incluindo a NASA (agência espacial americana) e a OMM (Organização Meteorológica Mundial), vinculada à ONU (Organização das Nações Unidas), confirmaram que 2024 foi o ano mais quente da história da humanidade.

As instituições trabalham com diferentes fontes de dados, além de usarem metodologias distintas, por isso, há diferenças quanto aos níveis de aquecimento identificados em cada uma.

A OMM, que analisa os seis principais conjuntos de dados internacionais, indicou que esse aquecimento foi de 1,55°C. Já a NASA estimou que o incremento em relação aos níveis pré-industriais foi de 1,47°C.

Todas as entidades foram unânimes, contudo, em destacar que os níveis de calor são sem precedentes. Os últimos dez anos (2015-2024) foram os mais quentes já computados.

"Cada ano na última década está entre os dez mais quentes já registrados. Estamos agora à beira de ultrapassar o nível de 1,5°C definido no Acordo de Paris, e a média dos últimos dois anos já está acima desse nível", pontuou Samantha Burgess, líder estratégica para o clima do Centro Europeu de Previsões Meteorológicas a Médio Prazo.

"Essas altas temperaturas globais, juntamente com níveis recordes de vapor d’água atmosférico em 2024, resultaram em ondas de calor e eventos de chuva intensa sem precedentes, causando sofrimento para milhões de pessoas", completou.

A quantidade total de vapor d’água na atmosfera chegou a níveis máximos, ficando cerca de 5% acima da média de 1991 a 2020. O resultado também foi 1% maior do que o registrado em 2016 e 2023, os recordistas anteriores.

O relatório indica que esse suprimento abundante de umidade no ar contribuiu para ampliar o potencial de ocorrência de chuvas extremas. Combinado às altas temperaturas na superfície do mar, o cenário também foi favorável ao desenvolvimento de "grandes tempestades, incluindo ciclones tropicais".

Por todo o globo, houve ocorrências de eventos climáticos extremos, que foram desde grandes inundações até ondas de calor severo.

"Os muitos eventos recordes que vimos ao longo dos últimos 12 meses não são meras casualidades estatísticas, mas sim uma consequência direta do aquecimento generalizado do nosso sistema climático. Esse aquecimento é, em grande parte, impulsionado pelo aumento constante das concentrações atmosféricas de gases de efeito estufa", disse Buontempo.

Além disso, a conjugação de temperaturas elevadas e alta umidade contribuiu para níveis elevados do chamado estresse térmico, que representa um grave risco à saúde. Em 10 de julho de 2024, o planeta atingiu um novo pico histórico desse indicador, com 44% do globo afetado por estresse térmico forte ou extremo.

Ainda que o fenômeno atmosférico El Niño tenha favorecido as temperaturas particularmente altas no primeiro semestre de 2024, os pesquisadores consideram que a alta concentração de gases-estufa foi a principal responsável para o ano de aquecimento recorde.

Os primeiros seis meses de 2024 foram de calor intenso, com cada mês registrando temperaturas globais recordes para o respectivo período. Isso acabou contribuindo para uma sequência de 13 meses de recordes mensais de temperaturas, encerrada em junho.

Ainda assim, os termômetros globais permaneceram significativamente acima da média. Em 22 de julho, foi registrado um novo recorde para o dia mais quente da série histórica: 17,16°C.

Eventos Climáticos Extremos causados pela mudança climática

Nos oceanos, o aquecimento também atingiu valores máximos na série histórica. Em 2024, a temperatura média anual da superfície do mar chegou a 20,87°C: um novo recorde que está 0,51°C acima da média de 1991 a 2020. (msn)

segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O que esperar da La Niña em 2025

O que esperar da La Niña em 2025: Eventos climáticos extremos já estão em ação.

Segundo os cálculos da NOAA, o La Niña deve continuar até o período entre fevereiro e abril/2025, com 59% de chance de persistência. Depois disso, é esperado que as condições voltem ao estado neutro, provavelmente entre março e maio/2025, com 60% de chance de transição.
La Niña chegou e esse padrão climático normalmente tem um forte impacto no clima de inverno nos EUA. Apesar de sua chegada tardia, já teve fortes impactos. Recentemente, o mundo testemunhou um ano marcado por eventos climáticos extremos, de furacões devastadores a inundações catastróficas. Ao entrarmos em 2025, a ameaça iminente de La Niña adicionou outra camada de incerteza ao quadro climático global. Meteorologistas acompanham de perto o La Niña e o El Niño porque eles influenciam os padrões climáticos globais, muitas vezes levando a eventos climáticos extremos, como secas, inundações e furacões.

Curioso para entender os impactos potenciais de La Niña globalmente e na sua área? Clique nesta galeria para saber mais.

Contexto climático

O clima da Terra é moldado por uma interação complexa de fatores, desde a influência do nosso sistema solar até a dinâmica atmosférica e os ciclos sazonais.

Forças opostas

Para aumentar a complexidade, a cada poucos anos, a Terra passa por eventos El Niño e La Niña, duas fases contrastantes do ciclo El Niño Oscilação Sul (ENOS).

Temperaturas flutuantes

Períodos de condições médias são chamados de "ENOS-Neutros". No entanto, flutuações no vento e nas temperaturas do oceano podem desencadear o El Niño ou La Niña.

Quanto tempo eles duram?

Esses ciclos geralmente duram entre dois e sete anos, com eventos individuais de El Niño e La Niña durando de nove a 12 meses, embora possam persistir por vários anos.

O que causa esses eventos?

O formato esférico da Terra causa aquecimento solar desigual. O Equador, diretamente voltado para o Sol, recebe luz solar mais intensa do que os polos, que são angulados para longe.

Moldando as condições climáticas

Assim como o vapor sobe de uma panela fervendo, a luz solar direta no Equador aquece o ar e a umidade, fazendo com que eles subam para a atmosfera. À medida que esse ar quente e úmido sobe, ele esfria e condensa, formando nuvens e contribuindo para as florestas tropicais exuberantes localizadas na área.

Ciclo contínuo

O ar quente continua a subir no Equador, empurrando o ar mais frio em direção aos polos. Esse ar mais frio então afunda e flui de volta em direção ao Equador, completando o ciclo da Célula de Hadley.

Influência dos ventos

A rotação da Terra desvia os ventos de superfície criados pelas Células de Hadley em direção ao Equador, um fenômeno conhecido como Efeito Coriolis. Esse efeito forma os ventos alísios em ambos os lados do Equador, e mudanças nesses ventos sinalizam o início dos eventos El Niño e La Niña.

Pressão do ar

O impacto do ciclo El Niño Oscilação Sul (ENOS) no clima da Terra é antigo, provado em registros paleoclimáticos. Embora documentado desde os anos 1500, seus mecanismos só foram compreendidos no século XX, quando um estudo das monções indianas levou à descoberta da Oscilação Sul. Esse padrão recorrente de gangorra da pressão do ar no Oceano Pacífico tropical é um componente-chave do ENOS.

Circulação de ar

Diferentemente das Células de Hadley, que circulam o ar para o Norte e para o Sul, essa oscilação — conhecida como Circulação de Walker — move o ar para o Leste e Oeste através do Pacífico equatorial. Impulsionado pelos ventos alísios e pela temperatura do oceano, esse padrão de circulação desempenha um papel crucial na formação dos padrões climáticos globais.

El Niño x La Niña

A cada poucos anos, flutuações nas temperaturas do Oceano Pacífico e ventos alísios sinalizam uma mudança na Circulação Walker. Essas mudanças, conhecidas como eventos El Niño e La Niña, podem perturbar os padrões climáticos e ecossistemas globais. Mas o que acontece durante cada um desses eventos?

El Niño

El Niño, a fase quente do ENOS, apresenta temperaturas do Oceano Pacífico mais quentes do que a média. Isso interrompe os padrões climáticos normais, levando a secas na Ásia e tempestades intensas nas Américas. Rios atmosféricos, faixas longas e estreitas de umidade no céu, podem trazer chuvas pesadas e inundações para regiões costeiras.

El Niño

Os efeitos do El Niño variam regionalmente, frequentemente revertendo padrões climáticos normais. Áreas como o Leste Asiático e a Amazônia, tipicamente úmidas, sofrem seca durante o El Niño. Por outro lado, regiões geralmente secas como a América do Norte Ocidental podem presenciar chuvas significativas.

Fim do El Niño 2024

Após meses de temperaturas oceânicas recordes, recifes de corais devastadores, seca intensa na Amazônia e chuvas extremas na América do Norte, um dos eventos El Niño mais fortes já registrados terminou em junho de 2024.

La Niña está vindo

Com o La Niña em ação, como os padrões climáticos globais e locais serão afetados? Como o extremo oposto de El Niño, La Niña traz seu próprio conjunto de mudanças climáticas, variando por região.

Temperaturas do mar

La Niña é caracterizada por fortes ventos alísios e temperaturas mais frias do que a média no Oceano Pacífico. Ao contrário do El Niño, que reverte as condições normais, La Niña normalmente intensifica as condições neutras na maioria das partes do mundo, com algumas exceções.

Ventos fortes

La Niña fortalece os ventos alísios de leste a oeste, empurrando as águas quentes da superfície para o oeste e permitindo que águas frias e ricas em nutrientes subam à superfície no Leste do Pacífico.

Efeitos norte-americanos

Embora o fenômeno La Niña normalmente traga invernos mais frios e úmidos ao norte da América do Norte e invernos mais quentes e secos na América do Sul, a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA) prevê uma chance de 40-50% de temperaturas acima da média no estado de Nova York neste inverno (de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025).

Atividade de furacões

A La Niña enfraquece o cisalhamento do vento, uma barreira natural à formação de furacões. Isso pode levar a uma temporada de furacões mais ativa no Atlântico, especialmente para regiões como a Flórida (EUA). As temporadas de furacões de 2020 e 2021, ambas ocorrendo durante os anos de La Niña, foram particularmente ativas.

Atividade de furacões

As temperaturas recordes da superfície do mar no Atlântico tropical contribuem ainda mais para as preocupações dos especialistas sobre uma temporada de furacões potencialmente severa.

Impacto no Hemisfério Sul

Para o Leste Asiático e Austrália, La Niña frequentemente traz aumento de chuvas. A Austrália sofreu inundações severas durante o último evento La Niña. A monção indiana também é favorecida durante La Niña, levando a chuvas acima da média. No entanto, esses efeitos podem levar alguns meses para se manifestar, especialmente no Sul da Ásia.

Impacto na África

Exceto por algumas regiões da África Ocidental que podem experimentar aumento de chuvas, La Niña tende a agravar as secas no Leste da África. Eventos recentes de La Niña levaram a secas devastadoras na região, particularmente em 2022, onde a precipitação de março a maio foi a mais baixa já registrada.

Impacto na Europa

Embora a conexão entre ENOS e Europa seja menos direta devido à distância, espera-se que La Niña traga temperaturas mais frias para a Europa central e ocidental neste inverno 2024/2025. Além disso, há previsão de precipitação reduzida para o continente, com aumento de chuvas no Norte e no Sul.

Preparação

À medida que fazemos a transição do El Niño para uma fase potencialmente intensa de La Niña em 2025, muitas regiões, especialmente na América do Norte, enfrentarão desafios significativos. Indústrias como agricultura, energia e gestão de desastres, fortemente dependentes de padrões climáticos estáveis, precisarão se adaptar às mudanças nas condições climáticas.

Agricultura

Os agricultores devem monitorar de perto as mudanças nos padrões de precipitação, pois a mudança de El Niño para La Niña pode impactar significativamente as condições de cultivo. Regiões que experimentaram condições úmidas em 2024 podem enfrentar condições semelhantes à seca se La Niña retornar no final de 2025.

Energia

As empresas de energia devem se preparar para o aumento da demanda por aquecimento durante os invernos mais frios de La Niña. Além disso, as condições de seca em certas regiões podem impactar a geração de energia hidrelétrica e renovável, potencialmente levando a quedas de energia.

Gestão de desastres

Dado o risco aumentado de furacões e outras condições extremas durante La Niña, 2025 pode ser um ano desafiador para a preparação para desastres. Governos e comunidades devem permanecer vigilantes e prontos para responder a potenciais desastres.

La Niña e as alterações climáticas

Embora o impacto exato do aquecimento global no ciclo ENOS permaneça incerto, os cientistas preveem que ele provavelmente será amplificado. A história recente mostra que os eventos El Niño e La Niña estão se tornando mais fortes e frequentes, levando a climas mais extremos, como secas, inundações, ondas de calor, incêndios florestais e tempestades severas.

La Niña e as alterações climáticas

O recente evento La Niña de 2020-2023 demonstra como o aquecimento global está amplificando os efeitos do ciclo ENOS. Temperaturas globais recordes desde o verão de 2023, impulsionadas principalmente pelo calor recorde do oceano, e o incumprimento em 2024 do limite de aquecimento global de 1,5°C levantam preocupações sobre o impacto potencial do próximo evento La Niña. (msn)

sábado, 25 de janeiro de 2025

Temperatura da Terra supera novo recorde e alerta sobre rapidez da crise climática

A Terra registrou seu ano mais quente em 2024, com aumento de temperatura tão significativo que o planeta temporariamente superou um importante limiar climático, anunciaram em 10/01/25 várias agências de monitoramento meteorológico.

A temperatura média global do ano passado superou facilmente o recorde de calor de 2023 e continuou a aumentar ainda mais. Ultrapassou o limite de aquecimento de longo prazo de 1,5ºC desde o fim do século 19 (quando começou a Revolução Industrial), que foi estabelecido no Acordo de Paris de 2015, conforme o Serviço de Mudança Climática Copernicus da Comissão Europeia, o Met Office do Reino Unido e a agência meteorológica do Japão.
Região de Los Angeles, na Califórnia, tem sofrido com o agravamento das queimadas nos últimos dias.

A equipe europeia calculou aquecimento de 1,6ºC (2,89ºF). O Japão encontrou 1,57ºC (2,83ºF), e os britânicos 1,53ºC (2,75ºF).

As equipes de monitoramento dos Estados Unidos — a NASA, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica e a Berkeley Earth, uma instituição privada — devem publicar seus números mais tarde, mas todos provavelmente mostrarão um recorde de calor para 2024, indicaram cientistas europeus. Os seis grupos compensam de diferentes maneiras as lacunas de dados nas observações — que remontam a 1850 —, portanto os números variam ligeiramente.

“A principal razão para essas temperaturas recordes é o acúmulo de gases de efeito estufa na atmosfera” pela queima de carvão, petróleo e gás, disse Samantha Burgess, líder estratégica de clima em Copernicus. “À medida que os gases de efeito estufas continuam se acumulando na atmosfera, as temperaturas continuam aumentando, incluindo no oceano, os níveis do mar continuam subindo, e as geleiras e camadas de gelo continuam derretendo”.

O ano passado eclipsou a temperatura de 2023 na base de dados europeia em 1/8 de grau Celsius. Isso é um salto incomumente grande; antes dos últimos dois anos estão superquentes, os recordes de temperatura global só eram superados por centésimos de grau, observaram os cientistas.

Os últimos 10 anos são os dez mais quentes já registrados, e provavelmente os mais quentes em 125 mil anos, observou Burgess.

10/07/2024 foi o dia mais quente já registrado pelos seres humanos, com média global de 17,16º C (62,89º F), encontrou Copernicus.

De longe, o maior contribuidor para o aquecimento recorde é a queima de combustíveis fósseis, disseram vários cientistas. Um aquecimento natural temporário do fenômeno El Niño no Oceano Pacífico Central adicionou uma pequena quantidade, e uma erupção vulcânica submarina em 2022 acabou esfriando a atmosfera porque colocou mais partículas refletoras nela, assim como vapor de água, indicou Burgess.

Temperatura da Terra supera novo recorde e gera alerta sobre rapidez da crise climática

As sirenes de alarme estão tocando

“Esta é uma luz de advertência que se acende no painel da Terra de que é necessária atenção imediata”, afirmou Marshall Shepherd, professor de Meteorologia da Universidade da Geórgia (EUA). “O furacão Helene, as inundações na Espanha e a mudança abrupta do clima que alimenta os incêndios florestais na Califórnia são sintomas dessa infeliz mudança na caixa de transmissão climática. Ainda temos algumas mudanças de velocidade a percorrer”.

“As sirenes de alarme relacionadas às mudanças climáticas têm tocado quase constantemente, o que pode estar causando que o público se torne insensível à urgência, como as sirenes de polícia na cidade de Nova York”, disse Jennifer Francis, cientista do Woodwell Climate Research Center. “No entanto, no caso do clima, os alarmes estão soando mais alto, e as emergências agora vão muito além de apenas a temperatura”.

O mundo sofreu perdas de US$ 140 bilhões por desastres relacionados ao clima no ano passado — o terceiro mais alto já registrado —, e a América do Norte foi especialmente afetada, segundo relatório da empresa de seguros Munich Re.

“A aceleração do aumento da temperatura global significa mais danos à propriedade e impactos na saúde humana e nos ecossistemas dos quais dependemos”, apontou Kathy Jacobs, cientista da água na Universidade do Arizona.

2024 supera 1,5°C de aquecimento da Terra

O mundo supera um limiar importante

Esta é a primeira vez que qualquer ano superou o limiar de 1,5º, exceto por uma medição da Berkeley Earth em 2023, que foi originalmente financiada por filantropos céticos das mudanças climáticas.

Os cientistas foram rápidos em apontar que a meta de 1,5º é para o aquecimento de longo prazo, agora definido como uma média de 20 anos. O aquecimento de longo prazo desde os tempos pré-industriais está agora em 1,3ºC (2,3ºF).

“O limiar de 1,5º C não é apenas um número, é um sinal de alerta. Superá-lo mesmo por um único ano mostra o quão perigosamente próximos estamos de exceder os limites estabelecidos pelo Acordo de Paris”, disse Victor Gensini, cientista climático da Universidade do Norte de Illinois (EUA).

Um estudo abrangente das Nações Unidas em 2018 descobriu que manter o aumento da temperatura da Terra abaixo de 1,5ºC poderia salvar os recifes de coral da extinção, deter a perda massiva de camadas de gelo na Antártida e prevenir a morte e o sofrimento de muitas pessoas.

ONU alerta para risco de temperatura subir 3°C até o fim do século

Francis chamou o limiar de “fracasso”.

Burgess considerou extremamente provável que a Terra supere o limiar de 1,5º, mas destacou que o Acordo de Paris é “uma política internacional extraordinariamente importante” com a qual as nações de todo o mundo devem continuar comprometidas.

É provável que haja mais aquecimento

Os cálculos europeus e britânicos consideram que, com um La Niña que gera resfriamento em vez de El Niño que causou aquecimento no ano passado, 2025 provavelmente não será tão quente quanto 2024. Preveem que será o 3º ano mais quente. No entanto, os primeiros seis dias de janeiro — apesar das temperaturas frias no leste dos Estados Unidos — tiveram temperatura média ligeiramente mais quente, e são o início de ano mais quente já registrado, segundo dados do Copernicus.

2024 supera 1,5°C de aquecimento da Terra e acende alerta climático

Os cientistas estão divididos sobre se o aquecimento global está acelerando.

Não há dados suficientes para ver uma aceleração no aquecimento atmosférico, mas o conteúdo de calor dos oceanos parece não apenas estar aumentando, mas subindo a um ritmo mais rápido, disse Carlo Buontempo, diretor do Copernicus.

“Estamos enfrentando um clima muito novo e desafios climáticos para os quais nossa sociedade não está preparada”, apontou Buontempo.

Tudo isso é como assistir ao final de “um filme de ficção científica distópica”, observou Michael Mann, cientista climático da Universidade da Pensilvânia. “Agora estamos colhendo o que plantamos”. (msn)

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