Como a arquitetura solar pode
melhorar o conforto térmico das edificações?
A arquitetura solar pode
melhorar o conforto térmico em edifícios em tempos de calor extremo através do
uso de painéis fotovoltaicos, tintas refletivas e elementos como brises
solares.
Painéis fotovoltaicos
Reduzem a absorção de calor
do telhado, criando uma camada extra que bloqueia parte da radiação solar
Vidros fotovoltaicos
semitransparentes reduzem a entrada de calor e filtram a passagem de luz
natural
Tintas refletivas
Refletem mais luz solar do
que as tintas comuns, reduzindo a quantidade de calor que é absorvido pela
edificação
Brises solares e toldos
Controlam a quantidade de luz
solar direta que atinge o interior dos edifícios
Cores claras
Refletem uma maior quantidade
de luz solar e calor, ajudando a reduzir a absorção de energia térmica pelo
edifício
Orientação solar
A compreensão cuidadosa da
orientação solar permite que arquitetos e designers criem espaços que sejam
visualmente atraentes, confortáveis e energeticamente eficientes
Arquitetura bioclimática
Adapta-se às características
de cada local, desde as regiões quentes e úmidas da Amazônia até as áreas mais
frias do sul.
Se tem uma coisa que todo
mundo está sentindo na pele ultimamente é o calor. Ondas de calor estão cada
vez mais frequentes e a sensação térmica em muitas cidades bate recordes
históricos. O ar-condicionado, que já foi luxo, virou item de sobrevivência.
Mas e se existisse uma maneira de aliviar esse calor sem depender tanto de
eletricidade cara e de um consumo energético insustentável?
É aqui que entra a energia
solar, mais especificamente, a arquitetura solar BIPV (Building-Integrated
Photovoltaics), ou, em bom português, Energia Solar Fotovoltaica Integrada à
Edificação. Além de gerar energia limpa, essa tecnologia pode contribuir – e
muito – para o conforto térmico das construções. Vamos entender melhor como
isso funciona e por que pode ser uma solução interessante para o futuro das
cidades.
O que é o BIPV e como ele
funciona em relação ao calor?
Conceito do BIPV é simples:
em vez de instalar módulos solares apenas sobre telhados e lajes usando
estruturas adicionais, o sistema fotovoltaico é integrado diretamente à
construção, seja como revestimentos de fachadas e coberturas ou como elementos
sombreadores, como brises e pérgolas. Módulos solares deixam de ser apenas
fontes de energia, mas também participam da arquitetura do prédio.
A forma de fixação dos
módulos em coberturas e fachadas pode proporcionar redução da entrada de calor,
melhorando o desempenho energético do edifício. Ao invés de deixar que o sol
bata diretamente nas superfícies, os módulos funcionam como uma barreira entre
o sol e a edificação, absorvendo essa radiação e a convertendo em eletricidade.
O resultado? Menos calor entrando no ambiente e mais energia para alimentar
sistemas de refrigeração, iluminação e outros aparelhos.
Agora que sabemos o básico do
BIPV, vamos direto ao ponto: como ele pode ajudar a manter os edifícios mais
frescos em tempos de calor extremo? Aqui estão alguns exemplos:
Uso de módulos fotovoltaicos
em fachadas ventiladas para redução da absorção de calor nas fachadas
Edifícios tradicionais
costumam ser verdadeiras “esponjas térmicas”. O sol bate na fachada e o calor é
absorvido pelas paredes, que depois irradiam esse calor para dentro da
construção. Isso é especialmente problemático em grandes cidades, onde o
fenômeno das ilhas de calor urbano torna o ambiente ainda mais quente.
Com o BIPV instalado em
fachadas ventiladas, essa radiação solar é capturada pelos módulos
fotovoltaicos e parte dela é transformada em eletricidade e parte é dissipada
pelas costas dos módulos, no colchão de ar presente nas fachadas ventiladas.
Isso significa menos calor entrando e, consequentemente, um ambiente interno
mais fresco.
Uso de módulos fotovoltaicos
em brises e pérgolas que barram a irradiação indesejada
A função primordial de um brise ou de um pergolado é justamente barrar uma irradiação indesejável. Se aliarmos a estrutura de brises e pergolados elementos fotovoltaicos, temos um equipamento com múltiplas funções. Eles geram energia, evitam a entrada de calor e luz excessiva, reduzem a carga térmica, reduzem a necessidade de condicionamento de ar e aumentam a eficiência energética da edificação.
Brises fotovoltaicos do Instituto Germinare em São Paulo.
Uso de módulos fotovoltaicos
como coberturas soltas, elevadas em relação à edificação
Os telhados são uma das
maiores fontes de ganho térmico em uma construção. Se o telhado esquenta
demais, o calor se transfere para dentro e os sistemas de resfriamento precisam
trabalhar dobrado.
Módulos solares instalados sobre telhados já ajudam a reduzir essa absorção de calor, pois criam uma camada extra que bloqueia parte da radiação solar, principalmente devido a camada de ar entre módulos e telhado. Mas quando esses módulos criam uma cobertura solta elevada, o efeito do sombreamento é ainda mais significativo. Esta é uma estratégia que pode ficar muito interessante esteticamente, mas é altamente recomendável contar sempre com um arquiteto para garantir o sucesso deste tipo de integração.
Cobertura fotovoltaica solta no Laboratório Fotovoltaica UFSC.
Uso de módulos
semitransparentes ou vidros fotovoltaicos para controle de entrada de luz
Outro ponto crítico em
prédios e casas são as janelas. Vidros comuns deixam a luz (e o calor) entrar
sem restrições, criando aquele efeito de estufa.
Os módulos fotovoltaicos semitransparentes e os vidros fotovoltaicos do BIPV funcionam de maneira diferente. Além de gerar energia, eles podem reduzir a entrada de calor e filtrando a passagem de luz natural. Isso significa redução dos ganhos térmicos, menor necessidade de ar-condicionado durante o dia e um ambiente mais agradável, tanto em projetos residenciais quanto comerciais.
Módulo semitransparente e vidros fotovoltaicos.
Energia solar para alimentar
sistemas de resfriamento e simultaneidade
Mesmo com todas essas
estratégias para reduzir o calor, alguns dias são tão quentes que o
ar-condicionado acaba sendo indispensável. A boa notícia é que o BIPV não só
ajuda a diminuir o ganho térmico, como também gera energia para alimentar esses
sistemas de resfriamento.
Em vez de utilizar
eletricidade da rede (que muitas vezes vem de fontes poluentes e não
renováveis), o próprio prédio pode produzir sua própria energia para manter o
ambiente fresco. Isso representa economia na conta de luz e um impacto
ambiental muito menor.
Além disso, a coincidência
temporal entre a maior necessidade de ar-condicionado e a geração energética é
extremamente favorável diante da regulamentação da ANEEL para sistemas de
geração distribuída. A energia gerada será utilizada de forma instantânea, não
acarretando cobrança de tarifa para compensação energética.
BIPV e a sustentabilidade
urbana
Além de melhorar o conforto
térmico, o BIPV tem um papel fundamental na sustentabilidade das cidades. Com o
crescimento populacional e a urbanização acelerada, os centros urbanos estão
sofrendo cada vez mais com o calor, ao passo que a demanda por energia elétrica
só aumenta.
Integrar a geração de energia
diretamente nas construções reduz a necessidade de grandes usinas e redes de
transmissão sobrecarregadas. Pela simultaneidade entre geração e consumo, evita
picos de consumo na rede. Além disso, diminui as emissões de carbono associadas
ao uso de eletricidade, contribuindo com a transição energética.
Vale ressaltar que o BIPV pode ser aplicado tanto em novas construções quanto em retrofit de edifícios antigos, tornando-se uma solução viável para qualquer tipo de projeto. Aliás, não faz mais sentido projetar novas edificações que não gerem sua própria energia.
Reciclagem do lixo, consumo consciente, reaproveitamento de materiais e recursos naturais são algumas das ações amigas da natureza. Porém, é possível ir muito mais além com a ajuda da arquitetura sustentável.
Desafios e futuro do BIPV
Claro, como toda tecnologia
emergente, o BIPV ainda enfrenta desafios. O custo inicial pode ser mais alto
do que o de módulos solares convencionais, e a implementação requer
planejamento específico para cada projeto. Além disso, a disseminação dessa
tecnologia se daria de forma muito mais acelerada se houvesse incentivos
governamentais e políticas públicas favoráveis.
Mas a boa notícia é que os
avanços tecnológicos estão tornando os materiais mais acessíveis e eficientes.
Empresas ao redor do mundo já estão investindo pesado nessa área, e à medida
que a demanda cresce, os preços devem cair. Além disso, empresas nacionais,
como a Garantia Solar BIPV, Eternit, Sengi, entre outras, já estão
nacionalizando produtos exclusivamente para este nicho de mercado.
A tendência é que os
edifícios sejam projetados já levando em conta a integração dos sistemas
fotovoltaicos, e o BIPV se torne um padrão na construção civil sustentável.
Conclusão: o BIPV como
solução para as ondas de calor
Diante das ondas de calor
cada vez mais intensas e frequentes, buscar soluções inovadoras para manter os
edifícios frescos e sustentáveis é essencial. O BIPV surge como uma alternativa
poderosa, unindo eficiência energética, conforto térmico e sustentabilidade.
Ao reduzir a absorção de
calor, melhorar o isolamento dos telhados, controlar a entrada de luz e gerar
eletricidade limpa, essa tecnologia pode transformar como projetamos e vivemos
nas cidades.
Para projetos de Arquitetura Solar BIPV com eficiência e qualidade, entre em contato (clarissa@arquitetandoenergiasolar.com.br). Juntos podemos transformar ideias em projetos sustentáveis e inovadores.
Arquiteta Clarissa Zomer é doutora em Engenharia Civil, especialista em sistemas fotovoltaicos integrados à arquitetura. (pv-magazine-brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário