É possível transformar gases
de efeito estufa em combustíveis sustentáveis através de um processo chamado
hidrogenação do dióxido de carbono (CO2).
Como funciona
O processo de hidrogenação do
CO2 transforma o CO2 em combustíveis sustentáveis, como o
metanol.
O metanol pode ser usado como
uma solução verde para o transporte marítimo e a aviação.
A hidrogenação do CO2
pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa, principalmente quando se
usa energia renovável para impulsionar o processo.
Desafios e perspectivas
O custo dos catalisadores é
um grande obstáculo.
As partículas catalíticas se
agrupam com o tempo, reduzindo sua área de superfície e tornando-se menos
eficazes.
Ainda há dificuldade em entender as reações em nível molecular.
Gás de efeito estufa pode dar origem a combustíveis sustentáveis
Cientistas mapeiam os
desafios e avanços da hidrogenação do CO₂, processo que pode converter a
poluição em combustível e ajudar a combater a crise climática.
Transformar poluição em
combustível é o que se pretende com um processo denominado hidrogenação do
dióxido de carbono (CO2), que transforma o CO2 – um dos
principais gases de efeito estufa – em produtos químicos e combustíveis
renováveis. Um dos produtos mais importantes é o metanol, um composto versátil
utilizado em tudo, desde plásticos até combustíveis.
Também é possível produzir
outros compostos: como o metano, que pode ser injetado diretamente em gasodutos
de gás natural, além de hidrocarbonetos de cadeias maiores, que podem ser
usados como gasolina ou combustível de aviação. Isso abre a possibilidade de
criar os chamados e-combustíveis, alternativas sustentáveis aos combustíveis
fósseis tradicionais.
Um consórcio internacional que contou com a participação de Liane Rossi, diretora do Programa Captura e Conversão de Carbono (CCU) do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI) e docente do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), apresenta um panorama sobre o assunto em artigo publicado na revista Science.
Na rota do hidrogênio sustentável
Brasil inicia a produção do
combustível, estratégico para a transição rumo a uma economia de baixo carbono.
O RCGI é um Centro de
Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), atualmente apoiado por
diversas empresas.
“Precisamos repensar nossa
relação com o dióxido de carbono”, defende Robert Wojcieszak, pesquisador
sênior do Centre National de la Recherche Scientifique [França] e um dos
autores do artigo. “Em vez de vê-lo como um resíduo, podemos capturar o CO2
de fontes industriais ou até mesmo diretamente do ar e usá-lo como um valioso
bloco de construção de carbono”.
A superfície das partículas catalíticas captura as moléculas de CO2 e hidrogênio, enfraquecendo as ligações fortes que as mantêm unidas. Isso permite que os átomos se reorganizem e formem novas ligações, criando os produtos desejados. Os cientistas estão constantemente trabalhando para desenvolver catalisadores melhores.
O artigo analisou o metanol como solução verde para aviação e transporte marítimo. Desde a década de 1940, usa-se o catalisador CuZnAl (CZA) para produzir metanol. Ele se tornou o padrão da indústria porque é eficiente. No entanto, “ao usar o CZA, o processo catalítico tem uma peculiaridade: ele prefere uma reação diferente em vez de converter diretamente o CO2 em metanol. Isso significa que ele não usa o CO2 de maneira tão eficiente quanto gostaríamos", explica Andrew Beale, professor do University College London (Reino Unido) e coautor do artigo.
Outro problema do CZA é a
agregação. Com o tempo, as partículas catalíticas se agrupam, reduzindo sua
área de superfície e tornando-se menos eficazes. Nikolaos Dimitratos, professor
da Universidade de Bolonha (Itália), acrescenta: “Os catalisadores que
inicialmente são mais ativos [e geralmente contêm mais cobre] também são os que
se agregam mais rapidamente”.
Assim, embora o CZA seja um ótimo catalisador, seu desempenho diminui ao longo do tempo. Os cientistas estão buscando catalisadores ainda melhores, que possam usar o CO2 de forma mais eficiente e que durem mais. A hidrogenação do CO2 pode fornecer e-combustíveis limpos para setores difíceis de eletrificar diretamente, como a aviação e o transporte marítimo.
Novos catalisadores
O artigo destaca que
cientistas estão explorando novas formulações para catalisadores e aqueles à
base de óxido de índio estão mostrando grande potencial. Pesquisas recentes
indicam que mais de 85% desses novos catalisadores podem converter CO2
em metanol com mais de 50% de eficiência.
“A boa notícia é que a
produção de metanol está melhorando cada vez mais”, afirma Jingyun Je,
professor da Duquesne University (Estados Unidos). O catalisador mais visado
atualmente é composto por cobre, óxido de zinco, óxido de manganês e um suporte
especial chamado KIT-6. Esse catalisador pode operar a uma temperatura
relativamente baixa (180°C) e transformar o CO2 em metanol com alta
eficiência.
No entanto, como explica
Rossi, “o objetivo final vai além de apenas produzir metanol, trata-se de
construir um futuro sustentável alimentado por muitos produtos derivados do CO2.
A chave está no desenvolvimento de catalisadores inovadores. Avançando na
hidrogenação do CO2, podemos reduzir as emissões de gases de efeito
estufa, especialmente quando usamos energia renovável para impulsionar o
processo”.
Isso não significa que seja uma solução mágica. Existem desafios e compensações a considerar. Seja a origem do CO2 de uma fábrica ou capturado diretamente do ar, a tecnologia utilizada para convertê-lo e a aplicação final do produto como combustível podem impactar significativamente a pegada ambiental geral.
Bicicletas elétricas híbridas movidas a hidrogênio no campus da UFRJ
Perspectivas
Cientistas detalham os
principais fatores que influenciam a atividade de catalisadores heterogêneos na
hidrogenação do CO2 para metanol. Eles destacam diferentes
estratégias para aumentar a estabilidade dos catalisadores e melhorar suas
propriedades de hidrogenação, reunindo os avanços mais significativos dos
últimos cinco anos e os desafios para o desenvolvimento de formulações mais
eficientes. Aspectos históricos e mecanísticos da hidrogenação do CO2
também são discutidos.
Alternativas, como
catalisadores de paládio-índio, estão sendo estudadas, mas o custo ainda é um
grande obstáculo. Apesar desses desafios, os avanços no design de catalisadores
e nas técnicas de análise de materiais estão abrindo caminho para um futuro
energético mais limpo, impulsionado pela hidrogenação do CO2.
“Ainda temos dificuldade em entender as reações em nível molecular, e os mecanismos de desativação dos catalisadores, como sinterização, envenenamento e formação de coque, não são bem compreendidos”, conclui Wojcieszak.
Entretanto, os cientistas acreditam que avanços futuros são possíveis. O aumento do poder de computação, especialmente com inteligência artificial e computação quântica, combinado com grandes volumes de dados permitirão simulações mais precisas e um melhor entendimento do comportamento dos catalisadores. Ao mesmo tempo, novas técnicas de caracterização em tempo real fornecerão conhecimentos mais detalhados sobre os sítios ativos e os mecanismos de reação. (biodieselbr)
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