Do “milagre econômico” ao
modelo sustentável: a transformação demográfica que permitiu ao país conciliar
crescimento econômico com redução de impacto ambiental
Enquanto população
economicamente ativa caiu de 80,2 para 65,2 milhões desde 1994, renda per
capita subiu para US$ 46,4 mil e pegada ecológica diminuiu 30% – desafiando
teorias sobre “crise demográfica”.
A nação do Sol Nascente foi
derrotada na Segunda Guerra e se tornou o único país do mundo a sofrer o ataque
de duas bombas atômicas. A bomba sobre Hiroshima foi lançada em 06 de agosto de
1945 (com 140 mil mortos) e a bomba sobre Nagasaki foi lançada em 09 de agosto
de 1945 (com 74 mil mortes).
Em 2025 completam-se
exatamente 80 anos desde os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki. Esses
eventos marcaram o fim da Segunda Guerra Mundial e tiveram impactos profundos
na história, na ciência e na ética global. O Japão saiu destroçado da Segunda
Guerra, mas conseguiu uma grande recuperação nos últimos 80 anos.
A população japonesa era de
86,4 milhões de habitantes em 1950 e cresceu até o pico de 128,2 milhões de
habitantes em 2009. A queda da taxa de fecundidade começou logo após o fim da
guerra e, nas décadas de 1950 a 1980, o Japão pode contar com uma janela de
oportunidade demográfica que foi fundamental para o “milagre econômico” do
país, para a eliminação da pobreza e para transforma do país em uma potência
econômica global.
Com o avanço da transição
demográfica, o Japão tornou-se o pais com a estrutura etária mais envelhecida
do mundo. A idade mediana da população japonesa era de 21,3 anos em 1950,
passou para 40,8 anos no ano 2000 e chegou a 50 anos em 2025. Ou seja, metade
da população japonesa tem mais de 50 anos em 2025, com uma expectativa de vida
ao nascer de 85 anos.
Embora o Japão já apresente decrescimento da população, a renda per capita, em preços constantes, em poder de paridade de compra (ppp), tem crescido nas duas últimas décadas. A renda per capita japonesa era de US$ 24,2 mil em 1980, subiu para US$ 39,6 mil em 2009, chegou a US$ 46,4 mil em 2024 e deve alcançar US$ 50 mil em 2030, segundo as projeções do relatório WEO, de abril de 2025, do FMI.
Pedestres aguardam a abertura do sinal de trânsito em uma esquina de Tóquio. O país vem apresentando um decrescimento populacional desde 2010.
Mundo caminha para o decrescimento
populacional, mas isso não basta
Mais de 30 anos após a
Conferência de População do Cairo, necessidade de sincronizar as agendas
econômica, demográfica e ecológica torna-se cada vez mais urgente.
Na segunda metade do século
XX houve crescimento da população japonesa e um crescimento muito maior da
economia. O Japão que se encontrava em uma situação econômica e social
dramática após o fim da Segunda Guerra se recuperou e avançou no sentido de se
tornar uma potência econômica, fazendo parte do ranking dos cinco países com
maior Produto Interno Bruto (PIB).
Mas o sucesso econômico do
Japão teve um custo ambiental muito grande, com o desenvolvimento aumentando
continuamente a sobrecarga antrópica, enquanto os ecossistemas diminuíam a
capacidade de fornecer, de maneira sustentável, os insumos para satisfazer as
demandas humanas. Em outras palavras, a Pegada Ecológica superou em muito a
Biocapacidade do Japão.
A Pegada Ecológica é
utilizada para avaliar o impacto que o ser humano exerce sobre a biosfera e a Biocapacidade
busca avaliar o montante de terra e água, biologicamente produtivo, capaz de
prover bens e serviços do ecossistema à demanda humana por consumo, sendo
equivalente à capacidade regenerativa da natureza.
A rede Global Footprint
Network apresenta estas duas medidas úteis para se avaliar o impacto humano
sobre o meio ambiente e a disponibilidade de “capital natural”. Se a Pegada
ecológica (a quantidade de recursos consumidos e resíduos produzidos) exceder
permanentemente a Biocapacidade, isso pode levar à degradação ambiental, à
diminuição dos recursos naturais e à completa perturbação do equilíbrio
ecológico e climático, retrocedendo as conquistas sociais.
O gráfico abaixo, apresenta
os dados da Pegada Ecológica e da Biocapacidade do Japão de 1961 a 2022, com
projeções até 2024. A Biocapacidade ficou aproximadamente estável no período,
com 77 milhões de hectares globais (gha). A Pegada Ecológica era de 262 milhões
de gha em 1961, atingiu o pico de 709 milhões de gha em 1996 e caiu para 495
milhões de gha em 2024. Portanto, houve redução da Pegada Ecológica japonesa
nos últimos 30 anos.
O gráfico abaixo também mostra a curva da população japonesa em idade ativa (15-59 anos). Nota-se que a população de 15-59 anos era de 60,1 milhões de pessoas em 1991, atingiu o pico de 80,2 milhões de pessoas em 1994 e diminuiu para 65,2 milhões de pessoas em 2024. Não por coincidência, a redução da Pegada Ecológica ocorre conjuntamente com a diminuição da quantidade de pessoas da população econômica. As emissões de carbono atingiram um pico em 2007 e já estão caindo desde então.
O fato é que a transição demográfica, a transição energética e os avanços tecnológicos no sistema produtivo garantiram a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e diminuíram a Pegada Ecológica do Japão.
O decrescimento populacional
do Japão está ocorrendo concomitantemente ao aumento da renda per capita, com
aumento do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), redução da poluição de GEE e
diminuição da Pegada Ecológica.
Desta forma, ao invés de se
preocupar com o alarmismo de uma possível “crise demográfica” o Japão tem
conseguido avançar com prosperidade social e ambiental. Isto só foi possível a
partir da redução das atividades antrópicas do país. (ecodebate)
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