Aquecimento no Ártico é relacionado a aumento da temperatura das águas.
O Ártico perdeu uma área equivalente a pelo menos seis Estados de São Paulo de gelo marinho entre 1979 e 2009. Para um grupo de cientistas, o aquecimento na região e o derretimento do gelo devem estar relacionados ao aumento da temperatura na água que flui do Atlântico Norte para o Oceano Ártico - a mais alta em pelo menos 2 mil anos.
No mar. Navio de pesquisa alemão passa por gelo marinho na região do Estreito de Fram
O estudo foi publicado na revista Science e liderado por Robert Spielhagen, do Instituto de Ciências Marinhas Leibniz, na Alemanha. Ele admitiu ao Estado temer que seus filhos, de 14 e 17 anos, presenciarão verões sem nenhum gelo marinho no Ártico. "Isso vai depender dos esforços que a humanidade fará para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Se não pararmos esse processo logo, os verões na região podem não ter gelo marinho em algo entre 30 e 50 anos, de acordo com previsões de modelos climáticos", disse.
Como os dados meteorológicos da região analisada, o Estreito de Fram, são dos últimos 150 anos, seu grupo perfurou e retirou sedimentos do oceano que datam de até 2 mil anos. Foram utilizados como termômetros protozoários microscópicos chamados de foraminíferos. "Eles são indicadores sensíveis da temperatura da água do oceano em que viveram. Além disso, são numerosos, o que nos permite fazer uma análise estatística segura", explicou Morten Hald, um dos coautores do trabalho, ligado à Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Tromsoe, na Noruega.
A temperatura da água que corre entre a Groenlândia e Svalbard (arquipélago que pertence à Noruega) aumentou cerca de 0,7°C no século passado. "Tal aquecimento das águas do Atlântico no Estreito de Fram é significativamente diferente de todas as variações climáticas nos últimos 2 mil anos", afirmou Spielhagen.
Para Hald, é uma consequência do aquecimento global e também um exemplo da chamada “amplificação polar”. “As regiões polares aquecem cerca de duas vezes mais que a média do planeta” diz.
Impactos
Parte do gelo marinho derrete durante o verão setentrional e a água congela depois. Mas, com o aquecimento global, a porção que derrete é cada vez maior, e a que volta a congelar, cada vez menor. De acordo com os pesquisadores, os impactos do que ocorre no Ártico podem ter implicações globais, como o aumento do nível do mar com o degelo de glaciares - o que provocaria inundações em regiões costeiras – e um aumento das temperaturas atmosféricas.
O País também pode ser atingido. "O Brasil parece muito distante do Ártico. Mas muitos fenômenos climáticos podem ter consequências de longo alcance", disse o autor principal. "Pode afetar o Brasil com alterações nas posições de zonas climáticas secas e úmidas. E o aumento do nível do mar é um fenômeno mundial e atingirá todas as áreas baixas, incluindo o delta do Amazonas", complementa.
O derretimento do gelo marinho é um grave problema para os ursos polares - que se deslocam entre a terra e icebergs para caçar focas e precisam nadar cada vez mais longe para encontrar superfícies onde podem parar.
Segundo a BBC, zoólogos americanos acompanharam recentemente um animal da espécie ameaçada de extinção no entorno do Mar de Beaufort, no norte do Alasca, e observaram que ele teve de nadar continuamente por nove dias, percorrendo 687 quilômetros, em busca de gelo.
Navegação
Por outro lado, o encolhimento do gelo marinho pode interessar ao comércio mundial. Ele tem provocado a abertura de passagens antes intransponíveis. Uma das que foram abertas no verão de 2010, por exemplo, foi a Passagem Noroeste, almejada rota marítima entre Europa e Ásia.
Função
O gelo marinho ajuda a esfriar o planeta ao refletir a luz do Sol de volta para o espaço. E, ao formar uma manta isolante sobre o oceano, permite que as temperaturas atmosféricas sejam muito frias.
O gelo marinho ajuda a esfriar o planeta ao refletir a luz do Sol de volta para o espaço. E, ao formar uma manta isolante sobre o oceano, permite que as temperaturas atmosféricas sejam muito frias.
Na opinião do glaciologista brasileiro Jeffeson Cardia Simões, que não participou do projeto, o estudo é relevante. “Ao redor da Islândia ocorrem importantes trocas de energia entre a circulação profunda do oceano e a superfície do planeta. Ou seja, as mudanças que lá ocorrem são transmitidas para o resto do planeta pela circulação oceânica”, afirma Simões.
Derretimento no Ártico
1) Entre 1979 e 2009, a perda total de gelo marinho no Ártico foi maior que a área do Estado do Alasca, ou cerca de seis vezes o Estado de São Paulo. Em dezembro de 2010, a extensão média do gelo marinho foi a mais baixa para este mês desde que começaram as medições.
2) Cientistas mostram que a água do Oceano Atlântico que entra no Oceano Ártico é a mais quente dos últimos 2.000 anos e está provavelmente relacionada ao aquecimento do Ártico e ao derretimento do gelo marinho na região. (OESP)
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