A população do mundo
cabe na cidade de São Paulo?
Os autodenominados
céticos do clima – aquelas pessoas que acham que não existe aquecimento global
e que os ambientalistas são, simplesmente, falsos profetas com visões
apocalípticas – vivem dizendo que existe muito espaço no mundo e argumentam que
esta história de problema de população é invenção dos neomalthusianos malvados
que querem controlar a população e, especialmente, limitar a prole do
proletariado. Os céticos do clima costumam dizer que toda a população mundial
caberia dentro, por exemplo, da cidade de São Paulo. Será?
Vamos então fazer as
contas. O mundo tem atualmente 7,1 bilhões de habitantes. A cidade de São Paulo
tem uma área de 1.552,986 km2 ou 1.552.986.000 m2 (um
bilhão e quinhentos e cinquenta e dois milhões e novecentos e oitenta e seis mil
m2). Fazendo a divisão, temos 4,7 pessoas por m2. Se
pusermos estas pessoas em pé, uma bem do lado da outra, como em um show de um
cantor popular ou no réveillon de Copacabana, poderíamos sim colocar toda a
população mundial, metro por metro, na área da cidade de São Paulo (inclusive
nos morros, no rio Tietê, no parque do Ibirapuera, no aeroporto de Congonhas,
na represa de Guarapiranga, etc.). Mesmo que a população mundial aumente para
14 bilhões de habitantes ainda caberia na cidade de São Paulo se todas ficassem
juntinhas (9 pessoas por m2) como no metrô, em horário de pico.
Portanto, os céticos estão certos, pois toda a população mundial caberia na
vertical, ombro a ombro, no território paulistano.
Mas daí tirar a
conclusão de que o mundo não está lotado e que tem muito espaço vazio no
Planeta é um sofisma ou brincadeira sem graça. O cálculo mostra que toda a
população mundial cabe em São Paulo se colocarmos, teoricamente, 5 pessoas em
pé em todos os metros quadrados da cidade. Mas evidentemente isto só seria
possível se houvesse uma grande terraplanagem para eliminar toda a vegetação,
as águas e os declives dos diversos terrenos. Além disto, ninguém poderia se
deitar para dormir, nem ir ao banheiro e todo mundo precisaria viver de brisa.
Ou seja, mesmo que
coubesse, seria irreal e surreal colocar toda a população mundial em São Paulo.
Primeiro porque cada pessoa precisa de uma cama para dormir, se possível um
quarto, no mínimo, poderia compartilhar um banheiro, uma cozinha, uma sala, uma
dispensa, etc. Ou seja, as pessoas precisam de moradia e toda construção ocupa
espaço. As pessoas também precisam de escola, hospitais, mercadinhos ou
supermercados, farmácias, lojas diversas, áreas de lazer, ruas, estradas, etc.
Ainda tem a energia proveniente das refinarias, do carvão, dos lagos das
hidrelétricas, dos insumos agrícolas para o biocombustível, etc.
Além disto, o
alimento da população mundial vem da agricultura, da pecuária, da pesca, do
extrativismo vegetal e tudo isto requer um espaço enorme, um território muito
superior ao ocupado pelas pessoas. Só de animais terrestres a humanidade
consome por ano 60 bilhões de criaturas sencientes que são criadas e mortas
para satisfazer o apetite humano. A agricultura precisa de muito terreno para
oferecer a ração diária para os seres humanos e para os animais que viram
comida humana.
Há ainda as áreas de
mata e de florestas que são responsáveis pela renovação do ar puro, ao fazer a
fotossíntese, transformando o gás carbônico em oxigênio, essencial para a vida.
Por fim, existem áreas que não são habitáveis como: desertos, montanhas,
pântanos, brejos, mangues, gelos, geleiras, calotas polares, etc. Portanto, não
basta considerar o espaço físico para uma população em pé, colocada lado a
lado.
O mundo tem 510
bilhões de km2 de área total, sendo 148,9 bilhões de km2
de terra e 361,1 bilhões de km2 de água. Portanto, a densidade
demográfica é de menos de um habitante por km2 no mundo, mas como
vimos, nem toda área terrestre é habitável ou pode ser usada para agricultura e
pecuária. Também devem existir áreas destinadas à preservação florestal e à
biodiversidade.
Segundo cálculos da
Footprint Network o mundo tem 12 bilhões de hectares globais de biocapacidade
para atender todo o impacto das atividades antrópicas (equivalente a 120
bilhões de km2 dos 148,9 bilhões de km2 da área terrestre
do globo). Porém, a pegada ecológica da humanidade, de 2,7 hectares globais
(gha) per capita, em 2008, já não coube nas fronteiras planetárias. Ou seja, a
população mundial – com seu consumo e suas atividades econômicas – já
ultrapassou os limites da Terra, pois a pegada ecológica per capita da
humanidade era 50% superior à biocapacidade do Planeta, em 2008.
Desta forma, mesmo
que toda a população mundial pudesse caber em pé na cidade de São Paulo, na
prática, não tem cabido nos espaços biologicamente disponíveis do planeta
Terra, quando se considera os impactos do atual modelo de produção e consumo,
excludente e poluidor. Como disse Mahatma Gandhi, na década de 1940, época em
que a população mundial era de cerca de 2 bilhões de habitantes: “A Terra tem o
suficiente para a necessidade de todos, mas não para a ganância de uns poucos”.
(EcoDebate)
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