Novo indicador sobre áreas costeiras de 171 países dá nota média 60, em
100, para a capacidade de prover serviços e manter a biodiversidade.
Pela primeira vez, avaliação considerou preservação e uso sustentável
dos mares.
Um grupo
internacional de pesquisadores aliado com algumas das principais organizações
ambientais do mundo divulgou nesta quarta-feira, 15, o primeiro indicador sobre
a saúde dos oceanos. O resultado mostrou que a capacidade de fornecer
benefícios aos seres humanos e ao mesmo tempo manter a qualidade de seus
ecossistemas é crítica e está bem aquém do que poderia ser.
Foram analisadas as
condições de dez objetivos socioecológicos dos oceanos nas zonas econômicas
exclusivas de 171 países e territórios costeiros. Com notas variando de zero a
cem, chegou-se a uma média global de 60.
O ineditismo do
trabalho foi pela primeira vez considerar não apenas a preservação dos mares,
mas seu uso sustentável. Os dados avaliados foram desde a capacidade de prover
alimentos até a de preservar sua biodiversidade, passando por poluição e uso em
turismo. A interpretação é quanto menor a nota, menos o país está sendo capaz
de aproveitar os benefícios dos oceanos ou isso está sendo feito de um modo
insustentável.
O Brasil ficou bem
na média, com 62 pontos, atingindo a 35ª colocação. Serra Leoa, em último, teve
nota 36. A mais bem colocada foi a Ilha Jarvis (território dependente dos
Estados Unidos no Pacífico), com 86 pontos, mas o local é desabitado, assim
como os Territórios Desabitados dos EUA no Pacífico, que aparecem em segundo
lugar, e a Ilha Clipperton, em terceiro. Só em quarto lugar, com iguais 73 pontos,
aparecem as primeiras nações propriamente ditas – Ilhas Seychelles e Alemanha.
Assim como ocorre
em outros indicadores globais, há uma diferença clara entre os países
desenvolvidos, com melhores notas, e os países em desenvolvimento, com as
piores. Países africanos ocupam os dez últimos lugares.
“Sem dúvida
nenhuma, os humanos têm impactos substancialmente negativos sobre o oceano, e
as pontuações são negativamente correlacionadas com as populações costeiras”,
escrevem os autores na revista Nature, que traz um artigo nesta semana
mostrando a nova metodologia e os resultados.
O trabalho mostrou
que entre os tópicos avaliados, a capacidade de prover alimentos é uma das mais
críticas, refletindo o colapso dos estoques pesqueiros que já há alguns anos é denunciado
pela comunidade científica. A nota média foi 24.
Abaixo dele, só
ficou o turismo – com nota 10 –, mas os próprios autores admitem que o dado
pode não refletir totalmente a situação dos países. O indicador foi mais
complicado de trabalhar por não existirem muitas bases de dados globais com
informações sobre turismo.
“O que esses dados
mostram é que há muito espaço para melhorar. E a vantagem é que agora o
indicador será calculado todo ano, o que vai permitir que saibamos muito
rapidamente se as ações humanas estão melhorando ou piorando as condições
desses objetivos”, explica a bióloga brasileira Cristiane Elfes, que colaborou
com o estudo no Centro Nacional de Análise Ecológica e Síntese da Universidade
da Califórnia, que liderou o trabalho.
A ideia, diz ela, é
a partir de agora aplicar a metodologia em escalas regionais para conhecer
melhor os indicadores de cada País e orientar ações mais específicas para
melhorá-los. Cristiane está liderando essa iniciativa já para o Brasil, e a
expectativa é que os dados sejam divulgados até o final do ano.
Estoque de carbono
No País, os
indicadores variaram de zero (para o turismo) a 93 (armazenamento de carbono).
O resultado ruim pode significar que o Brasil ainda não tem aproveitado bem
esse potencial turístico ou, quando o faz, é de modo insustentável. Já o dado
positivo lança um alerta para o futuro. É a análise de Guilherme Dutra, da
Conservação Internacional, uma das ONGs que coordenou o projeto.
“Essa capacidade de
armazenar carbono se deve particularmente aos enormes manguezais e gramas
marinhas presentes na costa brasileira. Eles são capazes de guardar até dez
vezes mais carbono que as florestas”, explica. “O temor é que os manguezais estão
ameaçados pela mudança do Código Florestal”, alerta. Ele se refere à
modificação que permite o uso de até 35% nas áreas remanescentes de manguezais
nos Estados, prevista na medida provisória editada pela presidente Dilma
Rousseff.
Índice de saúde dos
oceanos
Pontuação por metas
– Brasil – Média Global – Serra Leoa – Alemanha
Média - 62 – 60 –
36 – 73
Provisão de
alimentos – 36 – 24 – 21 – 26
Oportunidades de
pesca artesanal – 88 -87 -70 – 95
Produtos naturais –
29 – 40 -0 – 80
Armazenamento de
carbono – 93 – 75 – 23 – 100
Proteção costeira –
86 – 73 – 5 – 99
Subsistência e
economia – 51 – 75 – 87 – 90
Turismo e recreação
– 0 – 10 – 0 – 2
Identidade local –
81 – 55 – 37 - 75
Águas limpas - 76 –
78 – 53 – 70
Biodiversidade – 84
– 83 – 61 – 89
Extremos
5% dos países
marcaram mais de 70 pontos
32% fizeram menos
de 50 pontos (OESP)
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