ONU alerta para crise de alimentos enquanto Brasil
colhe safra recorde
Agência das Nações Unidas para Agricultura, a FAO,
já registra aumento de 6% nos preços mundiais dos alimentos por conta da seca
americana; produtor brasileiro lucra mais.
Aumento
recorde no preço das commodities agrícolas aumento risco de crise alimentar,
diz a FAO
A
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) tratou de
traduzir em números, nesta quinta-feira o que pode significar para o resto do
mundo a seca histórica que está comprometendo a safra americana de grãos. Seu
índice de preço de alimentos, que mede o preço mundial das commodities agrícolas,
subiu em julho 6%, revertendo uma tendência de queda que já durava três meses.
De acordo com a organização, se os países passarem a restringir exportações de
alimentos para manter seus estoques em níveis seguros, a tendência é de que o
mundo volte a assistir uma crise alimentar como a ocorrida em 2007/2008.
Enquanto,
isso, no Brasil, o setor agrícola comemora aquele que pode ser o melhor período
para os produtores em décadas. Além de uma safra recorde registrada este ano, a
expectativa é de que a produção de grãos cresça 2% no próximo ano – mais de 10%
no caso da Soja -, alcançando um novo patamar exatamente no momento em que as
commodities agrícolas atingem preços também recordes.
Países
africanos, como o Sudão do Sul, são os mais vulneráveis no caso de uma crise
mundial de alimentos.
A alta
foi puxada por cereais (17%), como o milho e o trigo, e pelo açúcar. A carne
caiu, mas em nível insuficiente (1,7%) para compensar a alta de outros itens da
lista de produtos básicos usada na formação da cesta.
O
índice ainda está muito abaixo do nível de 2011. Mas a alta preocupa por causa
de outras previsões. O preço dos laticínios, por exemplo, ficou estável em
junho, após cinco meses de queda. Teme-se que a alta do preço de cereais tenha
efeitos em cascata sobre outros alimentos, como as carnes de frango e suínos,
criados a base de milho e farelo de soja. No Brasil, a alta já vem sendo
sentida pelos produtores, que estimam em ao menos 50% a alta nas gôndolas.
Ao
menos por ora, a produção de arroz, outro dos principais cereais em volume de
produção no mundo, não preocupa. Houve revisão na expectativa de produção para
o ano, de 7,8 milhões de toneladas, para 724,5 milhões de toneladas, em função
de chuvas menos intensas que o habitual na Índia. E países como Camboja,
Taiwan, República Democrática popular da Coreia, República da Coreia e Nepal
também esperam colher menos.
Mas as
reservas são consideradas abundantes e a produção pode crescer em grandes
países produtores da Ásia, como China, Indonésia e Tailândia, e em alguns
países da América do Sul, como Bolívia, Colômbia, Peru e Venezuela.
Mesmo
assim, a alta nos preços das commodities agrícolas, que bateram recordes na
bolsa de Chicago, já estão levando países africanos como Mali, Niger e Costa do
Marfim, a baixarem tarifas de importação de alimentos básicos, para conter a
alta dos preços e prevenir revoltas como as registradas no país há cerca de
cinco anos, reportou o New York Times nesta semana.
Contramão
Em
meio às notícias de quebra de safra nos Estados Unidos, por causa da seca e das
temperaturas mais altas em mais de 100 anos, o Brasil comemorou nesta
quinta-feira o anúncio de mais um recorde na produção agrícola. O volume
colhido deverá superar as 165 milhões de toneladas, 2% acima do resultado do
ano passado, e permitirá que os produtores invistam para ter uma boa
produtividade na safra de verão 2012/2013. Restará contar com o clima.
Ao
sair de uma reunião com a presidente Dilma Rousseff, o ministro da Agricultura,
Mendes Ribeiro, aproveitou para bater o bumbo e disse que o PIB agrícola do
segundo trimestre surpreenderá. No primeiro trimestre, o número não foi bom. Na
avaliação de analistas de mercado, como Eadson Pereira, da Informa Economics
FNP, a queda ocorreu porque Brasil também sofreu com uma forte estiagem nos
meses do verão 2011/2012, que atingiu áreas importantes de cultivo na região
Sul do país e em partes dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
De
acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no
primeiro trimestre do ano, a queda do PIB agropecuário brasileiro foi de 8,5%
em relação ao mesmo período de 2011. “As expectativas iniciais eram de que
colhêssemos 75 milhões de toneladas de soja, mas ficamos em 66,4 milhões. Em
milho, das 38 milhões esperadas, foram colhidas 34,2 milhões”, diz Pereira.
O que
salvou a lavoura, literalmente, afirma o analista, foi a safra de milho de
inverno, que superou todas as previsões em termos de produtividade. Além de um
aumento da área plantada de 23%, ele conta que o clima ajudou e o salto na
produtividade foi de 40%, o que resultou em 8,5 milhões de toneladas acima das
30 milhões esperadas. “É algo que dificilmente se repetirá”, afirma.
Com o
preço do milho em alta, porém, a perspectiva agora é de que os produtores
cheguem capitalizados ao período de plantio da próxima safra, que começa em
setembro, e invistam mais em fertilizantes, sementes e outros itens do que no
setor é conhecido como “pacote tecnológico”.
Seca
recorde nos Estados Unidos pode fazer com que Brasil assuma liderança mundial
na produção de Soja
A seca
nos Estados Unidos abre uma janela de oportunidade para que o país se torne o
maior produtor e exportador de soja do mundo, no próximo ano, afirma Pereira,
da FNP. Mas para chegar lá o país ainda terá que driblar tradicionais problemas
de falta de infraestrutura e pessoal.
Há
mais de 50 navios de fertilizantes esperando para desembarcar nos portos de
Paranaguá e Antonina, no Paraná, e a greve de fiscais agropecuários da Receita
Federal tende a atrasar ainda mais as entregas e comprometer ao menos parte o
cronograma do plantio da safrinha e da safra de verão. (economia)
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