As águas superficiais
e subterrâneas resultam da ação de ciclos hidrológicos em bacias hidrográficas.
E bacia hidrográfica é uma expressão muito lida e escutada e, em muitos casos,
já anda dispensando a palavra hidrográfica, aparecendo como: bacia do Amazonas,
bacia do São Francisco etc. É uma unidade geográfica, pois se refere a uma
parte da superfície da terra, mas também uma unidade hidrológica, pois nela
acontecem fases importantes do ciclo hidrológico. Um aspecto fundamental,
entretanto, é o seu papel de receptora e processadora da água de chuva que
atinge a sua superfície. Sintetizando um conceito, podemos dizer que bacia
hidrográfica é uma área da superfície da terra, drenada por um determinado
curso d’água. Assim, por exemplo, toda a área de terra que conduz parte da água
de chuva recebida para formar o rio São Francisco, compõe a sua bacia
hidrográfica.
Figura 1
A Figura 1 mostra duas bacias hidrográficas vizinhas. As
linhas vermelhas estão unindo os pontos que as separam e demarcam na superfície
e que são os divisores de águas. Para melhor entendermos o conceito de divisor
de água, vamos usar o ponto 1 da Figura. Ele está sobre a linha que divide as
bacias A e B, na parte mais elevada entre as duas, de tal maneira que, ao
receber volumes de chuvas que provoquem enxurradas, por exemplo, seja capaz de
dividi-las para a esquerda ou para a direita, ou seja, para a bacia A ou B. A
figura da bacia hidrográfica está bem arraigada na legislação ambiental
brasileira, sendo que a Lei Federal 9.433, que instituiu a nossa atual política
de recursos hídricos e criou o sistema nacional para a sua implementação e
gerenciamento, a considera como unidade territorial apropriada para a sua
aplicação.
A qualificação de uma determinada superfície como bacia
hidrográfica independe do tamanho da mesma, mas de sua capacidade de manter um
curso d’água, ainda que um pequeno córrego. Aí surgem as grandes, as médias e
as pequenas bacias; há, ainda, as sub-bacias e as microbacias. A classificação
por tamanho é muito confusa, com autores diversos criando tabelas diferentes
para tal. Ninguém discute que uma bacia hidrográfica de 645.000 km2,
como a do rio São Francisco, seja uma grande bacia. Mas qual é o valor de área
que faz com que uma bacia deixe de ser grande para virar média ou pequena, ou
mesmo micro? Esta é, a meu ver, uma discussão irrelevante quando o interesse
for a produção de água, pois tudo começa naquela unidade que mantém uma
nascente e um córrego, ou seja, na pequena bacia. As médias e grandes são
compostas da união das pequenas. Os córregos vão se juntando para formar
ribeirões e rios e as respectivas pequenas bacias vão se unindo em áreas
territoriais também maiores. Se a preferência for pela ordem decrescente,
surgem as sub-bacias como unidades formadoras das médias e grandes.
Em lugar da classificação de tamanhos baseados nas áreas das
bacias hidrográficas, é preferível uma outra classificação, com fundamentos na
distribuição hierárquica dos cursos d’água que as drenam. Vejamos a
hierarquização, segundo as regras de Strahler, que diz: a) o curso d’água sem
ramificação é de 1a ordem ; b) dois cursos d’água de mesma ordem ao
se unirem formam outro de ordem imediatamente superior; c) o curso d´água de
determinada ordem mantém sua grandeza ao receber outro de ordem menor; d) A
ordem do curso d’água que deixa a bacia pode ser mantida ao longo de todo o seu
trecho. A Figura 2 mostra a aplicação de Strahler em uma bacia hidrográfica. A
bacia hidrográfica recebe a mesma ordem do curso d’água que a drena. Tudo isso
foi para dizer que, para fins de produção de água, nós consideramos pequenas
bacias aquelas de até 3a ordem, independente dos valores das áreas
drenadas.
À primeira vista, o leitor poderá imaginar que uma grande
bacia terá uma ordem elevada, mas nem tanto. O item c das regras de Strahler segura o crescimento exagerado da ordem,
pois ao atingir um determinado grau, o rio passa a receber, com mais
frequência, cursos d’água de ordens menores. A bacia hidrográfica do rio Doce,
que se desenvolve pelos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, tem 83.465 km2
de área superficial, curso principal com 853 km e é de 10a ordem (
Classificação feita por Coelho, A. L. N., conforme publicação da revista
on-line Caminhos da Geografia, v.8, n.22).
Sei que posso estar causando certa estranheza com a análise
mais detalhada da natureza geográfica e hidrológica da bacia hidrográfica, mas
não há outro jeito de entender a produção de água se não for feita uma
radiografia de qualidade de tal sistema. No próximo artigo, vamos discutir como
uma pequena bacia pode se comportar ao receber os volumes de água trazidos
pelas chuvas. Ou seja, vamos analisar as interações das fases do ciclo
hidrológico com alguns componentes físicos e biológicos da pequena bacia e como
a presença humana pode interferir em tais interações. Aguardem. (EcoDebate)
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