É compreensível que
empresas petrolíferas gastem fortunas em campanhas de desinformação sobre as
alterações climáticas. Pode não ser lá muito humano colocar investimentos em
combustíveis fósseis acima de bilhões de vidas humanas, mas ao menos é fácil
compreender sua motivação.
No entanto, tenho
dificuldade para entender o que pretendem algumas revistas e jornais que
parecem desinformar de propósito, repetidamente.
Em maio a
Veja deu duas folhas para a grande novidade que o aquecimento global não existe
porque a temperatura de dez anos atrás foi igual a de hoje, como se um sistema
complexo como o planeta tivesse a obrigação de aquecer-se por igual. Pegue o
aumento de temperatura maciço e indiscutível desde a revolução industrial e
você encontrará não um, mas vários períodos em que a temperatura foi igual a
algum momento no passado. Umas semanas antes o Daily Mail publicou o mesmo
gráfico, que a Veja cortou e colou sem ao menos citar a fonte. Na última semana
eles voltaram à carga dizendo que vincular o recente tornado de Oklahoma com
aquecimento global é um desrespeito às famílias das vítimas.
Ao contrário, as
vítimas e suas famílias tem o direito de saber se o mal que sofreram seria
evitável. Canhestramente dizer que a região sempre foi acossada por tornados é
muito raso. Quase todos problemas ambientais de hoje eram naturais no passado,
mas em menor intensidade. Erosão, extinção de espécies, queimadas, eutrofização
de águas. Não inventamos nada disto, só aprimoramos.
A realidade da
literatura sobre aquecimento global e eventos extremos é ainda dúbia no que diz
respeito a tornados. O aquecimento pode não ter efeito sobre efeito sobre eles,
como também pode, ao contrário das secas e furacões para os quais a conexão é
mais clara.
Atrás disto está a
simples vontade de vender. O público que ainda se informa através de um único
veiculo, e em papel, é cada vez mais conservador. Esta desinformação é a
miçanga e o espelho dadas aos índios em troca do ouro de sua atenção.
(EcoDebate)
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