Mudança clima trará inquietação a todo o mundo
A costa-riquenha
Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção do Clima da ONU, esteve
no Brasil na semana passada para discutir com o governo seu papel nas
negociações internacionais que tentam fechar um acordo até 2015 para reduzir as
emissões de gases-estufa. Em entrevista ao Estado, falou sobre as negociações.
Nos últimos anos, todas as conferências do clima da ONU terminam com uma
sensação de fracasso. Os países ainda não parecem estar decididos a fazer
reduções mais expressivas das emissões. Como ficar abaixo dos 2°C de aumento da
temperatura?
Muitos estudos têm
dito exatamente o mesmo: se seguirmos no passo em que estamos, não vamos ficar
em 2°C (aumento que se considera limite para evitar cenários mais
catastróficos). Vamos chegar a 3,6°C ou 4°C. Mas esse não é o final da
história. A verdade é que temos as tecnologias e o capital para mudar a
projeção atual das emissões de gases. Podemos ficar nos 2°C se houver vontade
política coletiva. Os países caminham na direção correta, mas não na velocidade
necessária. Mais recentemente, os governos têm se dado conta de que sozinhos
não vão solucionar isso e têm aberto espaço para iniciativas de todos que
possam contribuir como uma solução. Há projetos impressionantes de mitigação e
adaptação, mais ousados do que tem se logrado em nível nacional. Isso pode
formar um círculo virtuoso de abertura de espaço político para que os governos
cheguem ao acordo.
Que papel a senhora espera que o Brasil desempenhe?
Acho que o País
pode ter vários papéis. O primeiro, claro, é o de baixar suas emissões mais do
que já fez. O Brasil já fez um grande esforço, sobretudo em reverter o
desmatamento. Mas há outros setores que o Brasil tem potencial de reduzir suas
emissões. Assim como todos os outros países do mundo. Nenhum deles está baixando
todas as emissões que pode. Ao fazer esse esforço, o Brasil pode servir como
modelo para emergentes e exportar a capacidade e a tecnologia com a qual tem
baixado suas emissões. Nas negociações pode construir uma ponte entre os países
industrializados, que têm responsabilidade histórica pela alta concentração de
CO2, e os em desenvolvimento, que têm responsabilidade futura. O
Brasil está no meio desses dois universos.
A senhora chegou a Brasília bem no meio de calorosos protestos causados
em boa parte por insatisfação com o governo. Acredita que a falta de ações mais
ousadas de todos os países contra as mudanças climáticas podem acabar
provocando, um dia, este tipo de mobilização?
Acho que, se o
mundo não enfrentar a mudança climática em tempo hábil, os tipos de desafios
subjacentes à inquietação que estamos vendo no Brasil serão exacerbados em cada
país. Ao mesmo tempo, é importante notar que algumas das medidas que devem ser
tomadas para enfrentar as mudanças climáticas, como um transporte mais
sustentável também podem ajudar a melhorar a qualidade de vida, especialmente
nas grandes cidades em todo o mundo. (OESP)
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