Limitar o crescimento quantitativo para obter o
desenvolvimento qualitativo
O crescimento contínuo da atividade econômica é incompatível
com uma biosfera (conjunto de todos os ecossistemas da Terra) finita. Insistir
num crescimento físico da economia, tendo em conta que os recursos naturais são
limitados e, muitos, não renováveis, somente geram mais custos (ambientais) que
benefícios (econômicos).
A poluição do ar e dos oceanos, a extinção de espécies,
cardumes ameaçados, a perda considerável de ecossistemas, chuvas ácidas, buraco
de ozônio, esgotamento dos solos e a constante mudança climática – fatores
desencadeados em larga medida pela expansão da atividade econômica -, mostram
que os limites ecológicos convertem o crescimento econômico numa condição
antieconômica. Inequivocamente, as perdas (de capital natural) superam os
ganhos (produtivos). É a economia provocando sérios impactos sobre o equilíbrio
ecológico; é a crescente pressão da humanidade sobre os recursos naturais.
Isso enlaça a própria dinâmica da economia, tornando
necessária a imediata promoção da ruptura com a ideia central de que o
crescimento da economia (expansão física, e não só de valores) leva
espontaneamente à melhoria dos padrões de vida.
É simplista pressupor que elevada taxa de crescimento
econômico conduz a um melhoramento no modo de viver das pessoas. Essa é uma
visão míope dos benefícios do desenvolvimento, uma vez que reduz à ideia do
próprio desenvolvimento à conquista material, defendendo assim o acúmulo de
mercadorias como fator determinante de ascensão social.
Objetivamente, alcança-se desenvolvimento quando se atinge
padrões ecologicamente sustentáveis; além da fundamental conquista das chamadas
liberdades, metassíntese do desenvolvimento, como defende Amartya Sen.
Portanto, não é o crescimento da economia em si que faz
progredir qualitativamente a vida das pessoas. Crescer por crescer até as
células cancerígenas assim o fazem. Ademais, para fazer uma economia crescer é
preciso “passar” pela imposição dos limites dados pela natureza. É aí que
reside um intenso conflito.
As palavras a seguir, corroborando esse argumento, são de
Herman Daly, o maior expoente da economia ecológica: “Se os recursos pudessem
ser criados a partir do nada e os resíduos pudessem ser aniquilados no nada,
então poderíamos ter uma produção de recursos sempre em crescimento através da
qual alimentaríamos o crescimento contínuo da economia. Mas a primeira lei da
termodinâmica (lei da conservação,
o grifo é meu) diz NÃO. Ou se pudéssemos apenas reciclar a mesma matéria e
energia através da economia de forma mais rápida, poderíamos manter o
crescimento em andamento (grifo meu: matéria
e energia não são criadas, mas apenas transformadas). O diagrama de
fluxo circular de todos os textos de iniciação à teoria econômica infelizmente
aproxima-se muito desta afirmação. Mas a segunda lei da termodinâmica (lei da entropia, outro grifo meu) diz
NÃO”.
Dessa incompatibilidade entre crescimento econômico e não
agressão ambiental nasce a imprescindível necessidade de fazer com que
os sistemas econômicos “conversem” com os sistemas ecológicos visando
estabelecer uma fina sintonia entre ambos. Por oportuno, Fritjof Capra nos diz
que enquanto “a economia enfatiza a competição, a expansão e a dominação; a
ecologia enfatiza a cooperação, a conservação e a parceria.”.
O fato mais proeminente é a impossibilidade de
fazer uma economia crescer sem produzir na esteira desse acontecimento
consideráveis impactos ambientais. Não há como negar ou fechar os olhos para o
fato de que todo e qualquer crescimento gera estragos (dilapidação) ao ambiente
natural. Quanto mais as economias modernas crescem, mais se dilapidam os
principais serviços ecossistêmicos.
Lester Brown, a esse respeito, assevera que “pode-se
comprovar que a economia está em conflito com os sistemas naturais da Terra nas
notícias diárias de colapso de pesqueiros, encolhimento de florestas, erosão de
solos, deterioração de pradarias, expansão de desertos, aumento constante dos níveis
de dióxido de carbono (CO2), queda de lençóis freáticos, aumento da
temperatura, tempestades mais destrutivas, derretimento de geleiras, elevação
do nível do mar, morte de recifes de coral e desaparecimento de espécies”.
Tudo isso afeta sobremaneira a qualidade de vida das
pessoas. O que realmente importa em matéria de bem-estar, de bem viver, não é
atingir crescimento (quantidades maiores), mas, desenvolvimento (qualidades
melhores). Logo, limitar o crescimento quantitativo da economia é um bom caminho
para se alcançar o desenvolvimento qualitativo. Para isso, o fator
preponderante é promover a troca de quantidade
(crescimento) por qualidade (desenvolvimento). Para tanto, a economia tradicional
deve aceitar a premissa de que o sistema econômico é uma parte – e não o todo –
de um sistema maior, a biosfera.
Dada às
limitações naturais do planeta, não é aceitável fazer a economia crescer à
custa da pilhagem do capital natural, diminuindo avassaladoramente o patrimônio
natural. Insistir nesse modelo econômico que desfigura o semblante da natureza
é reduzir a biosfera submetendo-a ao modo de produção do sistema econômico. Não
precisamos de quantidade; precisamos de qualidade. O planeta não quer mais
produção; quer mais proteção. (EcoDebate)
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