Estudo indica que queima de carvão diminui expectativa de
vida na China.
Governo chinês
forneceu carvão de graça para região norte ao longo de três décadas. Para
autores, redução da expectativa de vida foi a consequência não-intencional de
uma política que pode ter parecido sensata.
A queima de grandes
quantidades de carvão para manter casas e escritórios aquecidos durante o
inverno reduziu em 5,5 anos a expectativa de vida no norte da China. Esse é o
resultado da pesquisa publicada na última edição da revista Proceedings of the
National Academy of Science (PNAS), da Academia de Ciência dos Estados Unidos.
O estudo se concentrou na região ao norte do Rio Huai, onde moram cerca de 500
milhões de pessoas.
Por causa do carvão,
a concentração de partículas totais em suspensão no local era até 55% maior que
em outras regiões chinesas. A poluição fez com que doenças cardiorrespiratórias
se tornassem frequentes, o que impactou na longevidade dos moradores. Outras pesquisas
já haviam demonstrado a influência da poluição na saúde humana, “mas a questão
mais importante e nova é o impacto sobre a expectativa de vida”, destacou
Michael Greenstone, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um dos
autores do estudo.
Rio Huai: linha de divisão
A própria história da
China possibilitou que os pesquisadores chegassem aos resultados. Entre 1950 e
1980, o governo fornecia carvão gratuitamente para garantir o aquecimento de
casas e escritórios da fria região localizada ao norte do Rio Huai. Naquela
época, o rio era usado como linha divisória da administração chinesa para
promover tal política – e a parte sul não contava com esse tipo de incentivo
governamental. “Por causa da baixa taxa de migração nesse período, nós sabemos
que as pessoas ficaram expostas ao problema por longo período”, comenta
Greenstone.
Apesar dessa política
ter deixado de vigorar na década de 1980, os pesquisadores alegam que ela
deixou como herança a cultura do uso de grande quantidade de carvão para o
aquecimento. A queima dessa fonte libera partículas poluentes no ar capazes de
prejudicar a saúde humana.
Os pesquisadores coletaram
dados sobre a concentração de poluentes de 90 cidades chinesas entre 1981 e
2000. Também foram usados registros de mortalidade do mesmo período. Os
cientistas descobriram que, no norte, a concentração de partículas totais em
suspensão era de 184 microgramas por metro cúbico, ou seja, 55% maior que a
região sul. Ao mesmo tempo, os moradores do norte viviam em média 5 anos e meio
a menos que os do sul.
Efeitos da
convivência com a poluição
“Nós agora podemos
dizer, com mais convicção, que a longa exposição à poluição tem dramáticas
consequências para a expectativa de vida”, destaca Michael Greenstone. O
professor salienta ainda que “esta foi a consequência não-intencional de uma
política que pode ter parecido bastante sensata”.
Os autores afirmam
que essa pesquisa também pode ser usada para estimar os efeitos da concentração
de partículas totais em suspensão em outros países. Em termos gerais, os
resultados sugerem que um longo tempo de exposição a um nível maior que 100
microgramas por metro cúbico está associado à redução da expectativa de vida em
três anos. (EcoDebate)
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