Pegada Ecológica: e se eliminarmos os países ricos?
A Terra é um Planeta
finito. Isto significa que os seres vivos possuem um espaço comum e delimitado
para a sobrevivência conjunta. O crescimento exponencial de uma espécie
significa a redução do espaço para a vida de outras espécies. Da mesma forma, o
crescimento ilimitado de cada país aumenta a demanda global por matérias-primas
e commodities e contribui para o sobre uso dos recursos naturais. Ninguém vive
sem demandar bens materiais dos ecossistemas.
A Pegada Ecológica é
uma metodologia que mede o impacto humano sobre as áreas terrestres e
aquáticas, consideradas biologicamente produtivas e necessárias à
disponibilização de recursos ecológicos e serviços, como alimentos, fibras,
madeira, terreno para construção e para a absorção do dióxido de carbono (CO2)
emitido pela combustão de combustíveis fósseis etc. A Pegada Ecológica mede a
quantidade de área biologicamente produtiva – zona de cultivo, pasto, floresta
e pesca – disponível para responder às necessidades da humanidade.
Segundo o Relatório
Planeta Vivo, da WWF, com dados de 2008, as atividade antrópicas já haviam
ultrapassado a biocapacidade da Terra, que é de 12 bilhões de hectares globais
(gha). A Pegada Ecológica da humanidade atingiu 2,7 gha por pessoa para um
população de 6,7 bilhões de habitantes em 2007. Isto significa que a humanidade
já estava utilizando 18 bilhões de gha, 50% a mais do que a capacidade de
regeneração do Planeta.
Os países do mundo
com maior pegada ecológica, em 2008, eram Emirados Árabes e Qatar, com mais de
10 gha por pessoa. Porém, como são países com baixo número de habitantes, o
impacto global é relativamente pequeno. Já os Estados Unidos da América (EUA)
tinham uma população de 305 milhões de habitantes e uma pegada de 7,2 gha por
pessoa, em 2008. Isto quer dizer que o impacto global dos EUA foi de 2,2
bilhões de gha. O padrão de consumo destes 3 países não é generalizável para o
resto do mundo.
A pegada ecológica
per capita dos países de alta renda (desenvolvidos) foi de 5,6 gha, em 2008,
para uma população de 1,037 bilhão de habitantes, o que representava uma pegada
total de 5,768 gha. Eliminando-se a pegada total dos países ricos o déficit
ecológico global diminuiria muito, mas mesmo assim haveria um déficit, ainda que
menor, para o restante dos habitantes do mundo, com uma pegada ecológica total
de 12,2 bilhões de gha. Portanto, mesmo eliminando-se os impactos negativos dos
países ricos, o restante do mundo estaria vivendo acima da capacidade de
suporte (biocapacidade) da Terra.
Ou seja, os 5,6
bilhões de habitantes dos países de renda baixa e de renda média (países em
desenvolvimento), em 2008, tinham uma pegada ecológica total de 12,2 bilhões de
hectares globais (gha), superior à capacidade de carga (biocapacidade) do Planeta.
Desta forma, mesmo em uma situação hipotética em que os países ricos chegassem
a zero em sua pegada ecológica, ainda assim o mundo estaria com problema
ambiental e com uma Pegada Ecológica acima da Biocapacidade. E o pior é que os
países do chamado “sul global” continuam com população em crescimento e com um
modelo econômico que mimetiza o que tem de pior nos países desenvolvidos.
Portanto, mesmo
eliminando os países ricos do cálculo da Pegada Ecológica mundial as atividades
antrópicas do resto da população do globo continuam superiores à capacidade de
regeneração da biosfera. Os cálculos acima não tiram as responsabilidades dos
países desenvolvidos como os maiores poluidores do Planeta. Apenas mostram a
real dimensão dos problemas causados pelos tamanhos do consumo e da população.
É compreensível que
as populações dos países pobres aspirem níveis mais elevados de desenvolvimento
e consumo. Mas reproduzir o modelo dos países ricos e poluidores seria um
desastre total. Também é compreensível que os indignados do mundo lutem por
melhores escolas, hospitais, transporte público, lazer, etc. Mas não é
aceitável e nem viável se promover o desenvolvimento humano às custas do
empobrecimento do Planeta e da biodiversidade. O consumo médio da população
mundial já ultrapassou os níveis de sustentabilidade ambiental. Simplesmente
distribuir a riqueza e o consumo humano não resolve os problemas ambientais
globais.
Seguindo o princípio
das “Responsabilidades comuns, mas diferenciadas” a ONU deveria cobrar dos
países ricos suas dívidas pelos danos causados ao meio ambiente global. Mas,
acima de tudo, seria preciso que toda a comunidade internacional se engaje na
luta pela mudança do atual modelo marrom de desenvolvimento e de consumismo
exacerbado. Só uma economia de baixo carbono, limpa, com baixo nível de consumo
conspícuo, não poluidora, que respeite a biodiversidade e seja socialmente
justa poderia mitigar os danos mais impactantes da degradação ambiental e o
desastre do aquecimento global. (EcoDebate)
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