O presidente americano Barack Obama anunciou em
25/06/13, um conjunto de iniciativas para combater o aquecimento global,
com medidas para reduzir as emissões de carbono, preparar os Estados
Unidos para os impactos das alterações climáticas e fortalecer a
cooperação internacional para lidar com o problema.
O anúncio representa o movimento político mais importante do
atual governo desde a ampla reforma energética proposta em 2009, aprovada
inicialmente na Câmara e posteriormente derrotada no Senado.
Nessa nova tentativa de fixar o legado de sua presidência no
combate à mudança climática e no apoio às energia limpas,
Obama privilegiou as ações no âmbito do próprio Executivo. Dessa forma,
procurou evitar o enfrentamento legislativo que marcou o seu primeiro
mandato. Contudo, se, por um lado, o presidente se livrou dos desgastes e das
derrotas desse tipo de enfrentamento, por outro, sem o recurso a mudanças
regulatórias significativas, suas opções se tornaram mais limitadas. Assim como
mais sujeitas a questionamentos legais.
Entre as medidas anunciadas, sem
dúvida, a de maior impacto ambiental, econômico e político é a proposta
de definição de padrões de emissão de CO2 para as plantas de
geração de eletricidade, tanto para as novas quanto para as já existentes;
lembrando que a geração de eletricidade é responsável por um terço das emissões
americanas de gases de efeito estufa.
Obama considera que tem o mandato legal para agir na redução
das emissões de carbono a partir da determinação da Suprema Corte de que o CO2
é um poluente. Nesse sentido, o presidente estabeleceu que a agência federal do
meio ambiente (Environmental Protection Agency – EPA) trabalhe em conjunto com
os estados, a indústria e outras partes envolvidas com o problema, na
determinação de novos padrões de poluição do carbono, similares àqueles que já
existem para outros poluentes tóxicos como o mercúrio e o arsênico. Essas novas
regras deverão estar definidas e prontas para serem aplicadas dentro de dois
anos.
Embora essa medida tenha sido bem recebida pelos
ambientalistas, que consideram que finalmente Obama atacou o problema central
das emissões americanas que são as plantas de geração, ela enfrentará uma fortíssima
oposição por parte dos Republicanos e da indústria, que consideram que as novas
regras irão elevar os custos da energia, destruir empregos e enfraquecer a
economia.
No centro do debate encontram-se as plantas de geração a
carvão. Maiores emissoras de CO2, não há controvérsia de que o
grande foco do plano de Obama é reduzir a sua participação na matriz
elétrica americana.
Assim, desacelerar o processo de mudança climática implica
em reduzir as emissões de CO2, reduzir essas emissões implica
na redução do uso dos combustíveis fósseis, reduzir o uso dos combustíveis
fósseis, no caso americano, implica na redução do uso do carvão.
A aplicação das novas regras deverá levar a esse resultado
na medida em que a partir delas as empresas elétricas irão gerar mais
usando gás natural, nuclear, eólica e solar, que deverão se tornar
comparativamente fontes mais baratas e rentáveis em relação ao carvão. De
tal modo que haverá uma grande redução, ou mesmo eliminação, de novas plantas
que utilizem essa fonte.
Deve-se ter em conta que a significativa redução das
emissões de CO2 observada nos EUA nos últimos anos deveu-se
principalmente a redução da atividade econômica causada pela crise de 2008 e a
substituição do carvão na geração de eletricidade pelo gás natural, extremamente
barato em função da imensa disponibilidade do chamado shale gas (gás não
convencional); portanto, fatores que não podem ser debitados ao presidente
americano. Assim, a definição das novas regras representaria a retomada
do protagonismo do governo federal nesse processo de redução de emissões.
Essa retomada, segundo um conjunto de atores políticos e
econômicos que se opõem às novas regras – republicanos,
empresas elétricas, estados produtores -, teria um sentido político claro:
uma declaração de guerra ao carvão por parte do governo Obama. Contudo,
essa guerra já vem de longe.
Durante a última campanha presidencial, o lobby reunido na
American Coalition for Clean Coal Electricity – ACCCE –, a face mais
agressiva e pública da indústria do carvão, lançou uma campanha publicitária de
35 milhões de dólares acusando Obama de levar a cabo uma guerra contra o
carvão, desligando usinas, destruindo empregos e enfraquecendo a economia do
país.
Na verdade, de 2008 a 2012, a indústria quase quadruplicou
suas contribuições políticas, direcionando 90% de seu dinheiro para
os republicanos.
O esforço para manter Obama fora da Casa Branca foi um
fracasso total. Ele venceu a reeleição confortavelmente, levando todos
os principais swing states que produzem a maior parte do carvão:
Pensilvânia, Ohio, Colorado e Virgínia.
O fato é que o carvão hoje em termos econômicos é bem menor
do que era antes. A mensagem central da campanha de 2012 era de que as novas
regras do EPA iriam custar milhões de empregos. No entanto, de acordo com o
Bureau of Labor Statistics, existem apenas 84 mil empregos nos EUA em mineração
de carvão. Na verdade, de 1978 a 2012, o setor perdeu 100.000 postos
de trabalho.
Para aquelas famílias que dependem do carvão, historicamente
membros e simpatizantes dos sindicatos, historicamente mais democratas do
que republicanos, que ficaram nervosos com a crise de 2008 e estão em pânico
com o plano de Obama, é difícil entender por que seus empregos estão sendo
destruídos, não pela competição estrangeira ou pelo comércio internacional, mas
pelo juízo de valor de uma parte da sociedade e pela decisão de políticos
distantes.
Certamente, os mineiros irão sofrer se o carvão continuar a
diminuir sua participação na matriz energética americana, porém o fato
político relevante é que o número de pessoas empregadas na indústria não é
suficiente para fazer a diferença em uma eleição nacional.
A indústria do carvão esperava que a redução do uso de
carvão nos EUA continuasse sendo compensada pelos mercados internacionais, mediante
a exportação para a China e Europa. No entanto, Obama em seu discurso da semana
passada pediu que todos os governos do mundo restringissem o financiamento
público para as usinas a carvão; enviando um claro sinal de que os EUA não
rejeitam o carvão apenas em casa, mas também no mundo.
Imprensada pelo boom do gás natural, pelo rigor das novas
regras, e pela redução da influência política dos estados produtores,
a indústria do carvão se prepara para uma difícil batalha pela frente.
A questão fundamental para ela é a manutenção ou não do
enfrentamento com o governo Obama.
O problema é que a solução que poderia atender aos dois
lados repousa em uma ruptura tecnológica: a captura e o armazenamento de
carbono (CCS, Carbon Capture Storage).
Infelizmente, o sucesso desta empreitada está longe de estar
garantido. O Departamento de Energia tem tentado avançar na captura de
carbono desde o governo de George W. Bush, e até agora já gastou mais de 5
bilhões de dólares, mas muitos cientistas duvidam que a tecnologia funcione.
Na medida em que esse tipo de pesquisa é tão caro e o
sucesso encontra-se tão distante, apenas uma entidade está
investindo significativamente na busca de uma solução para a captura e
estocagem de carbono: o governo dos EUA.
Se o governo aponta essa tecnologia como uma saída para o
carvão, seus opositores a veem apenas como uma maneira do governo afirmar que
está fazendo alguma coisa pelo carvão quando na verdade não está fazendo nada.
Cabe chamar a atenção que a coalizão lobista reunida em
torno do carvão é composta por diferentes agentes econômicos – empresas de
mineração, empresas elétricas, ferrovias, etc. – que têm visões diferentes
sobre carbono, mudança climática e administração Obama. Essa divergência tem
dificultado o estabelecimento de consensos dentro da coalizão, abrindo a
possibilidade para uma divisão que possibilite a construção de uma saída
negociada com o atual governo.
Da evolução dessa possibilidade irá depender o vigor da
reação às medidas propostas por Obama na ultima terça-feira. Mantendo-se o
atual quadro de resistências, a definição das novas regras e as disputas
legais em torno delas provavelmente tomarão um tempo bem maior do que os
dois anos esperados pela Casa Branca.
Desse modo, se, por um lado, o anúncio feito por Obama na
Universidade de Georgetown na semana passada reforça o compromisso do
presidente com o enfrentamento da mudança climática e com as energias limpas,
por outro, demonstra de maneira clara as suas enormes limitações na
definição de um novo e amplo arranjo institucional e regulatório que viabilize
de fato tanto o controle do processo de mudança climática quanto a ampliação
acelerada da participação das fontes limpas na matriz energética
americana. (ambienteenergia)
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