Nesses locais, os dados indicam perda de pelo menos 208 Km2
de floresta no período, o equivalente a 131 Parques do Ibirapuera, em São
Paulo.
Segundo os
pesquisadores que investigam a situação da região, as dez áreas protegidas têm
em comum a presença de ocupantes ilegais.
As áreas protegidas
mais desmatadas da Amazônia no período de agosto do ano passado a março deste
ano estão concentradas em torno das obras do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC). É o que mostra um estudo feito pelo instituto de pesquisas
ambientais Imazon, baseado em Belém (PA). O trabalho levou em conta os alertas
de desmatamento feitos pelo SAD - sistema de monitoramento independente
coordenado pelo instituto - em unidades de conservação (UCs) e terras indígenas
(TI).
Nesses locais, os
dados indicam perda de pelo menos 208 Km2 de floresta no período - o equivalente a
131 Parques do Ibirapuera, em São Paulo -, um aumento de 41% em relação ao
desmatamento detectado entre agosto de 2011 e março de 2012 (121 Km2).
Segundo os
pesquisadores que investigam a situação da região, as dez áreas protegidas têm
em comum a presença de ocupantes ilegais. Também faltam planos de gestão e há
falhas de fiscalização. São essas condições primárias que levam ao
desmatamento, mas as obras potencializam a vulnerabilidade.
"A origem do
problema é o fato de as pessoas que viviam naqueles locais não terem sido
retiradas quando houve a criação da área protegida. Em muitos casos, elas
desmatam mais para abrir terreno para a agropecuária e pressionar uma mudança
do limite da área protegida, para que sua propriedade fique de fora",
afirma Paulo Barreto, coordenador do trabalho.
Acirramento
Acontece, defende
ele, que os projetos de infraestrutura acabam acirrando esse cenário. De um
lado, por atraírem imigrantes e tornarem o desmatamento mais atrativo
economicamente. Por outro, porque o próprio governo já reduziu o tamanho dessas
áreas em favorecimento, por exemplo, de hidrelétricas.
No ano passado, oito
delas sofreram juntas um corte que equivale ao tamanho da cidade de São Paulo.
A medida visava, em parte, à abertura de espaço para futuros reservatórios.
"Aí, quem já queria reduzir a área protegida onde está por causa da
questão agropecuária se sente à vontade para aumentar a pressão", afirma
Barreto. "Ao levar mais ameaça para lá, o governo deveria fortalecer essas
áreas protegidas."
As áreas protegidas
identificadas no estudo estão na região de influência de projetos como o
asfaltamento de um trecho da Rodovia Transamazônica e da Cuiabá-Santarém
(BR-163), e a construção de Belo Monte e de cinco hidrelétricas planejadas para
a Bacia do Tapajós, todas no Pará. Rondônia e Mato Grosso têm situação
semelhante.
O trabalho mostrou ainda
o impacto que a fiscalização teve sobre o desmatamento. "Nas áreas
protegidas que passaram por uma fiscalização mais intensa, com maior área
embargada, e que tiveram multas aplicadas a infratores, houve redução no
desmatamento entre 2009 e 2012. Já aquelas que tiveram pequenas áreas
embargadas ou que não apresentaram embargos e multas experimentaram aumento no
desmatamento entre 2009 e 2012", afirma a pesquisadora Elis Araújo,
primeira autora do trabalho.
A criação de áreas
protegidas é uma ferramenta bastante usada pelos governos federal, estadual e
municipais para ajudar a conter o avanço do desmatamento e, em geral, se
considera que foi útil para baixar as taxas anuais da perda da floresta. Mas
onde não houve a regularização fundiária, o dano continuou. "O governo
cria mecanismos para acelerar as obras, como o PAC, mas não se aceleram os
planos de mitigação desses impactos", critica Barreto.
O Ministério do Meio
Ambiente, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade e a Casa
Civil foram procurados pelo Estado para comentar como estão os planos de
regularização fundiária e os planos de mitigação dos impactos das obras, mas
nenhum dos órgãos se manifestou. (exame)
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