Até 2050, idosos serão um quinto dos brasileiros, o que pressionará
a Previdência
Hoje,
essa faixa da população representa 6,9%. Atualmente, 100 trabalhadores bancam
17 aposentadorias. Em 35 anos, terão de sustentar 53.
Cinara Rabelo e o marido Daniel Burthardt fogem à regra e
poupam para preservar o rendimento ao se aposentar.
O Brasil já não é um país jovem, com as ruas tomadas por
crianças jogando bola e empinando pipa, como se via poucas décadas atrás.
Tampouco é um país com o perfil do Japão ou da Alemanha, que têm,
respectivamente, 23% e 20,8% da população com idade superior a 65 anos — aqui a
proporção é de 6,9%. O que mais impressiona na nossa estrutura etária não é a
fotografia. É o filme que vai passar até a metade do século. Poucos países vão
mudar tão drasticamente a situação demográfica.
Levantamento do Pew Research Center, dos Estados Unidos, com
dados da Organização das Nações Unidas, mostra que, em 2050, o Brasil terá
22,5% de idosos. Estará, portanto, no nível em que se encontram Japão, Alemanha
e Itália hoje, de acordo com dados de 2010, os mais recentes. O que
impressiona, porém, é a velocidade da transição brasileira. Entre os outros
países, poucos vão mudar tão radicalmente.
Do 15º lugar no grupo de 23 nações analisadas pelo Pew
Research Center, o Brasil vai para o 9º. Em 30 anos, passará por uma mudança
que na França representou um processo de 120 anos. O Brasil está abaixo da
média mundial hoje no número de idosos. Estará acima em meados do século. “Mais
do que a comparação com outros países, o que importa é se vamos dar conta de
financiar a situação que teremos”, analisa a economista Ana Camarano, do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Embora não seja uma nação com tantas crianças quanto no
passado, o Brasil tem, sim, muitos jovens no mercado de trabalho. Isso ajuda a
pagar a conta da nossa Previdência Social. Ela funciona pelo sistema de
repartição, no qual o dinheiro de quem contribui cai diretamente no bolso de
quem recebe benefícios. Atualmente, cada grupo de 100 trabalhadores da
população economicamente ativa sustenta a aposentadoria de 17,4 idosos. Em
2030, o mesmo grupo estará sustentando 29,8 aposentados; em 2050, 52,9; e, em
2060, 64.
A situação atual é chamada de bônus demográfico. Deveria
permitir uma folga orçamentária, formando um colchão para a situação futura de
vacas magras. Mas o que se vê é exatamente o contrário: o déficit da
Previdência não para de subir. De R$ 38,8 bilhões em 2011 subiu para R$ 42,3
bilhões em 2012, um aumento de 9%. E no ano passado deu um salto ainda maior,
de 14,8%, atingindo R$ 51,2 bilhões. Com base em números oficiais, o
ex-ministro da Previdência José Cechin calcula os impactos do envelhecimento na
Previdência Social. Hoje diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde
Suplementar (FenaSaúde), Cechin afirma que nos próximos 15 anos o número de
beneficiários passará de 27 milhões para 48,2 milhões, crescimento de 78% entre
2013 e 2030. O percentual saltaria de 13,4% para 21,6% da população. Quando se
olha para 2060, os números são ainda mais impressionantes, cerca de 37% da
população será usuária do sistema, que carregará 81 milhões de beneficiários,
praticamente o triplo do peso de hoje.
Planejamento Parte de um pequeno grupo de brasileiros, a
relações-públicas Cinara Rabello Burthardt, de 38 anos, e o marido, Daniel
Burthardt, 40, fogem à regra da maioria. Enquanto vivem o presente eles
planejam o futuro. Fazem poupança para a aposentadoria a partir de
investimentos como a previdência privada e também em imóveis. O filho de 3 anos
também já conta com uma poupança desde o dia em que nasceu. Segundo Cinara, o
objetivo é garantir a faculdade do garoto, mesmo que ele escolha um curso
privado e caro, como medicina. “Não é fácil começar a fazer poupança. Pago um
plano de previdência no meu trabalho e parte do valor é descontado em folha. No
início eu pensava, meu salário é tão pequeno e ainda vem esse desconto”. “Hoje,
15 anos depois, sei que esse valor vai fazer diferença em minha aposentadoria”,
ensina. (em)
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