Amazônia acumula 762 mil km2 de desmatamento em
40 anos, diz estudo do INPE
Área desmatada no período equivale a três estados de São
Paulo, diz relatório.
Até o ano passado, o desmatamento
acumulado na Floresta Amazônica, em 40 anos de análise, somou 762.979 km², o
que corresponde a três estados de São Paulo ou a 184 milhões de campos de
futebol. É o que revela o relatório O
Futuro Climático da Amazônia, coordenado pelo pesquisador Antonio Donato
Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE).
O relatório, divulgado em 30/10/14 na
Sala Crisantempo, na zona oeste de São Paulo, reúne várias estudos feitos sobre
a região e é destinado à população leiga. O objetivo é universalizar o acesso a
mais de 200 estudos e artigos científicos e diminuir o que o pesquisador chama
de “ignorância” sobre os problemas ambientais.
Nobre calcula que a ocupação da
Amazônia já destruiu 42 bilhões de árvores, ou seja, mais de 2 mil árvores por
minuto, de forma ininterrupta, nos últimos 40 anos. Somando-se o desmatamento e
a degradação (que considera áreas verdes, mas inutilizadas) da floresta, a
destruição da Amazônia alcança mais de 2,062 milhões de km².
De acordo com o relatório, o
desmatamento pode pôr em risco a capacidade da floresta de rebaixar a pressão
atmosférica, exportar sua umidade para outras regiões pelos chamados “rios
voadores” e regular o clima, induzindo à seca. Os efeitos sobre a Região
Sudeste, mais especificamente no estado de São Paulo, que enfrenta uma grande
seca, ainda estão sendo estudados, mas Nobre acredita que parte disso seja
reflexo do desmatamento da Mata Atlântica e do aquecimento climático.
“Estamos na UTI climática”,
afirmou o pesquisador, comparando o problema do clima ao de um paciente
internado em um hospital. Segundo Nobre, é difícil prever se o “paciente” – no
caso, a Amazônia – vai reagir, embora ainda exista uma solução para o problema.
“Quando se está no processo de
UTI no hospital, o médico vai dizer a que horas você vai morrer? Não vai.
Depende do seu organismo e de muitos fatores, e o que o médico pode fazer é o
que está ao alcance dele: informar. O que estou fazendo é informando [sobre o
problema ambiental na Amazônia]. E acho que tem uma solução: desmatamento zero
para anteontem e replantar em esforço de guerra. Mas, antes disso, um esforço
de guerra real é acabar com a ignorância”, enfatizou.
De acordo com Nobre, o esforço
para zerar o desmatamento é insuficiente, já que é preciso também confrontar o
passivo do desmatamento acumulado e dar início a um processo de recuperação do
que já foi destruído. “É preciso plantar árvores em todos os lugares, e não só
na Amazônia”, ressaltou o pesquisador, lembrando que não podem ser plantados
somente eucaliptos, como ocorre atualmente, já que esta não é a espécie mais
indicada para trazer chuva.
Para ele, o governo tem uma
grande tarefa a realizar e esse trabalho deve ser feito em conjunto com o
Ministério Público, a Justiça, as organizações não governamentais (ONGs) e,
principalmente, os cientistas, repetindo algo que foi feito após 2004, quando o
Brasil alcançou o pico de área desmatada (27,7 mil km²) “É possível fazer
acordos e todos os setores serem beneficiados”, afirmou.
Apesar de o desmatamento estar se
reduzindo nos últimos anos, o Brasil ainda é o maior desmatador do mundo,
afirmou Cláudio Amarante, da ONG WWF Brasil. “Pelos dados que temos hoje, por
tudo o que reduziu, o Brasil ainda é o maior desmatador do mundo, embora
dependa de como isso é medido. O Brasil tem dez anos de redução de
desmatamento, mas os países andino-amazônicos vêm em processo contrário: há um
crescimento do desmatamento. Após o Brasil, vêm a Bolívia, o Peru, a Colômbia,
a Venezuela e o Equador, do ponto de vista absoluto [de área desmatada].”
De acordo com Amarante, o
controle do desmatamento no Brasil está entrando agora em sua fase mais
difícil: a de combate às pequenas manchas de desmatamento, pouco visíveis por
satélites. “Até agora, o que foi possível foi conter o desmatamento que era
mais fácil, o mais flagrantemente ilegal, das áreas maiores e de maior
detecção. Agora vamos ter que combater as pequenas manchas de desmatamento e as
feitas por pequenas propriedades ou assentamentos”, afirmou. (ecodebate)
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