Racionamento progressivo é alternativa para crises de água,
diz Jussara Cabral Cruz, presidente da ABRH
O secretário estadual
de Saneamento e Recursos Hídricos, Mauro Arce, disse que caso chova dentro da
média histórica nos reservatórios a partir de novembro, o Sistema Cantareira
pode se recuperar.
A situação crítica
dos reservatórios que abastecem a região sudeste do Brasil é uma oportunidade
para a população refletir sobre seus hábitos de consumo de água e para os
setores responsáveis pela gestão dos recursos hídricos aprofundarem suas
estratégias conjuntas. Essa é a opinião de ao analisar a crise do abastecimento
que atinge principalmente o estado de São Paulo.
A decisão da Sabesp
de diminuir a pressão durante a noite na rede de distribuição de água para os
moradores de São Paulo é a mais recente medida para racionalizar o consumo do
produto que pode, no futuro, se tornar um artigo de luxo.
A decisão já faz
muitos paulistanos se conscientizarem de que a água será um bem que não estará
disponível em abundância e a qualquer hora do dia. Vários exemplos de moradores
em diversas regiões da capital paulista mostram que muitas famílias já convivem
com a falta do produto a partir das 17 horas.
A redução da pressão
é a mais nova estratégia usada pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de
São Paulo para enfrentar uma crise que já afeta milhões de pessoas na capital e
municípios do interior, dependentes do Sistema Cantareira, que chegou a seu
nível crítico principalmente devido à seca prolongada. A Sabesp, evitando
empregar o tema racionamento, anunciou que a diminuição da pressão na rede será
permanente e visa diminuir o desperdício com vazamentos das tubulações.
Mas, para a
presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Jussara Cabral Cruz,
a medida visando racionalizar a água tem um objetivo claro e deverá provocar
novas mudanças no comportamento dos usuários do sistema.
“A redução de pressão
durante à noite deixa muitas casas sem a água, ou mesmo por algumas horas, é
uma espécie de racionamento”, afirma. “As pessoas vão ter que controlar a
quantidade que recebem e adaptar ao uso pessoal, como reduzir o tempo de banho
e gastar menos para lavar louça”, sugere.
Problemas climáticos
Para as autoridades
paulistas, a origem do problema está na estiagem prolongada. A seca que atinge
a região sudeste é apontada como o principal fator da queda do volume de água
dos sistemas hídricos como o Cantareira, responsável pelo abastecimento de mais
de 8 milhões de pessoas na capital e municípios vizinhos.
A presidente da ABRH
alerta que a questão climática exerce influência e as mudanças que temos
percebido nos últimos anos impõem novas prioridades para a gestão dos recursos
hídricos.
“Existem evidências
muito significativas de que pode estar havendo alterações do clima. Mas não
podemos saber como elas se darão e em que medida. Se teremos mais secas ou mais
cheias em determinado local. Temos que estar preparados para este tipo de
estiagem e quem sabe, até pior. A probabilidade existe”, alerta.
“A meteorologia nos
ajuda com alguns indicativos. Mas temos que ter estratégias para ampliar e ter
segurança hídrica em termos de quantidade e qualidade. Para isso temos que
melhorar a água dos mananciais e pensar no armazenamento, porque o período de
chuvas não é contínuo durante o ano. O armazenamento é importante para a
regularidade da entrega”, diz.
Jussara lembra que
muitos sistemas no país foram projetados para uma demanda consumo de água que
hoje está totalmente ultrapassada em relação à população e também para a
atividade produtiva. Além de adaptar às demandas atuais, as autoridades
responsáveis pela gestão de água deverão trabalhar cada vez mais com
antecipações e alternativas para enfrentar situações adversas.
“Quando os eventos
acontecem antes das previsões, a estratégia é ter parcimônia no uso, sem evitar
frear a atividade produtiva e tentar aplicar economias de água progressivas,
com planejamento”, defende Jussara.
Maior coordenação
política
A situação da região
sudeste traz à tona a questão da gestão dos recursos hídricos do país,
conhecido por ter uma das maiores reservas de água doce do mundo, cerca de 12%
do total do planeta.
Para a presidente da
ABRH, uma das principais entidades que reúne técnicos e especialistas para
atuar e influenciar na elaboração de políticas e estratégicas públicas, o
Brasil tem, no papel, um bom sistema de gestão de seus recursos hídricos,
especialmente com órgão reguladores como a ANA, a Agência Nacional de Águas.
Mas, segundo Jussara,
é preciso avançar na coordenação política, o que exige tomada de decisões
importantes para a população. “Nosso sistema, como concebido na lei é muito
bom. Nosso problema é colocá-lo em prática. Ele nos conduz a uma nova cultura
de gestão que não estávamos acostumados”, diz.
“A água passa por
todos os setores da sociedade e é preciso que eles estejam sentados juntos. É
necessário encontrar um consenso sobre critérios como a distribuição da água.
Esse é um processo que exige um amadurecimento das entidades envolvidas. Para
lidar com esse tipo de situação, é preciso a participação dos que têm poderes
de decisão”, afirma Jussara.
“É preciso amadurecer
o processo de todas as entidades criadas para a gestão dos sistemas dos
recursos hídricos do país. É preciso ter uma boa discussão nos comitês para se
estabelecerem critérios. Os comitês devem ter representantes da área técnica,
da sociedade civil e de todos os setores envolvidos para que o estado, como
tutor e gestor da água, chegue a um consenso comum. Esse conjunto precisa ser
aperfeiçoado”, defende a presidente da ABRH (ecodebate).
Nenhum comentário:
Postar um comentário