Diretor disse em CPI que problema
não colocaria usuário em risco; empresa também afirmou que pressão está fora da
norma.
O risco de contaminação da água
admitido em 25/02 pelo diretor metropolitano da Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (Sabesp), Paulo Massato, em caso de rodízio oficial já é
realidade em algumas regiões altas da Grande São Paulo. São locais onde a rede
fica despressurizada após o fechamento manual dos registros na rua, conforme um
alto dirigente da empresa admitiu ao Estado no início do mês.
“Se implementado o rodízio, a rede
fica despressurizada, principalmente em regiões de topografia acidentada, nos pontos
em que a tubulação está em declive. Se o lençol freático está contaminado, isso
aumenta o risco de contaminação (da água na rede)”, afirmou Massato, nesta
quarta, durante sessão da CPI da Sabesp na Câmara Municipal.
O resultado desse contágio, segundo
ele, não colocaria a vida dos consumidores em risco, mas poderia causar
disenteria, por exemplo. “Nós temos hoje medicina suficiente para minimizar
risco de vida para a população. Uma disenteria pode ser mais grave ou menos
grave, mas é um risco (implementar o rodízio) que nós queremos evitar ”,
completou. Apesar do alerta, ele disse que a estatal poderia “descontaminar”
rapidamente a água afetada.
'Estamos em uma situação de
anormalidade. Nós não conseguiríamos abastecer 6 milhões de habitantes se
mantivéssemos a normalidade', disse Massato
No início do mês, um dirigente da
Sabesp admitiu ao Estado que em 40% da rede onde não há válvulas redutoras de
pressão (VRPs) instaladas, o racionamento de água é feito por meio do
fechamento manual, flagrado pela reportagem na Vila Brasilândia, zona norte da
capital. Segundo ele, a manobra “não esvazia totalmente” a rede, mas
“despressuriza pontos mais altos”.
“A zona baixa fica com água. Se não
houver consumo excessivo, a maior parte da rede fica com água. Acaba
despressurizando zonas altas, isso acontece mesmo. Tanto é que quando abre (o
registro) para encher de novo, as zonas mais altas e distantes acabam sofrendo
mais, ficando mais tempo sem água”, afirmou.
Para o engenheiro Antonio
Giansante, professor de Engenharia Hídrica do Mackenzie, é grande o risco de
contaminação em caso de fechamento da rede. “Em uma eventualidade de o tubo
estar seco, pode ser que entre água de qualidade não controlada, em geral,
contaminada por causa das redes coletoras de esgoto, para dentro da rede da
Sabesp.”
Segundo interlocutores do
governador Geraldo Alckmin (PSDB), a declaração desagradou o tucano, uma vez
que o rodízio não está descartado. Massato já havia causado constrangimento ao
governo ao dizer, em 27 de janeiro, que São Paulo poderia ficar até cinco dias
sem água por semana em caso de racionamento.
Fora da norma
Massato e o presidente da Sabesp,
Jerson Kelman, que também prestou depoimento à CPI, admitiram aos vereadores
que a empresa mantém a pressão da água na rede abaixo do recomendado pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), conforme o Estado revelou no
início do mês. Segundo o órgão, são necessários ao menos 10 metros de coluna de
água para encher todas as caixas.
“Nós estamos garantindo 1 metro da
coluna de água, preservando a rede de distribuição. Mas não tem pressão
suficiente para chegar na caixa d’água”, admitiu Massato. “Estamos abaixo dos
10 metros de coluna de água, principalmente nas zonas mais altas e mais
distantes dos reservatórios.”
“Essa é uma medida mitigadora para
evitar algo muito pior para a população, que é o rodízio”, afirmou Kelman. “São
poucos pontos na rede em que não se tem a pressão exigida pela ABNT para
condições normais. Isso não é uma opção da Sabesp. Não estamos em condições
normais”, completou.
Em dezembro, Alckmin disse que a
Sabesp cumpria “rigorosamente” a norma técnica. A Sabesp foi notificada pela
Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) e
respondeu na terça-feira aos questionamentos feitos sobre as manobras na rede.
O órgão fiscalizador, contudo, ainda não se pronunciou.
Ar encanado
Questionados sobre a investigação
do Ministério Público Estadual que apura suposta cobrança por “ar encanado”
pela Sabesp, revelada pelo Estado, os dirigentes da empresa disseram que a
prática atingiu apenas 2% dos clientes. Das 22 mil reclamações registradas em
fevereiro sobre aumento indevido da conta, 500 culpavam o ar encanado. O
problema ocorre quando a água retorna na rede e empurra o ar de volta para as
ligações das casas, podendo adulterar a medição do hidrômetro. (OESP)
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