Agência notifica Sabesp por fechar 40% da
rede
Empresa tem de esclarecer manobra confirmada
por dirigente ao ‘Estado’; companhia pode ser multada por corte sem aviso
prévio.
‘Estado’
flagra agente da Sabesp na Brasilândia
A agência paulista que fiscaliza os
serviços de abastecimento de água determinou que a Companhia de Saneamento
Básico do Estado São Paulo (Sabesp) tem até esta sexta-feira, 13, para
esclarecer o fechamento de 40% da rede na região metropolitana durante a crise
hídrica. A prática foi admitida ao Estado por um dirigente do alto escalão da empresa e
divulgada na edição de 07/02.
Em nota, a Agência Reguladora de
Saneamento e Energia de São Paulo (Arsesp) informou que tomou conhecimento das
manobras feitas pela Sabesp na rede apenas por meio da reportagem e disse que a
companhia pode ser multada se ficar comprovado que ela suspendeu ou interrompeu
o abastecimento de água sem aviso prévio.
Em 07/02 o Estado revelou que o fechamento
do registro de água é feito em pelo menos 40% da rede de distribuição da
Sabesp. Segundo um dirigente da companhia, a prática é adotada nas regiões onde
não existem válvulas redutoras de pressão (VRPs) instaladas. São esses
equipamentos que o governo Geraldo Alckmin (PSDB) afirma usar para diminuir o
desperdício de água na rede, provocando cortes generalizados no abastecimento.
Manobra
Em 11/02 por volta das 13 horas, a
reportagem flagrou dois funcionários da Sabesp conhecidos como “manobristas”
fechando três registros de água na esquina das Ruas Tiro ao Pombo e Parapuã, na
Brasilândia, na zona norte da capital.
Equipados com volantes gigantes e
barras de metal, eles abrem as tampas dos equipamentos e rosqueiam o registro
para cortar o fornecimento de água. Ao perceberem a aproximação do Estado, os
funcionários saíram do local em uma picape da Sabesp. Um deles, no entanto,
afirmou que a manobra serve para cortar o abastecimento.
Mesmo com o serviço incompleto, a
água começou a vazar por um dos registros. “Liga para o 195 (telefone da
Sabesp)”, afirmou um dos funcionários ao ser questionado sobre a operação. Os
moradores e comerciantes que ficam próximos dos registros disseram que,
diariamente após a manobra, a água começa a faltar.
“Eles estão fazendo isso desde o
fim do ano passado. Eles terminam de rosquear o registro e começa a faltar
água”, afirmou o serralheiro Naldo Campos Lopes, de 35 anos, que usa compressor
de ar para assoprar o pó de madeira que fica sobre o corpo após o dia de
trabalho por causa da falta de água.
Na autoescola de Edna Lopes de
Lucena, de 49 anos, os funcionários já se acostumaram a levar os bebedouros com
galões de água para a parte de cima do local. “Depois que a Sabesp vem, a água
do bebedouro não sai. Os alunos reclamam. Só à noite atendemos mais de cem
pessoas”, afirmou.
Procurada, a Sabesp confirmou que
parte da “gestão da demanda (de água) é feita por “manobras manuais”. Ainda de
acordo com a companhia, “há locais altos e distantes dos reservatórios, onde a
redução da pressão pode gerar problemas de abastecimento”. Sobre o vazamento, a
empresa informou que a “passagem de água cessa no momento em que a manobra é
concluída”. Segundo técnicos da Sabesp, o fechamento manual de registros corta
o abastecimento.
Redução foi intensificada
Revelada pelo Estado em abril/14, a
redução da pressão é uma das medidas usadas pela Sabesp para enfrentar a crise
hídrica e diminuir o consumo na cidade. Segundo a companhia, a redução é
responsável por mais de 50% da economia de água. São 1,5 mil válvulas redutoras
de pressão (VRPs), que ajudam a reduzir as perdas por vazamentos. A medida foi
intensificada em meados do ano passado. Até o início deste ano, as regiões
afetadas eram omitidas pela empresa.
Os equipamentos são acionados
remotamente de uma central, que pode controlar a pressão nos bairros. Pela
norma técnica, ele deve oscilar entre 10 e 50 metros de coluna d’água, o que
indica a altura que alcança só com pressão da rede. Mas, como em 40% essa
operação não pode ser feita, a Sabesp passou a fechar os registros. (OESP)
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