Acordo Brasil-EUA vai na
direção certa, mas em velocidade errada
O
acordo prevê investimentos em fontes renováveis de energia.
A
presidenta brasileira, Dilma Rousseff, e o presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama, anunciaram em 30/06/15 um compromisso de intensificar a colaboração entre os dois países na área de combate aos desafios ligados às mudanças climáticas. O
anúncio aconteceu durante a visita da presidenta aos Estados Unidos e se refere
tanto a nível bilateral como no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Os
itens anunciados incluem a pretensão de atingir até 2030 de 28% a 33% de sua
matriz energética por fontes alternativas renováveis de energia, a restauração
e o reflorestamento de 12 milhões de hectares de florestas até 2030, a
continuação de políticas destinadas a eliminar o desmatamento ilegal e a
promessa de um compromisso brasileiro ambicioso de redução de emissões para a
COP de Paris.
De
acordo com o coordenador do Programa Mudanças Climáticas e Energia do
WWF-Brasil, André Nahur, um dos pontos importantes do acordo, apesar de
insuficiente, foi a meta de 28% a 33% de sua matriz energética por fontes
alternativas renováveis de energia até 2030. “O anúncio não cria um cenário
muito diferente do atual. Para o Brasil é pouco, pois basicamente mantem o que
temos hoje de 28,6%. Por outro lado, o anúncio de aumentar para 20% a geração
de energia elétrica por fontes renováveis que não hidroelétricas é importante e
cria uma possibilidade de expansão de geração solar, eólica e biomassa,
explorando o imenso potencial brasileiro. Apesar deste pequeno avanço,
consideramos que o Brasil ainda poderia chegar a 33% da sua matriz elétrica com
outras fontes renováveis criando um grande potencial econômico social e
ambiental para o país”, diz ele.
Um
segundo ponto importante é a cooperação no uso sustentável da terra, que se
refere tanto ao desmatamento quanto à pecuária – ponto em que, segundo Nahur
não representa grandes avanços. “O desmatamento líquido zero fazia parte do
Plano Nacional de Mudanças Climáticas e era esperado para ser alcançado até
2015. Acabar com desmatamento ilegal é uma obrigação e precisamos fazer isso o
mais cedo possível com instrumentos efetivos de regularização fundiária e
alternativas econômicas florestais. Outra questão importante é o aumento da
demanda de carne bovina para o mercado norte-americano. Isso pode causar uma
mudança na dinâmica de produtos agropecuários relevantes, acabar empurrando
fronteiras agrícolas e gerando impacto adicional para os biomas brasileiros,
principalmente Amazônia e Cerrado”, diz ele.
Pelo
lado dos Estados Unidos, Lou Leonard, diretor de Mudanças Climáticas do
WWF-EUA, argumenta que o apoio concreto dos Estados Unidos para promover uma
maior cooperação internacional sobre as alterações climáticas é um marco chave
para um bom posicionamento em Paris. “É hora dos EUA mostrar que está disposto
a trabalhar em conjunto com as principais economias como o Brasil, para
derrubar as emissões em regiões como a Amazônia. O acordo desta semana é uma
oportunidade para ambos os líderes ajudarem a impulsionar conversas sobre as
mudanças climáticas e prepararem o terreno para um acordo global mais forte em
dezembro”, diz Lou.
Futuro
promissor
A
21ª COP, que acontece em Paris, no final do ano, é vista por grande parte dos
especialistas como a última oportunidade das nações se comprometerem com metas
ousadas de redução de emissões de gases de efeito estufa, para que o nível de
CO2 na atmosfera se mantenha no máximo em 450 ppm e o aumento da temperatura da
superfície terrestre não ultrapasse os 2º C a partir do período pré-industrial,
o que causaria desastres irreversíveis ao planeta.
Os
Estados Unidos anunciaram suas metas de 26% a 28% de redução de emissões para a
próxima década em relação aos níveis de 2005. A China também anunciou sua
contribuição nacional esta semana prevendo o pico de suas emissões nacionais
até 2030. Já o Brasil deve anunciar seus compromissos até outubro, que é o
prazo final para entrar no relatório da COP de Paris.
“Esse
é o momento dos países anunciarem um compromisso conjunto de reduzir as
emissões de gases de efeito estufa e de trabalharem em parceria e dar um
exemplo ao mundo de que o desenvolvimento com baixo uso de carbono é possível,
viável e interessante para todos. Quem fizer isso primeiro terá mais
possibilidades de assumir a liderança nessa área”, completa Nahur. (ecodebate)
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