O
mundo está ficando mais quente e rompendo com a estabilidade climática do Holoceno.
Um novo estudo publicado online na revista Science considera que a taxa de
aquecimento global nos últimos 15 anos tem sido tão rápida quanto ou mais
rápida do que a observada durante a segunda metade do século XX. O estudo, de
uma equipe de cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos
Estados Unidos (NOAA), da NASA, refuta a noção de que houve uma diminuição ou
“hiato” da taxa de aquecimento global nos últimos anos.
O
último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
concluiu que a tendência de aumento da temperatura da superfície global da
Terra entre 1998 e 2012 foi significativamente menor do que a tendência entre
1951-2012. Porém, desde o lançamento do relatório do IPCC, os cientistas da
NOAA fizeram melhorias significativas no cálculo das tendências e agora, usando
um registro de temperatura da superfície global que inclui os dois anos mais
recentes (2013 e 2014), concluíram que não houve o tal hiato. A NOAA diz:
“Nossa
nova análise sugere que o hiato aparente pode ter sido em grande parte o
resultado de limitações em conjuntos de dados passados, e que a taxa de
aquecimento ao longo dos primeiros 15 anos deste século tem, de fato, sido tão
ou mais rápido do que o observado ao longo da última metade do século XX”.
Reforçando
este grave cenário, o mês de maio de 2015 foi o mais quente da Terra, desde que
se começaram a registrar temperaturas, em 1880, segundo dados da Administração
Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA), divulgados no dia 18
de junho. A temperatura média do planeta chegou a 15,54°C, 0,74°C acima da
média do século 20. A última vez que as temperaturas de maio ficaram abaixo da
média do século 20 foi em 1976, de acordo com a agência norte-americana.
A
temperatura dos primeiros cinco meses de 2015 (janeiro a maio) também foram os
mais quentes da Terra desde que se começou a registrar temperaturas, em 1880.
Isto significa que, com alto grau de probabilidade, o ano de 2015 será o ano
mais quente da história recente. Portanto, as perspectivas globais são de
mudanças climáticas muito danosas para o ser humano e as demais espécies.
O
agravamento do fenômeno do aquecimento global torna mais urgente a necessidade
de fazer a transição da matriz energética rumo a uma economia de baixo carbono.
O mundo precisa fazer um esforço imenso para reduzir as emissões dos gases de
efeito estufa (GEE).
Neste
sentido, os líderes do G7 – grupo das sete nações mais industrializadas do
mundo – após o encontro de dois dias na Baviera, Alemanha se comprometeram com
metas para diminuir a dependência de suas economias dos combustíveis fósseis,
reduzindo as emissões de carbono. Em comunicado do dia 08 de maio de 2015,
prometeram respaldar um corte global na emissão dos gases de efeito estufa mais
próximo da porcentagem mais alta de uma faixa de 40 a 70 por cento até 2050,
tomando o ano de 2010 como base. Essa faixa foi recomendada pelo Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC, na
sigla em inglês). Eles também apoiaram uma meta global para limitar o aumento
das temperaturas globais médias até o máximo de dois graus Celsius em
comparação com níveis pré-industriais.
Alguns
ambientalistas viram esta decisão do G7 como algo muito positivo. Segundo
Jeffrey Sachs: “A reunião do G-7, nos Alpes da Baviera, marcou um grande avanço
na política de mudança climática. As sete maiores economias de alta renda
(Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) tomaram
uma decisão revolucionária para descarbonizar as suas economias durante este
século. Pela primeira vez na história, as principais economias ricas
concordaram sobre a necessidade de acabar com a sua dependência dos
combustíveis fósseis. Os líderes do G-7 fizeram algo sem precedentes. Eles
reconheceram que, a fim de manter o aquecimento global abaixo do limite de 2°C,
devem acabar com sua dependência de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e
gás natural) até 2100 (…) Claro, a declaração do G-7 é apenas uma declaração e
ainda não inclui os compromissos de muitos dos maiores países emissores de CO2
do mundo, incluindo China, Índia e Rússia. No entanto, é um passo crucial que
incentivará muito outros países a participar do processo de descarbonização
profunda, bem como, especialmente tendo em vista o compromisso do G-7 para
acelerar o desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono. O resultado da
reunião do G-7 é um bom presságio para um forte acordo global sobre as
alterações climáticas, quando todos os 193 Estados membros da ONU reunirem-se
em Paris em dezembro (na COP21) para chegar a um acordo do clima
verdadeiramente global. Os países do G-7 ainda não garantiram um resultado
bem-sucedido na reunião de Paris, mas eles deram um grande passo em direção a
esse objetivo”.
Outros
analistas, como Martin Wolf, principal colunista econômico do jornal britânico
Financial Times, questionam a decisão do G7: “Por que devemos ser céticos? A
resposta é que ouvimos compromissos similares por quase 25 anos; e, ainda
assim, vimos apenas as emissões e o acúmulo de gases estufa aumentando na
atmosfera. Mesmo se os governos estabelecerem compromissos atuais (o que é
improvável), a concentração de dióxido de carbono na atmosfera cresceria até
chegar a 700 partes por milhão até o fim do século, em comparação com 280 ppm
antes da revolução industrial e cerca de 400 ppm agora. Com 700 ppm, o aumento
médio na temperatura global esperado é de 3,5°C. Manter as emissões no caminho
necessário para limitar o aumento médio para os dois graus recomendados —e em
seguida entregar esse resultado— requereria uma revolução”.
O
professor Paul Younger da universidade de Glasgow considera que o acordo da
Cúpula do G7, de maio de 2015, não vai obter os resultados prometidos, pois,
mesmo com o avanço da energia eólica e solar para o setor elétrico, será muito
difícil substituir os combustíveis fósseis para transporte pessoal e coletivo,
especialmente o transporte de carga de longa distância. A questão das baterias
também é fundamental, em especial, para os aviões e navios. Os fertilizantes é
outro exemplo. A maior parte do abastecimento alimentar mundial está baseado em
fertilizantes químicos e eles não podem ser produzidos sem a utilização de
combustíveis fósseis. Em seu artigo ele conclui: “O fato é que os políticos não
estão dizendo nada mais que platitudes. Até que nós possamos ter uma conversa
honesta sobre o futuro de nosso relacionamento com a energia, não há como levar
os nossos líderes a sério”.
Para
reduzir as emissões provocadas pela queima de combustíveis fósseis, o mundo
deveria a apoiar a campanha pelo desinvestimento e eliminar os subsídios que as
companhias petroleiras possuem hoje em dia. Especialmente o Canadá deveria
reduzir a exploração das areias betuminosas. O Brasil também deveria repensar
os investimentos no pré-sal. Ou seja, o mundo todo precisa avançar na transição
para uma matriz de baixo carbono.
Outro
obstáculo que entrava a redução de GEE é que o G7 não definiu com clareza como
pretende cumprir a promessa de destinar US$ 100 bilhões anuais para os países
do “Terceiro Mundo” que hoje, incluindo China, são responsáveis por mais da
metade das emissões. Com todas as dúvidas, resta saber se a COP21, em Paris,
vai realmente aprovar um acordo avançado e vinculante para evitar um
aquecimento global acima dos dois graus em relação ao período pré-industrial ou
teremos outro fracasso relativo como foi o Protocolo de Kyoto. Caso não haja
acordo e nem decisões concretas, o mundo corre sério risco de um colapso
ambiental e com ele um colapso civilizacional. (ecodebate)
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