Fraudes no controle de
veículos a diesel e o aquecimento global
Nos últimos meses o aquecimento global tem sido
assunto de muita discussão, seja pelo aumento da temperatura nas últimas
décadas, como pelos seus possíveis efeitos sobre o clima, caso da seca que
castiga grande parte do país. Mas diversas dúvidas ainda rondam o tema,
especialmente sobre quais poluentes contribuem para a intensificação das
mudanças climáticas e o que está sendo feito para reduzir a sua emissão.
Nesse
contexto é importante abordar uma questão menos discutida, com a qual
convivemos diariamente, sem nos darmos conta de sua importância: o impacto que
o ozônio troposférico (O3) tem no aumento da temperatura da
atmosfera. Afinal, o gás carbônico (CO2), considerado pelos
especialistas como principal causa do aquecimento global, não é o único vilão neste
cenário.
Esse tipo
de ozônio é formado na região baixa da atmosfera, onde há vida, e é formado a
partir de reações químicas entre diversas substâncias, principalmente óxidos de
nitrogênio (NOx) e hidrocarbonetos (HC), na presença de luz solar intensa e
baixa umidade. Uma vez formado, o ozônio absorve parte da radiação
infravermelha que a superfície da Terra “reflete” após receber a energia solar
e, desta forma, pode contribuir para a elevação da temperatura na região onde o
fenômeno ocorre. Por isso, podemos dizer que O3 é um coadjuvante, de
caráter local, no processo de aquecimento global.
Além de
contribuir para o aquecimento da atmosfera, o O3 causa impactos
negativos na saúde, corrói e danifica materiais, prejudica a produção de
vegetais, a fauna e a flora.
O que
fazer para evitar ou minimizar a formação do O3?
Felizmente,
há soluções disponíveis. Os óxidos de nitrogênio, importantes precursores da
formação do O3, são formados fundamentalmente no processo de queima
de combustíveis, sendo que a principal fonte desses poluentes nas regiões
urbanas são os veículos à Diesel. O seu controle é mais complexo do que o dos
hidrocarbonetos, a outra importante classe de precursores, e requer o uso de
tecnologias especiais.
A boa
notícia é que já existe uma tecnologia de limpeza dos gases de escapamento do
motor capaz de reduzir a emissão dos óxidos de nitrogênio em cerca de 90%, e
que, por conta da legislação ambiental, já é utilizada no Brasil em caminhões e
ônibus produzidos a partir de 2012. Essa moderna tecnologia utiliza um tipo de
catalisador chamado SCR, por onde passam os gases gerados pelo motor antes de
serem lançados para a atmosfera. Porém, para que o catalisador funcione, é
preciso que um reagente químico, conhecido como ARLA 32, seja injetado nos gases
do motor. Este reagente e o catalisador transformam os óxidos de nitrogênio em
nitrogênio e água, dois compostos inofensivos à saúde e ao meio ambiente.
Contudo,
o impacto esperado na redução da emissão de óxidos de nitrogênio com a nova
tecnologia ainda não está sendo percebido. A causa são as fraudes que existem
no mercado para substituir o ARLA 32 por produtos piratas, de baixa qualidade,
ou por equipamentos eletrônicos ilegais que enganam o sistema de controle do
motor. O resultado é um aumento brutal na emissão desses poluentes, da ordem de
400%.
Desta
forma, perdem-se os investimentos feitos no desenvolvimento tecnológico dos
veículos pesados Diesel para que poluam menos e, consequentemente, a saúde da
população, o meio ambiente e o clima são castigados. Para evitar que essas
fraudes assumam proporções desastrosas é preciso que a sociedade organizada e
os órgãos públicos ajam rapidamente no seu combate. (ecodebate)
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