Mudança
de hábitos pode ser a chave para afastar o fantasma do racionamento
O
brasileiro convive mais uma vez com a necessidade de economia de recursos
básicos, como água e luz. O aumento das tarifas de energia elétrica e a falta
d’água em pontos variados do país são sinais de que algumas (ou muitas) coisas
não vão bem. Um exemplo claro é a recente implementação das bandeiras
tarifárias, que indicam ao consumidor quando a energia está mais cara ou quando
houve redução de cobrança, prática inédita no país.
De
acordo com o professor do ISAE/FGV e coordenador do MBA em Setor Elétrico da
instituição, Diogo Mac Cord de Faria, o Brasil está no limite de sua geração de
energia. A falta de gestão aliada a condições climáticas desfavoráveis, segundo
ele, é a receita do caos. Mac Cord explica que, atualmente, não construímos
mais usinas com reservatório, apenas a fio d’agua, como são chamadas as usinas
que operam apenas com o rio não represado. “Isso significa que, quando chove,
temos energia. Quando não chove, não temos. Com o Brasil entrando numa crise
econômica, as previsões são de retração no mercado elétrico, o que nos salva,
por hora, de um apagão ainda neste ano”, alerta Mac Cord.
A
solução, segundo o professor, é iniciar um racionamento moderado, evitando
consequências mais graves num futuro próximo. Nas residências, é possível
praticar cortes “simples” como a diminuição do uso do ar condicionado e do
chuveiro elétrico. Para Mac Cord, “este deve ser o principal objetivo dos
consumidores residenciais”.
Dados
X Soluções
A
margem de redução para o brasileiro é pequena, o que dificulta ainda mais as
opções de economia doméstica. O Banco Mundial indica que, enquanto os
brasileiros consomem 2.400 kWh por ano, os argentinos consomem quase 3.000 kWh.
Em outro comparativo, desta vez com os americanos, mostrou que utilizamos 20%
menos energia que eles. Esse cenário evidencia que é preciso buscar caminhos
alternativos para poupar mais. Entre eles, segundo o professor, estão a
construção de mais usinas com reservatórios e o planejamento cauteloso, “com
responsabilidade, mas sem preconceito”, de geração nuclear.
Sertão
urbano: como resolver?
A
crise hídrica também é fator preocupante e diretamente atrelado à crise
elétrica. Tudo por um motivo simples: o aumento da utilização das termelétricas
como medida preventiva ao uso das hidrelétricas elevou proporcionalmente as
tarifas de luz. Além disso, segundo o docente do ISAE/FGV, Cleverson V.
Andreoli, a falta de recursos para investimentos em diversas áreas fez com que
os governos diminuíssem a margem de segurança dos projetos hidráulicos, que
devem prever um grande período de recorrência para evitar comprometimento no
abastecimento público.
Uma
das soluções em longo prazo apontadas por Andreoli é a criação de legislações
mais estimulantes às boas práticas ambientais, como a construção de casas
sustentáveis que devem ser planejadas desde a concepção do projeto. “Leis excessivamente restritivas
acabam por prejudicar o meio ambiente. É preciso garantir a segurança, mas sem
desestimular ações sustentáveis importantes para evitar situações como as
vividas hoje”, explica o professor.
As
mudanças climáticas ampliam os extremos: as secas e as chuvas ficam mais
intensas e este fenômeno já começa a cobrar atitudes na rotina dos brasileiros.
Para Andreoli, não é preciso esperar o Governo decretar regras de racionamento,
uma vez que estamos numa situação de risco iminente. Entre as medidas práticas
que podem ser executadas para evitar o desperdício no dia a dia, estão:
*
Diminuir a carga de freezers e geladeiras e regular a temperatura;
*
Evitar o uso de equipamentos de grande consumo de energia elétrica em horários
de pico (das 18h às 21h)
*
Desligar da tomada equipamentos em stand by, como TVs e rádios;
*
Apagar a luz ao sair do recinto e desligar a televisão quando não estiver
assistindo;
* Na
compra de novos equipamentos elétricos e eletrônicos, dê preferência ao que tem
certificação de eficiência Procel;
*
Substitua as lâmpadas incandescentes por fluorescentes;
*
Passar toda a roupa de uma só vez, evitando consumo excessivo de energia;
*
Preferir chuveiros a gás. Caso não seja possível, reduzir o tempo de banho em
chuveiros elétricos;
*
Instalar descargas com função dupla, que dosam a quantidade de água despendida
por funcionalidade;
*
Fechar a torneira ao escovar os dentes ou se ensaboar;
*
Aproveitar água da chuva para reutilização em atividades domésticas.
(ecodebate)
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