COP21,
Paris: Proposta do Observatório do Clima sugere 35% de redução em relação às
emissões de 2010.
OC
lança proposta de meta para o Brasil em Paris. Documento aponta medidas para
limitar emissões de 2030 a 1 bilhão de toneladas de CO2 por ano.
As emissões de gases de efeito
estufa do país ficam limitadas a 1 bilhão de toneladas de gás carbônico
equivalente até 2030. O número representa 35% de redução em relação às emissões
de 2010. Para concretizar o plano, o Observatório do Clima lista o conjunto de providências
que devem ser asseguradas por políticas públicas, colaborando para que o
aumento da temperatura global não supere 2ºC.
O
Observatório do Clima (OC) lançou em 26/06/15 uma proposta que demonstra como o
Brasil pode chegar a 2030 limitando suas emissões de GEE (Gases de Efeito
Estufa) a 1 bilhão de toneladas de gás carbônico equivalente. O documento
sugere, no longo prazo, a neutralidade das emissões do Brasil e dos demais
países em 2050, reduzindo consideravelmente o risco que o aquecimento global representa
para o planeta.
O
documento divulgado está sendo chamado de INDC da sociedade civil. As INDCs —
sigla em inglês para Contribuições Nacionalmente Determinadas Pretendidas —
consistem em metas que todos os países deverão apresentar até 1º de outubro
deste ano para o novo acordo a ser assinado na 21ª Conferência do Clima das
Nações Unidas, que acontecerá em Paris no mês de dezembro.
O
governo brasileiro ainda não indicou as bases da INDC que levará para a reunião
da França. O pacto internacional que será fechado lá almeja que o aumento da
temperatura global não ultrapasse 2ºC — consenso científico e político entre os
governos mundiais de limite máximo para evitar mudanças catastróficas.
Mesmo
com todas as projeções de crescimento do PIB do Brasil, da população, da
produção industrial e agropecuária, o número indicado para as emissões do país
em 2030 significa uma redução de 35% do total estimado em 2010, marco da
implementação da Política Nacional de Mudanças Climáticas no país.
O
Brasil é um dos dez maiores emissores de CO2 do planeta. E, devido
ao desmatamento descontrolado da última metade do século 20, contribuiu
significativamente para o aumento verificado da temperatura global. Ao
contrário do que ocorreu em outros países poluidores, a maior parte das
emissões históricas do Brasil, causadas pela destruição da Amazônia, não gerou
desenvolvimento. Um elemento-chave de proposta da sociedade civil para 2030 é
que o país zere a perda de vegetação nativa.
Especialistas
do Observatório do Clima discutiram várias opções de desenvolvimento de baixo
carbono. “A sociedade civil está se antecipando ao governo, que ainda não
apresentou as metas”, afirma Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. Segundo
ele, a proposição lançada pelo Observatório é plenamente realizável, pois conta
com tecnologias disponíveis e em ampla utilização aqui.
Simultaneamente
à proposta, está sendo apresentada uma nota técnica com medidas voltadas aos
diferentes setores da economia. “Estamos mostrando que é possível para o país
dar uma contribuição justa e ambiciosa, que seja ao mesmo tempo boa para o
clima, reduzindo riscos, e boa para a economia, trazendo oportunidades em
setores nos quais o Brasil já tem vantagens comparativas”, diz Rittl.
Crescimento
responsável
Na
prática, os especialistas criaram um caminho das pedras para uma economia de
baixo carbono, demonstrando o conjunto de ações de adaptação às mudanças
climáticas para os próximos anos, com base na realidade nacional. “Queremos
assegurar à Presidente Dilma Rousseff que ela pode assumir essa meta para a
redução de emissões porque temos condições de implementá-la. Pode ser o
empurrão de que precisamos para formalizarmos um acordo global de clima que
garanta não ultrapassarmos os 2°C de aumento de temperatura global”, salienta Tasso
Azevedo, coordenador do SEEG, o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de
Efeito Estufa do OC.
No
setor elétrico, está em pauta congelar a expansão de fontes térmicas de energia
fóssil. Por isso, as principais providências estão relacionadas ao aumento de
energia solar fotovoltaica distribuída, energia de biomassa (queima de bagaço
de cana em termelétricas) e energia eólica, garantindo segurança energética em
períodos de baixo nível de água em reservatórios de usinas hidrelétricas que
fazem parte do Sistema Interligado Nacional. “Se o Brasil decidir olhar para
sua vocação e potencial naturais, que são as energias renováveis como a solar e
a eólica, vai mostrar que está disposto a fazer sua parte no que diz respeito à
eletricidade”, afirma Ricardo Baitelo, coordenador da campanha de Clima e
Energia do Greenpeace Brasil.
Pastos
e veículos otimizados
Na
área de transportes, as proposições se baseiam no que já está previsto na
Política Nacional de Mobilidade Urbana, lei de 2012 que preconiza a ampliação da
oferta de transporte público de passageiros e o estímulo para que as pessoas
troquem o transporte individual pelo coletivo ou pelo não motorizado.
Focando
em combustíveis, prevê-se o abandono gradual do uso de óleo diesel em ônibus
urbanos nas regiões metropolitanas, em favor da eletricidade, bem como a adoção
de fontes de energia mais limpas nos automóveis (prevalência de etanol e
baterias). O plano é retomar o programa do álcool combustível para haver 80
bilhões de litros disponíveis e rodando na frota em 2030. “É uma meta
ambiciosa, mas viável, se houver decisão política”, afirma André Ferreira,
diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), responsável
pelos cálculos nesse quesito.
Quanto
ao transporte rodoviário de carga, sugere-se aumentar a mistura de biodiesel no
diesel de petróleo para 20%, o chamado B20, além de adaptação da frota às
melhores práticas internacionais (caminhões e carros de melhor desempenho e
menos poluentes).
Na
agropecuária, para fazer frente ao crescimento do rebanho, projetado para mais
de 260 milhões de cabeças, será necessário recuperar 18 milhões de hectares de
pastagens degradadas e implementar 3,5 milhões de hectares de integração
lavoura-pecuária-floresta. Outras medidas que reduzirão as emissões do rebanho
bovino são: o aumento da qualidade das pastagens, a suplementação animal e a
redução da idade de abate. O volume de tratamento de dejetos de animais também
precisa dobrar. “Devemos aumentar a eficiência, sobretudo da pecuária de corte,
o que traz ganhos para o produtor”, explica Marina Piatto, do Imaflora, que
produziu as estimativas desse setor.
A
expansão das áreas de lavoura, estimada em mais de 20 milhões de hectares,
requererá que 70% da área de produção de grãos (83 milhões de hectares em 2030)
adote o sistema de plantio direto e priorize o uso de variedades que realizam a
fixação biológica de nitrogênio.
Etapas
de evolução
Todos
esses parâmetros para as políticas públicas devem estar relacionados no Plano
Nacional de Adaptação às Mudanças do Clima, que os pesquisadores preveem que
fique pronto até 2016. Ele consistirá num conjunto de metas para redução dos
impactos sobre as populações e ecossistemas mais vulneráveis, incorporando
planos de desenvolvimento e o conhecimento científico mais recente para abordar
as características das diferentes regiões e dos setores econômicos.
O
texto da INDC também indica que a redução sistemática e anual das emissões
ocorrerá a partir de 1º de janeiro de 2021. Daí em diante, elas ficam cada vez
mais limitadas ao longo de dois períodos de cinco anos, até que, em 2030, a
emissão de GEE atinja a meta de máxima de 1 bilhão de toneladas de gás
carbônico equivalente.
Em
termos de viabilização financeira, os governos terão de assegurar que, até
2020, todos os seus planos plurianuais e orçamentos federais anuais já incluam
recursos claros para financiamento das ações necessárias à consecução da INDC.
(ecodebate)
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