Consórcio
quer 31% da água do Cantareira nos últimos dez anos
Cidades e
empresas do CPJ defendem que divisão com Grande SP seja proporcional ao n° de
habitantes que dependem do manancial.
O consórcio que representa cidades e empresas da Bacia dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) quer ficar com 31% da água do Sistema
Cantareira nos próximos dez anos. A associação da região de Campinas defende
que a divisão do estoque com a Grande São Paulo na próxima outorga seja
proporcional ao número de habitantes que dependem do manancial. Pelas regras
atuais, o interior tem direito a captar 14% do sistema.
Na proposta, o consórcio pede que os 4 milhões de pessoas da
região diretamente dependentes do Cantareira tenham direito a uma captação
máxima de 10 mil litros por segundo, enquanto que a Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) ficaria com 24 mil l/s para atender a
cerca de 9 milhões de moradores da região metropolitana.
Rio Atibaia que junto com o Jaguari forma o
Rio Piracicaba
A divisão, segundo o consórcio, já leva em conta a redução da
capacidade de regularização da água do Cantareira apontada em estudo feito para
o consórcio pelo diretor do Departamento de Recursos Hídricos da Unicamp,
Antônio Carlos Zuffo. De acordo ele, a vazão máxima de retirada do manancial é
de 34 mil l/s com 95% de segurança.
"Os valores de vazão propostos pelo Consórcio PCJ levam
em conta que o aumento populacional das duas regiões durante o período da
outorga, que deve ser aprovado para o máximo de 10 anos, serão supridos por
outras fontes de abastecimento viabilizadas pelo governo do Estado, como o
Sistema Juqueri, a transposição do Rio Paraíba do Sul e a construção dos
reservatórios nas Bacias PCJ", afirma o consórcio.
Pelas regras da outorga assinada em 2004, a Sabesp tem
direito a 31 mil l/s de retirada do sistema, e o PCJ a 5 mil l/s.
A proposta do consórcio foi apresentada ao comitê das Bacias
PCJ, que é responsável por apresentar a proposta oficial da região para a
Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento de Águas e Energia Elétrica
(DAEE), órgãos gestores do manancial. Isso deve ser feito no mês que vem. Em 2013,
o comitê PCJ havia pedido 8 mil l/s para o interior.
A outorga do Cantareira deveria ter sido renovada em 2014,
mas foi adiada para outubro deste ano por causa da crise hídrica no sistema, a
pior em 84 anos de registros. A Sabesp já encaminhou aos órgãos reguladores o
pedido para manter o direto de captar 31 mil l/s dos reservatórios do interior,
além de 2 mil l/s da Represa Paiva Castro, totalizando 33 mil l/s. Para a
empresa, o interior também ficaria com a
mesma quantidade de água.
A estatal afirma que é possível manter a retirada máxima de
água do sistema, mesmo após a crise, mudando as regras de operação dos
reservatórios. A companhia sugere que um modelo que "antecipa reduções
gradativas de retirada de água com base em um indicador do estado do sistema".
Ou seja, se a entrada de água nas represas cai, a retirada para o abastecimento
da Grande São Paulo e interior também é reduzida. A Sabesp quer ainda que a
nova outorga seja por 30 anos.
Neste mês, o Estado mostrou que se considerada as duas
propostas feitas antes do adiamento da outorga por causa da crise, a quantidade
máxima de água a ser retirada do Cantareira supera em 12,6% o volume médio que
entrou no sistema nos últimos dez anos. Segundo dados atualizados pela ANA e
pelo DAEE, entre 2004 e 2014, o manancial recebeu apenas 36,4 mil l/s, volume
18,7% menor do que o registrado na série histórica de 1930 a 2003: 44,8 mil
l/s.
Como outros países lidam com
escassez de água.
O estado da Califórnia,
nos Estados Unidos, tem enfrentado problemas por causa de secas. O
primeiro passo para reverter a situação foi implantar o racionamento de água em
25%, com pagamento adicional de uso excessivo. O racionamento teve uma
resistência inicial da população, mas foi significativo. Mesmo após a passagem
do período de seca, as restrições foram mantidas. Estudos atuais mostram uma
demanda constante, estável, resultado da economia e comprometimento dos
usuários.
Em Israel, a água é escassa. O país tem um déficit de
45% de água. A Lei da água de 1959, estabelece, entre outras coisas, que o dono
da terra não é o dono da água. Além disso, o recurso tem um preço e o valor
arrecadado é aplicado na melhoria da infraestrutura hídrica e da rede de
abastecimento.
O Uruguai
está em 1º lugar na América Latina no abastecimento de água potável, com um
atendimento de 98% da população. O país conta com uma empresa de água de 130
anos de história e tem 120 plantas potabilizadoras. Este sistema permitiu a
ampliação do abastecimento, a UPA é transportável e de rápida instalação e
funcionamento, sendo uma boa solução para a situação de escassez.
O México
tem uma baixa disponibilidade hídrica e má distribuição de água no seu
território. O modelo de planejamento e gestão da água comtempla também o
enfrentamento das secas. Cada região hidrográfica possui um programa específico
de medidas contra a falta de água. O México tem uma experiência de sucesso na
área de pagamento por serviços ambientais, chamado Fundo da água que envolve
governo, setor privado e sociedade civil. O Fundo da Água tem como objetivo
demonstrar a importância da preservação dos ecossistemas para a segurança
hídrica.
Na
Espanha há um planejamento de longo prazo para a questão hídrica, revisto a
cada 6 anos. Há ainda projetos relevantes como o trasvase Tajo Segura; ao uso eficiente
na irrigação; a sessão de direitos de água entre usuários; a dessalinização e a
reutilização. Entre 2001 e 2010, foi estabelecido um plano para o sistema geral
de regeneração e reutilização de águas residuais urbanas de região de Murcia
que é o maior projeto de reutilização do mundo, premiado internacionalmente.
No Japão,
é utilizado um “manual geral sobre medidor contra a seca”, dividido em 3
partes: informações gerais, ações preventivas e ações durante a seca. Algumas
medidas adotadas pelo país foram gestão da pressão, controle por medidores e
reparos rápidos de instalações (detecção e conserto de vazamentos). O Japão
adota a reutilização de águas residuais e pluviais.
A China
aconteceu de ter uma seca intensa de 2009 a 2011, que impactou significadamente
a economia do país, medidas estruturais foram adotadas, como investimento em
infraestrutura hídrica, projetos de emergências para secas e de reservação de
água, bombeamento/transferência de água e armazenamento.
A
Austrália superou a seca com a construção de represas a mudança no padrão
produtivo da economia. Diante dos problemas na década de 80, foi necessário
estabelecer direitos claros, envolver as comunidades e desenvolver sistemas de
comercialização da água. Foi essencial uma estrutura cooperativa e
multifacetada.
Cingapura
é um país pequeno, que lida com um cenário de pouca, nos últimos 50 anos. O
país reutiliza água, importa recursos da Malásia e desenvolveu represas para
água da chuva e dessalinização. Cingapura tem 100% de abastecimento de água
potável e 100% de saneamento, com instalações modernas e não poluem as fontes
hídricas. (OESP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário