Nenhuma nação com superávit na balança comercial
pode ser considerada sustentável com sua balança ambiental deficitária.
Em
13/05/15 foi anunciado o “dia da sobrecarga ecológica”. A partir desse dia até
o final do ano, tudo que for consumido o planeta Terra não terá condição de
repor. A humanidade, a partir desse dia fica em dívida com o meio ambiente.
Este indicador é uma estimativa da ONG Global Footprint Network, levando em
conta as pegadas de carbono e atividades econômicas como a pesca, pecuária,
agricultura, construção e água.
Segundo
a mesma ONG, este déficit ambiental vem ocorrendo mais cedo a cada ano. Em 1970
o “dia da sobrecarga ecológica” ocorreu em 23 de dezembro. Em 1980 em 3 de
novembro. Em 1990 em 13 de outubro. Em 2000 em 4 de outubro. Em 2005 em 3 de
setembro e em 2010 em 28 de agosto. Neste ritmo não se sabe até quando estas
mensurações serão possíveis. Segundo suas estimativas seriam necessários 1,6
planetas para atender o consumo atual da humanidade.
A
balança comercial é o indicador econômico que representa a relação entre o
total de exportações e importações de bens e serviços de um país em determinado
período. Quando o total de exportações de bens e serviços for superior ao total
de importações, registra-se um superávit no saldo da balança comercial. Quando
o total de exportações for inferior ao total de importações, registra-se um
déficit.
O
superávit da balança comercial é considerado um fator positivo na economia de
um país, já que mostra que o mesmo está exportando (vendendo) mais bens e serviços
do que está importando (comprando). O resultado positivo da balança
comercial gera um lucro que pode ser utilizado para investir no próprio sistema
econômico do país.
Seria
interessante que as nações também quantificassem sua “balança ambiental”, para
estabelecer um parâmetro de sustentabilidade em suas cadeias produtivas. Se a
“balança ambiental” do planeta vem apresentando déficit em elevação a cada
década, isso significa o somatório de uma economia predatória das nações em
todo o mundo. Representa o aviltamento de recursos ambientais para as gerações
futuras, comprometendo até mesmo no – curto prazo – o superávit da balança
comercial, principalmente das nações mais pobres.
A
pesca predatória é responsável pelo colapso dos estoques pesqueiros, extinção
de espécies, desequilíbrio ecológico e falência econômica de populações que
dependem dos mares para sobreviver. A pesca industrial se tornou altamente
sofisticada na captura dos cardumes em contraponto ao necessário estudo da
reposição dos estoques. Segundo a ONG americana Save the Seas houve uma redução
de 90% dos estoques pesqueiros em todo o mundo. Há previsões de extinção de
espécies nobres. A FAO relata que mais de 70 milhões de tubarões são capturados
anualmente para abastecer o mercado asiático de barbatanas. Com menos tubarões
houve o aumento de 12 vezes da população de arraias, como consequência do
desequilíbrio ecológico nos EUA.
Segundo
a FAO a pecuária já é responsável pela emissão de 18% dos GEE. A preocupação é
que o setor poderá crescer em 70% até 2050. Estima-se que o setor pecuário
emite 7,1 gigas toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2-eq)
por ano, representando 14,5% de todas as emissões induzidas por humanos. A
produção de bovinos de corte e de leite é responsável pela maioria das
emissões, respectivamente contribuindo com 41% e 19% das emissões do setor. A
produção de carne suína e de frango/ovos contribuem, respectivamente, com 9% e
8% com as emissões do setor. Porem é possível reduzir essas emissões com boas
práticas, inclusive com redução do desmatamento com a eficiência da carga
animal por unidade de área,
A
FAO afirma que haverá um acréscimo de 70% na demanda por alimentos oriundos da
agricultura para suportar uma população estimada em 9 bilhões de pessoas em
2050. O desafio será atender essa demanda via aumento de produtividade ou pela
expansão de novas áreas, com repercussão na elevação dos índices de
desmatamento. Em ambas as alternativas haverá pressão sobre o meio ambiente.
É
claro que para atender uma estimativa de crescimento da população mundial de
30% até 2050, haverá uma demanda na área de construção, tanto habitacional
quanto de logística de mobilidade, principalmente em países superpopulosos como
Índia e China. Estimativas dão conta de que nos últimos dois anos a China
gastou em ferro e cimento o equivalente a 100 anos de consumo dos EUA, para
construir a mesma equivalência em estruturas de mobilidade, engenharia e
urbanização.
Quanto
ao consumo de água todos estão cientes e alguns já vivenciam experiência calamitosa.
Estimativas dão conta que quase 800 milhões de pessoas não tem acesso à água no
mundo. Em muitos casos o problema não é a falta de água, mais a qualidade de
água, pois algumas populações experimentam restrições de consumo as margens de
um manancial ou rio extremamente poluído. Este recurso está diretamente
vinculado à demanda de 70% de alimentos para os próximos 40 anos, pois a
agropecuária é responsável por 70% do consumo de água.
Se
nada for feito para reverter o crescente hábito de consumo desenfreado o
destino final será a escassez de recursos para as futuras gerações. Nenhuma
nação com superávit na balança comercial pode ser considerada sustentável, com
sua balança ambiental deficitária. Tomara que a Conferência de Paris seja a luz
no fim do túnel. (ecodebate)
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