Sempre
foi uma ideia recorrente na civilização humana, a construção de jardins
suspensos. Mas agora nem se trata disto, se busca uma humanização maior nas
selvas de pedra, integrando a natureza e humanizando um pouco as relações, ao
reintegrar o ser humano em suas origens.
Os
clássicos jardins suspensos foram construídos na Babilônia, atual Iraque, pelo
místico rei Nabucodonosor, no século VI antes de Cristo e se tornaram uma das
sete maravilhas do mundo, embora não tenham sido encontrados muitos registros
arqueológicos que possibilitassem sua reconstituição ao menos em narrativas.
Mas foi obra épica empreendida na chamada Mesopotâmia.
Destaca
a lenda que, os jardins foram construídos para satisfazer as vontades da esposa
preferida do rei, chamada Amitis, trazida de região montanhosa, com campos e
florestas. Raros registros narram a existência de seis terraços, construídos
como andares, passando a sensação de serem suspensos. Os andares tinham
aproximadamente 120 m3 e eram apoiados por imensas colunas que os
registros indicam que chegavam a medir mais de 100m.
A
denominação de jardins suspensos vem de narrativas gregas e não corresponde à
realidade, como se viu. Concebido por arranjos arquitetônicos arrojados, a
construção em terraços fazia uma simulação de elevações. As árvores ao topo,
observadas à distância faziam se perpetuar a ilusão de se tratarem de
montanhas. Árvores frutíferas e águas que desciam por cascatas, complementavam
o cenário.
O
“high line” ou linha alta em Nova Iorque é um parque linear, de aproximadamente
2,5 km, construído no ano de 2009 numa antiga linha férrea elevada, já
abandonada da cidade. E esta obra já está inserida em contexto que busca
reintegrar o ser humano com a natureza, da qual faz parte. O “high line” se
situa a 8 metros de altura e tem sentido e extensão linear, atravessando 3
bairros da cidade que são relativamente pouco visitados por turistas. Mas
igualmente a iniciativa se tornou emblemática e simbólica do sentimento ou
sensação de resgate do meio natural, em meio às selvas urbanas.
A
antiga linha férrea foi construída com esta finalidade na década de 30 do
século passado, quando indústrias e empresas de transporte eram hegemônicas na
área. Estes espaços físicos foram agora convertidos em galerias de arte,
estúdios de design, lojas, restaurantes, museus e residências.
Não
se sabe se o processo de participação pública para patrocinar esta
transformação ocorreu e de que forma se desenvolveu, mas certamente a
influência de formas organizadas ou informais de exercício de cidadania devem
ter concorrido para patrocinar este resgate de cenário tão peculiar, pitoresco
e significativo na vida da metrópole.
É
certo que no atual contexto são apenas iniciativas que guardam extrema
simbologia, além de caracteres que podem marcar a vida das metrópoles ou das
cidades. A transformação do chamado “Minhocão” em São Paulo em mais uma destas
obras, cuja efeméride é marcante para toda a vida urbana, pode representar uma
data com extremo simbolismo, onde a “selva de pedra” da urbanidade resgata um
pouco de suas origens naturais e demarca uma nova perspectiva na urbanização.
Que privilegia áreas verdes sobre infraestrutura de trânsito e outras
necessidades urbanas, que são então redimensionadas na consciência e até no
imaginário popular.
Ninguém
desconhece que as cidades tem que ter desafogamento de trânsito, montagens
adequadas de infraestruturas de transporte e outras necessidades. Mas o aspecto
simbólico envolvidos nas transformações de viaduto de tráfego em área verde,
são profundamente vinculadas com alterações de paradigmas, que envolvem
redefinição de valores, e englobam aspectos fundamentais de toda a vida da
cidade para o futuro.
Sempre
que houverem conflitos estabelecidos entre estruturas urbanas e áreas verdes ou
sítios de preservação, a tendência é que se materializem sensações favoráveis
que encorpem a viabilização das áreas verdes ou das localidades de preservação.
Esta mudança paradigmática pode ser representada pela implantação da área verde
e a nova paisagem estabelecida.
Ninguém
será quixotesco de representar interesses que resgatem vidas em cavernas, ou em
situações de extrema ausência de conforto ou praticidade. Mas é necessário
buscar rupturas e apostar que as mesmas carreguem simbologias capazes de
alterar estigmas arraigados e situações implantadas sem qualquer consulta ou
aceitação das parcelas envolvidas da população.
O
“minhocão” já é incorporado como área livre de tráfego para uso de pedestres em
fins de semana e outras oportunidades. Não representaria alteração insolúvel de
problema de trânsito ou de infraestrutura urbana em geral, se houvesse sua
incorporação definitiva como área de lazer, viabilizando o resgate da natureza
numa área altamente urbanizada da cidade de São Paulo. (ecodebate)
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