A crise no mercado de trabalho e a
desindustrialização precoce do Brasil
O
mercado de trabalho no Brasil já vem apresentando baixo desempenho desde 2012.
Embora a taxa de desemprego estivesse baixa até o final de 2014, a criação de
emprego não estava acompanhando a população em idade ativa. Agora em 2015 a
crise bateu feia.
Segundo
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE,
iniciada em janeiro de 2012, a taxa de desemprego subiu para 8,0% no trimestre
até abril deste ano, o maior nível já observado na série histórica. Para uma
população economicamente ativa de cerca de 100 milhões de pessoas, o número de
desempregados chegou a 8 milhões pessoas.
Os
dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do
Trabalho, mostram que o emprego formal vem caindo mês a mês nos últimos 5 anos.
Em 2010, houve uma criação de aproximadamente 300 mil vagas tanto no mês de
abril, quanto em maio. Nos anos seguintes, a geração de emprego celetista foi
diminuindo, mas se manteve positiva durante todo o período até 2014.
Porém,
os dados do CAGED, mostram que foram eliminados 97.828 empregos celetistas em
abril e 115.599 empregos em maio de 2015. Na série ajustada, que incorpora as
informações declaradas fora do prazo, no acumulado do ano os dados mostram um
decréscimo de 243.948 empregos, ou -0,59% do estoque de assalariados com
carteira assinada. Nos últimos 12 meses a redução foi de 452.835 postos de
trabalho (1,09% no contingente total de celetistas). No ritmo atual, o ano de
2015 deve terminar com a eliminação de cerca de um milhão de empregos formais
no país.
Segundo
dados da Pesquisa Mensal de Emprego (PME), a taxa de desemprego nas seis
principais regiões metropolitanas do país foi de 6,7% em maio de 2015, o quinto
aumento consecutivo, conforme divulgou o IBGE. Trata-se da maior taxa desde
julho de 2010 (6,9%), retornando, portanto, ao período anterior ao do primeiro
governo Dilma Rousseff (2011 a 2014). Levando-se em contas, os meses de maio, é
a maior taxa desde 2010 (7,5%). A população desocupada nas seis regiões
metropolitanas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto
Alegre) da PME foi de 1,6 milhão de pessoas em maio de 2015.
Entre
os adolescentes de 15 a 17 anos a taxa de desemprego foi de 30,7% em maio de
2015. Entre os jovens de 18 a 24 anos foi de 16,4%. Entre as pessoas de 25 a 49
anos o desemprego foi de 5,6% e entre aqueles de 50 anos e mais a taxa foi de
2,6% em maio. Arranjar o primeiro emprego está cada vez mais difícil.
Ainda
segundo a PME, o rendimento médio real do trabalho principal, habitualmente
recebido por mês, pelas pessoas de 10 anos ou mais de idade, ocupadas no
trabalho principal da semana de referência era de R$ 2.229,28 em maio de 2014 e
caiu para R$ 2.117,10 em maio de 2015, uma queda de 5% no último ano.
A
crise do emprego e do rendimento tem a ver com o processo de
desindustrialização precoce do Brasil. Uma das formas de medir a
desindustrialização é quando a produção industrial perde participação no PIB. A
desindustrialização precoce tem caráter negativo, pois prejudica a criação de
emprego formal, reduz o estoque de capital por trabalhador e interrompe o
processo de avanço tecnológico que viabiliza o aumento da produtividade. O
gráfico abaixo retirado do Panorama da indústria de transformação brasileira,
da FIESP (2014), mostra que a participação da indústria no PIB está abaixo
daquela que existia antes do governo Juscelino Kubitschek. O ritmo de queda se
acelerou depois da abertura do governo Fernando Collor e voltou a cair muito
nos últimos 10 anos. Em geral, a sobrevalorização cambial (a chamada “doença
holandesa”) contribui para a desindustrialização precoce, que por sua vez,
contribui para a redução da produtividade e para a “especialização regressiva”
da estrutura produtiva do país.
Em
mais um capítulo do processo de desindustrialização e da crise da cadeia
produtiva da Petrobras, a direção do estaleiro do Estaleiro Mauá, em Niterói,
divulgou uma circular no dia 02 de julho de 2015 comunicando o fechamento das
portas da empresa até que se adeque as questões financeiras. O comunicado pedia
que os trabalhadores permaneçam em casa. Se confirmarem esse fechamento haverá
mais dois mil trabalhadores demitidos. O Sindicato dos Metalúrgicos de Niterói
repudiou, as posições da direção do Estaleiro Mauá e a péssima gestão
financeira da empresa. O sonho do pré-sal como alavancador da indústria
nacional está indo por água abaixo. O Estaleiro Mauá – um dos mais tradicionais
do país – é apenas um exemplo da situação de caos que vive o setor da indústria
da transformação no país e aponta para um agravamento da crise do desemprego. O
desemprego também cresce no município gaúcho de Charqueadas, onde a Petrobras
rompeu um contrato com a empresa Iesa Óleo e Gás (envolvida na Operação Lava
Jato) para a construção de 24 módulos para seis plataformas, que agora serão
produzidas na Ásia.
O
fim do mito do pré-sal agrava a situação da industrialização brasileira. Desde
a década de 1980 o Brasil tem investido mais na construção de shopping centers
do que na construção de fábricas. O contrário do que fazem os países do Leste
Asiático. Ou seja, o Brasil tem privilegiado o consumo ao invés do
investimento. A baixa formação bruta de capital fixo faz com que o país não
incorpore novas tecnologias, não melhore a infraestrutura e não garanta o
aumento da produtividade do trabalho. Também não gera oportunidades de emprego
no ritmo necessário para acompanhar a população em idade economicamente ativa.
Como
visto, a industrialização está em baixa e o desemprego está em alta, qualquer
que seja a fonte utilizada. O rendimento também está em baixa. As perspectivas
para o restante do ano de 2015 não são boas e o Brasil pode estar desperdiçando
os últimos anos das condições demográficas favoráveis. Subaproveitar o
potencial da força de trabalho e regredir na estrutura produtiva é o mesmo que
jogar fora qualquer possibilidade de progresso e eliminar qualquer futuro
promissor para o país. A crise política só agrava a situação econômica. O
governo Dilma Rousseff está completamente perdido e o povo brasileiro vai pagar
a conta dos malfeitos. O Brasil tem uma população 20 vezes maior do que a da
Grécia. Nosso tombo pode ser, portanto, 20 vezes maior e mais grave.
(ecodebate)
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