Fontes
alternativas de água para uso residencial: possibilidades e riscos
A
escassez de chuvas que ocorre em boa parte do país afetou milhões de pessoas de
diversas formas. Grandes cidades, como São Paulo, adotaram alterações no
fornecimento, a fim de manter os reservatórios em níveis capazes de atender,
ainda que com limitações, suas populações no longo prazo. Embora bastante
negativo, esse quadro acabou por gerar uma conscientização de que o uso da água
precisa ser revisto. Cresceu significativamente a busca por fontes
alternativas, como sistemas de captação de água das chuvas e a utilização de um
tratamento suplementar aos efluentes de Estações de Tratamento de Esgotos
(ETEs) capazes de melhorar a qualidade da água a ponto torná-la adequada para
alguns tipos de reuso. São iniciativas que, se por um lado reduzem o
desperdício e acabam por promover um uso mais racional desse recurso, se não
forem planejadas por especialistas e habilitadas pelos órgãos competentes,
podem resultar em graves consequências. É o caso da grande maioria dos poços
artesianos que são perfurados atualmente.
O
DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) é o órgão que controla a
perfuração de poços no Estado de São Paulo. Além de expedir as outorgas,
realiza estudos que revelam a presença de água subterrânea, a viabilidade de
seu uso e para quais fins são indicados. Apesar de sua fiscalização, a maioria
absoluta desses poços é clandestina e opera de forma inadequada. Entre outros
problemas, pode contaminar aquíferos, particularmente quando são desativados. É
o que ocorre atualmente em Ribeirão Preto. Conforme o Plano de Saneamento
Básico do município, há 82 poços nessas condições que afetam o Aquífero
Guarani, reservatório subterrâneo com capacidade de 37 milhões de quilômetros
cúbicos de água que ocupa 1,2 milhão de km², abrangendo áreas de Uruguai,
Argentina Paraguai e, principalmente, Brasil.
Outro
fator é a exploração excessiva, que compromete os níveis dos aquíferos. Ainda
no caso Aquífero Guarani, o Programa Estratégico elaborado por pesquisadores
dos quatro países em 2009, elencou a perda de capacidade do reservatório como
consequência da extração em níveis superiores à recarga. Como uma das soluções,
propõe a restrição da perfuração de poços.
O
nível dos impactos depende da capacidade do aquífero e do quanto dele é
retirado. A popularização dessa alternativa entre condomínios em grandes
cidades resulta em grandes perdas. Boa parte da capital paulista situa-se sobre
o Aquífero São Paulo, que ocupa cerca de 1.000 km² que abrangem ainda
Guarulhos, São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes e outras cidades. A vazão
recomendada para o reservatório é de 2,8 litros por segundo, podendo chegar a
11 litros por segundo. É difícil dimensionar, por exemplo, o impacto de
condomínios que optaram por essa solução na cidade. No caso de um que possua
100 apartamentos, cada habitado por cinco pessoas, o consumo giraria por volta
de 100 mil litros diários (200 litros por morador).
Além
dos danos ambientais, a abertura de poços sem a autorização dos órgãos
responsáveis expõe a população a graves problemas de saúde. Sem uma prévia
análise técnica, corre-se o risco do uso de água proveniente de aquíferos
situados em solos contaminados. Esse tipo de comprometimento, muito comum em
grandes cidades, inviabiliza o uso da água de poços tanto para fins comerciais
quanto residenciais. Resulta da atividade de postos de combustíveis, empresas
ligadas à estocagem e comércio de materiais químicos, indústrias petrolíferas,
de agrotóxicos e metalúrgicas. Hoje, no Estado de São Paulo, esses passivos ambientais
são os principais limitadores de empreendimento imobiliários. A descontaminação
é trabalhosa, demorada e inviável economicamente.
A
água de reuso pode atender a fins menos exigentes quanto à qualidade e, dessa
forma, reduzir o consumo da água tratada, que deve ter como destino usos mais
nobres. Entende-se por reuso o reaproveitamento de águas utilizadas após
tratamento adequado à atividade a que se destina. Um projeto nesse sentido deve
priorizar o tratamento de água que já foi utilizada. Esse processo exigirá
investimentos cuja compensação dependerá principalmente da qualidade exigida
para o fim desejado. Equipamentos disponíveis no mercado brasileiro afirmam
apresentar um payback (tempo de retorno do investimento) num período de três a
seis anos. No caso de águas cinza (sem esgoto urbano ou industrial), o payback
pode chegar a um ano e meio. É comum também comum se considerar como reuso o
aproveitamento de águas de chuva que são captadas em telhados, coberturas e
pisos e acumuladas nas chamadas cisternas.
Já o
reuso de água proveniente de chuveiros e lavagem de roupa é bastante viável
economicamente, principalmente para se regar plantas, lavar o chão ou mesmo em
descargas, atividades em que o uso de água tratada configura desperdício que
não exigem que a água seja tratada. Na maioria das residências, exigirá
adaptações no encanamento. O retorno do investimento dependerá tanto do projeto
quanto do consumo. Um projeto de reuso de água deve considerar, primeiramente,
a qualidade da água a ser reusada e a qualidade exigida pelo futuro
aproveitamento. Esta questão deverá definir a metodologia (processos de
tratamento) a ser aplicada no tratamento e o seu custo. (ecodebate)
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