O
Brasil é grande produtor de proteína originada de vários animais terrestres, e
de grãos, mas ainda não deu o mesmo passo para se tornar grande “player” também
de produtos advindos da aquicultura, embora seja um país muito bem aquinhoado
de recursos hídricos de águas doces ou águas salobras e de condições
geográficas e paisagísticas para isto. A aquicultura é o desenvolvimento de
todo e qualquer tipo de organismo cujo ciclo evolutivo que ocorra em condições
naturais, seja registrado total ou parcialmente em meio aquático.
O
Brasil ainda tem que despertar, e isto está ocorrendo lentamente, para seu
potencial de aquicultura. A aquicultura tem enorme potencial. Sobre o
território de 1 hectare de terra, normalmente se produz de 800 a 900 kg de
carne ao ano, como normalmente se denomina, de proteína animal. Mas por
exemplo, o potencial de cultivo de tilápia em tanques com aproximadamente a
mesma área, pode chegar a 10 toneladas, ou seja mais de 10 vezes o que se
produz em campos secos.
Existem
registros que os chineses já dominavam estas técnicas há muito tempo e que a
civilização egípcia por exemplo, já tinha conhecimento do ciclo de produção de
tilápia em aquicultura há 4 ou 5 milênios da época atual. A denominação de
aquicultura é utilizada mais classicamente para a produção a partir de água
doce, enquanto o termo maricultura é usada para produção a partir de água
salgada em ambientes litorâneos ou em mar aberto.
VALENTI
(2.002) define a aquicultura sustentável como sendo “A aquicultura sustentável
pode ser definida como a produção lucrativa de organismos aquáticos, mantendo
uma interação harmônica duradoura com os ecossistemas e as comunidades locais”.
A aquicultura envolve as atividades de piscicultura que é a criação de peixes
em tanques ou redes em ambiente marinho ou lacustre. A malacocultura que
envolve a produção de moluscos como ostras, mexilhões, caramujos e vieiras. A
carcinicultura que é o cultivo de camarões em viveiros. A algicultura que é a
produção de algas ou microalgas. A ranicultura que compreende o cultivo de rãs,
e finalmente a atividade de criação de jacarés.
VALENTI
(2.002) aprofunda a abordagem de sustentabilidade na aquicultura, destacando
que “entende-se por sustentabilidade, o gerenciamento e conservação da base de
recursos naturais e a orientação tecnológica e institucional, de modo que
assegure a contínua satisfação das necessidades humanas para as gerações
presentes e futuras”.
Em
atividades profissionais desenvolvidas há tempos, ocorreu registrar que um dos
maiores impactos ambientais da atividade de piscicultura se relacionava com
contaminações que podiam ser perpetradas pelo uso intensivo de antibióticos
próprios para utilização com esta finalidade e que pudessem sofrer alguma forma
de descontrole que gerasse contaminação. As atividades vinculadas a aquicultura
são múltiplas utilizando tanto recursos naturais como manufaturados e exigindo
ampla preparação e treinamento de recursos humanos e adequadas estruturas e
procedimentos de segurança que enaltecem a utilização de boas práticas em todos
os tipos de procedimentos.
Para
perenização da atividade e manutenção da lucratividade é fundamental a
manutenção do equilíbrio homeostático e ecossistêmico em paisagens, biomas e
condições inter-relacionais, que são bastante sensíveis e vulneráveis sempre.
VALENTI (2.002) adverte que a sustentabilidade tão necessária em qualquer
empreendimento, pode ser ampliada em eventos de aquicultura, “com a utilização
de sistemas integrados de produção, como o policultivo e o consórcio, com o
aproveitamento dos resíduos do beneficiamento para a produção de embutidos,
silagem, e hidrolisados proteicos e com a racionalização do uso de insumos
(principalmente ração)”. Estas práticas podem viabilizar economicamente
sistemas que integrem relações originalmente inviáveis entre fatores e
variáveis mobilizados para produção.
Já
se registrou e não é difícil de imaginar que mais do que em outras situações, a
aquicultura é muito mais dependente da manutenção de equilíbrio nos
ecossistemas nas quais ocorre e está inserida. Por isto são necessárias
análises de impactos ambientais muito refinadas, de forma que possam determinar
procedimentos adequados, impedindo a redução da biodiversidade, esgotamento de
recursos naturais e alterações na estrutura de funcionamento do meio ambiente
local afetado. Mais do que nunca, não se pode adotar ou desenvolver nova
tecnologia que amplie a produção, sem cuidadosa avaliação de impactos
ambientais.
O
uso de antibióticos, embora seja um dos maiores fatores impactantes não é o
único. As potencialidades geradas pelos climas e disponibilidades hídricas do
país tornam a atividade muito atrativa. Mas, na fase de implantação, são
necessários cuidados permanentes com as remoções de cobertura vegetais na
construção de estruturas, a remoção de mata ciliar sempre que ocorre e a erosão
com alteração nos regimes hídricos de deposição de sedimentos.
Na
fase de operação, além dos efluentes contaminados com antibióticos, deve se ter
preocupação com eutrofização, gerada por efluentes ricos em nutrientes, como
Nitrogênio e Fósforo e os excessos de carga orgânica e sólidos em suspensão. A
introdução de espécies exóticas e a ampliação de doenças nos ambientes deve ser
objeto de cuidadosos estudos, da mesma forma que as substâncias tóxicas e as
drogas bioacumulativas devem merecer especial atenção.
Especialistas podem trabalhar melhor,
particularmente as possibilidades de policultivos, que são divididas em 5
níveis de abordagem conforme a complexidade encontrada. O que deve ficar
registrado é que a atividade agropecuária que sustenta a balança de pagamentos
do país e se trata de inegável mola propulsora da pujança econômica do país,
ainda está apenas viabilizando as primeiras iniciativas no que pode ser
determinado como grande potencial do país, que é a utilização mais intensiva de
suas potencialidades para o incremento da aquicultura em todas as suas dimensões.
(ecodebate)
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