Rumo à COP21: o
desmatamento na Amazônia continua a ser um desafio
Evolução
do desmatamento entre os Estados da Amazônia Legal de agosto de 2013 a julho de
2014 e agosto de 2014 a julho de 2015. *Os dados do Maranhão não foram
analisados.
Dados
recentes divulgados pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia
(Imazon) apontam que houve um aumento de 63% no desmatamento na Amazônia Legal,
no período de agosto a julho (2014-2015), com 3.322 km2
comparativamente ao mesmo período entre 2013-2014, com 2.044 km2. O
levantamento foi feito por meio do Sistema SAD, que cobriu 87% da área
florestal. Com a proximidade da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP 21), este dado se torna relevante e
abre um questionamento: como o Brasil pode garantir o cumprimento de acordos
internacionais no campo da mitigação às mudanças climáticas, com essa instabilidade
na área de preservação de cobertura florestal, que representa um terço das
emissões do país? Uma das propostas a serem firmadas é justamente a de
desmatamento ilegal zero até 2030 e recuperar 12 mi hectares (120 mil km2)
de florestas degradadas.
No
mês de julho, a maior parte do desmatamento foi constatada no MT (85%), seguido
pelos estados do Pará, de Roraima, do Amazonas e de Rondônia. Os maiores focos
foram encontrados em propriedades privadas, assentamentos e em menor proporção
em unidades de conservação e em terras indígenas. Pecuária e agriculturas
extensivas são as principais causas em grande parte dos casos.
Mais
um aspecto a considerar é a crescente insegurança de ambientalistas no país,
como o caso recente do assassinato de Raimundo Santos Rodrigues, conselheiro da
comunidade da Reserva Biológica (Rebio) Gurupi, no Maranhão, sob coordenação do
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Segundo a
organização Global Witness, o Brasil é o país onde ocorre o maior número de
assassinatos deste tipo no mundo, sendo 29 mortes no ano passado.
A
incidência de focos de incêndio e de queimadas, que são crimes ambientais,
nesta época de período proibitivo também é assustadora. Cheguei a ver, ao longo
das rodovias e estradas, entre Cuiabá e Cotriguaçu, MT, vários trechos
destruídos ou com as chamas ainda presentes. Segundo o Monitoramento de
Incêndios e Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o
bioma amazônico representa 48,5% dos focos, com destaque recente para
municípios como São Felix do Xingu, Altamira e Novo Progresso (PA), Apuí (AM) e
Colniza (MT), entre outros.
Apesar
de ao longo dos anos, a área desmatada na Amazônia ter diminuído em 82%, de
27,7 mil km2 anuais para 5.015 km2 entre 2004 e 2014, de acordo com
levantamento do INPE, que mantém o sistema Prodes de monitoramento (baseado em
outros satélites com diferentes precisões em relação aos utilizados para
análise do Imazon), quando os dados são isolados em períodos menores (como os
citados acima do Imazon), a situação se torna preocupante.
A redução de unidades de conservação (UCs), que
está ocorrendo nos últimos anos, é mais um aspecto que traz vulnerabilidade à
cobertura florestal. Neste ano, já foram 1,5 mil km2, em função da
construção de hidrelétricas. No ano de 2012, por exemplo, o plano de construção
de seis no Sistema Tapajós, PA, excluiu 91 mil hectares de UCs, na região do
rio. Outras mudanças também atingiram a classificação de uso de mais restritiva
para menos restritiva. Isso ocorreu com o Parque Estadual Nhamundá, AM, que se
transformou em Área de Proteção Ambiental Guajuma, no ano de 2009. Um estudo
foi realizado a esse respeito pelo Imazon e a Universidade Federal de
Pernambuco, em 2014, advertindo sobre o papel de serviços ambientais destas
áreas na redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs). Uma nova análise
foi publicada, neste ano, sobre a Redução de Áreas Protegidas para Produção de
Energia. (ecodebate)
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