Cisternas
de enxurrada ajudam a produção agrícola no Semiárido
Agricultura
familiar – Das mais de 120 mil tecnologias sociais de apoio à produção
entregues no Semiárido, cerca de 14 mil são cisternas de enxurrada.
Maria
do Carmo Sabino, 76 anos, e seu esposo, Mauro Cardoso da Silva, 67, comemoram a
cisterna de enxurrada para captação da água que apoia a produção de alimentos
para a família e para os animais.
A
chuva que começa a cair já tem mudado o retrato do município de Areial, no
sertão paraibano, a 170 quilômetros de João Pessoa. “No último mês, caiu uma
garoazinha por três dias. Acredito que, aos poucos, vamos conseguir progredir e
plantar cada vez mais”, conta Maria do Carmo Sabino, 76 anos, agricultora
familiar que vive na região.
Em
2014, a produção agrícola no município teve um reforço. A família recebeu uma
cisterna de enxurrada para captação da água que apoia a produção de alimentos
para a família e para os animais. “Do final de julho pra cá, já conseguimos
ganhar R$ 200 com algumas batatas-doces e outras verduras que tiramos do nosso
canteiro”, disse.
A
cisterna de enxurrada aproveita o caminho que a água da chuva percorre quando
cai na propriedade. Como uma enxurrada, a água é conduzida até um sistema de
coleta composto por dois decantadores que filtram o excesso de terra e alguma
sujeira. Em seguida, toda a água é armazenada em um reservatório com capacidade
de 52 mil litros, construído dentro da terra e só com a cobertura acima da
superfície.
Das
mais de 120 mil tecnologias sociais de apoio à produção entregues no Semiárido,
cerca de 14 mil são cisternas de enxurrada. A Bahia é o estado com mais
unidades deste tipo construídas (7,2 mil).
Água
de qualidade
De
2012 para cá, com a cisterna de armazenamento de água da chuva para o consumo
humano, a agricultora familiar deixou de conviver com água de baixa qualidade.
“Antigamente, a água era verde, parecia um suco de limão, matava as plantas
quase todas”, lembra.
A
cisterna, com capacidade de armazenar 16 mil litros de água que cai no telhado
da casinha simples da família, também tirou um peso das costas de dona
Carminha. “Deixamos de andar muito para buscar água e de carregar peso no
carrinho de mão”, diz, ao recordar que transportar água era um trabalho
exclusivamente feminino.
A
falta de água para o consumo é apenas uma das marcas da miséria que a
agricultora passou durante a infância em Areial. “Já tive que comer facheiro
(mandacaru) e xique-xique (cactus) para não passar fome”, se emociona a
agricultora. Os cactus, tão comuns em toda a região, são utilizados
exclusivamente para alimentar os animais. Hoje, a alimentação da família
melhorou.
Com
o dinheiro da aposentadoria do marido, Mauro Cardoso da Silva, 67, e os R$ 144
do programa Bolsa Família, dona Carminha garante a alimentação da família.
“Hoje mesmo eu bati um prato de verdura com tomate que não está no gibi. Eu sou
feliz porque eu como as coisas que eu planto”, conta. Quatro dos 12 filhos –
todos de criação – ainda moram com o casal. “Os pais não davam conta de criar ou
não queriam. Deus me livre deixar uma dessas crianças sem amparo.”
Dona
Carminha, toda caprichosa e detalhista, é quem comanda a produção na
propriedade. Tanto é que deu uma decoração especial à cisterna de água para
consumo: construiu um jardim em volta do reservatório com flores e hortaliças,
para aproveitar a umidade do solo. Seu Mauro só obedece e faz o trabalho mais
pesado. “É ela quem manda”, brinca. (ecodebate)
Nenhum comentário:
Postar um comentário