Nos
últimos séculos, especialmente após a revolução industrial, os recursos
naturais do planeta sofreram intensa exploração pelo homem. Isso se deve ao
aumento explosivo da população humana e à mudança de seus hábitos. Hoje a
população mundial passa de sete bilhões de indivíduos, com estimativa para 2100
de onze bilhões, de acordo com o artigo publicado na revista Science “World
population stabilization unlikely this century”, sendo que essa população
consome milhares de toneladas de alimentos e outros recursos diariamente.
Para
suprir a crescente demanda mundial por alimentos, a produção agrícola de vários
países entrou na fase da agro industrialização, deixando para trás o padrão
extensivo tradicional e assumindo um padrão intensivo, no qual a produtividade
tornou-se a principal fonte de lucratividade.
Surge
assim uma agricultura mecanizada onde as características físicas do solo são
mais importantes que as químicas, ou seja, o solo deve funcionar como um bom
suporte para as plantas, capaz de sustentar as lavouras e ainda tornar possível
a mecanização, sendo, até certo ponto, dispensável uma boa fertilidade natural.
Um
bom exemplo dessa situação é a agricultura de larga escala que é praticada no
cerrado brasileiro, um dos principais celeiros agrícolas do mundo, mas que só
produz com a implementação da adubação e da correção da acidez. Em um artigo
publicado em 2012 o renomado pesquisador brasileiro Alfredo Scheid Lopes e
colaboradores, estes afirmam que nos solos do Brasil predominam graves
limitações para a produção agrícola em termos de baixa fertilidade natural,
sendo ainda, ácidos e pobres em nitrogênio disponível (N), fósforo (P),
potássio (K), de cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cobre (Cu),
molibdénio (Mo) e zinco (Zn).
Nesse
caso, quando o solo não disponibiliza naturalmente os nutrientes em quantidades
adequadas, há a possibilidade de elevada produtividade somente com o suprimento
dos nutrientes deficitários através de adubação. Nutrientes como fósforo,
nitrogênio e potássio são necessários para o crescimento e produção das
plantas. O nitrogênio pode ser obtido por meio de fixação biológica ou
processos industriais, mas outros nutrientes, como por exemplo, o fósforo é obtido
em grande parte através da mineração ou em menor quantidade por reciclagem.
A
demanda por fertilizantes no cenário internacional é crescente, em especial
pelos fosfatados. A maior procura e a oferta limitada causou um aumento no
custo do fosfato de rocha. Em 1961 a tonelada custava cerca de US$ 80 saltando para até US$ 450 em 2008, o preço deste insumo, desde então, têm
flutuado, mas agora está em cerca de US$ 700 a tonelada, segundo relatório
de 2015 do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
O
mundo é altamente dependente do fósforo como nutriente para produção de
alimentos, no entanto, estima-se que a maior mina de fósforo dos EUA estará
esgotada em 20 anos e um balanço da vida útil das reservas que podem suprir à
agroindústria e à população humana estão limitadas a cerca de 60 a 250 anos.
Assim, o equilíbrio geopolítico do poder pode ficar abalado quando nações e
corporações começarem a competir pelas reservas remanescentes em lugares como
Marrocos.
A
FAO – órgão das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação acendeu a luz
vermelha em fevereiro de 2011 alertando que oitenta países se encontravam em
situação de insegurança alimentar. Essa situação pode se agravar, e muito, com
a escassez das reservas de fósforo, quando haverá considerável redução na
produtividade agrícola em decorrência da falta desse nutriente (vide Lei do
Mínimo), principalmente em lavouras de solos tropicais que tem baixas
concentrações de fósforo disponível e no decorrer dos ciclos de culturas pode acabar
se esgotando.
Surge
então uma equação nada fácil de resolver, em que se percebe um cenário global
que projeta uma crise de oferta de fósforo, e consequentemente de alimentos, em
um futuro não muito distante, podendo culminar em conflitos entre nações pelo
domínio das ultimas reservas ou por solos com capacidade produtiva de
alimentos.
Será
que esse é o destino da humanidade? Padecer por falta de alimento, recorrer a
mecanismos como a guerra para garantir a sobrevivência? De acordo com os
relatos na literatura existem meios para evitar mais essa tragédia humana. A
solução irá exigir um esforço proporcional à magnitude do problema, por
exemplo, estudos realizados no Departamento de Ciência do Solo da Universidade
Federal de Lavras (DCS/UFLA) procuram uma alternativa para minimizar a
necessidade de altas doses de aplicação de fósforo com o uso de bactérias
solubilizadoras desse nutriente, enquanto que um outro publicado na renomada
revista Nature em 2015 pelo cientista do solo Ronald Amundson e colaboradores
apontam que a diminuição das taxas de perda de nutrientes do solo pela erosão
hídrica e a reciclagem dos nutrientes são saídas a considerar. Segundo esses
autores deve haver parcerias para desenvolver métodos eficientes de reciclagem
de nutrientes e sistemas de redistribuição em ambientes urbanos.
Nessa
realidade onde a reciclagem é indicada para suprir os nutrientes do solo é
aconselhável incentivar o aproveitamento dos resíduos compostáveis e a produção
e consumo local de alimentos, uma vez que diminui a demanda por alimentos
produzidos pela agroindústria que fatalmente continuará consumindo os
fertilizantes das fontes em esgotamento. A reciclagem do fósforo pode ser
tomada como a principal saída para contornar a escassez das reservas desse
nutriente e evitar a uma grande guerra mundial motivada pela disputa por este
recurso.
Outro
problema que preocupa nações é a escassez de água potável no mundo. A água doce
é uma pequena fração do total existente e uma diminuta parte dessa fração se
encontra em rios e lagos, locais onde normalmente o homem usufrui.
A
situação fica mais crítica devido à má distribuição espacial e temporal dos
recursos hídricos que faz com que algumas áreas sofram permanentemente com a
falta de água. Segundo Claudio Hehl Forjaz em seu livro “Água: Substância da
Vida” somente 1% da água da Terra é potável, mas a quase totalidade ou é
imprópria para o consumo ou está em inacessíveis geleiras.
A
água era vista como um recurso inesgotável e ainda dotada de capacidade de
autodepuração de todo tipo de contaminante. Esse pensamento levou à poluição e
degradação dos recursos hídricos em todos os continentes do mundo,
principalmente nos locais mais populosos e que culturalmente tem a água como
destino final dos mais diversos resíduos.
Após
séculos de utilização da água sem planejamento os recursos hídricos em todo o
Mundo sofreram intensa degradação. Nesse contexto surge a preocupação em usar a
água de forma sustentável com a proposta de fóruns internacionais para discutir
o assunto após a publicação da Carta Europeia da Água, na França em 1968. Os
principais eventos que sucederam e que discutiram o uso da água no Mundo foram:
a Conferência das Nações Unidas, em Estocolmo, no ano de 1972, a Conferência
das Nações Unidas sobre a Água, no Uruguai no ano de 1977 e a Declaração de
Dublin, na Irlanda em 1992, esta alertava que a água é um recurso esgotável e
vulnerável.
Durante
e após esse período de conscientização de autoridades começaram a surgir leis
que passaram a proteger os recursos hídricos em diversos países. No entanto,
muitas vezes a cultura arraigada de desobediência às leis e a busca pelo
crescimento a qualquer custo colocou em segundo plano a proteção ao meio
ambiente. Claudio Hehl Forjaz em seu livro afirma que o preço da prosperidade
das nações é muito alto, podendo resultar em escassez de água potável. O mundo
está prestes a viver uma crise de grandes proporções, podendo levar nações
inteiras ao desespero, quando não às guerras.
O
texto “Conflitos por causa da água” publicado na ‘Revista Horizonte Geográfico’
em abril de 2008 relata que nos últimos 50 anos foram registrados 1831 casos de
disputas por água entre países, sendo que a maioria foi resolvida sem que
evoluísse para conflitos armados. No entanto, em muitos locais a guerra pela
água se tornou realidade, é o caso de vários países do Oriente Médio, em partes
da Ásia, na África, Índia, China, Bolívia etc. A água atrai a cobiça daqueles
que não podem obtê-la com facilidade e passa a ser considerada, cada vez mais,
como um produto de valor.
Segundo
o relatório da Organização das Nações Unidas ONU de 1992, por volta do ano 2020
a carência de água vai afetar 2/3 da população mundial. Essa situação pode se
agravar em anos posteriores levando a conflitos armados pelo uso deste recurso.
Com
o crescimento da população mundial que passa a demandar cada vez mais água,
aliado ao agravamento das mudanças climáticas, há quem diga que se a humanidade
enfrentar a III Guerra Mundial será decorrente da disputa por este recurso,
considerado por muitos como a maior riqueza do terceiro milênio.
A
falta de água potável para abastecimento humano é um problema atual que já se
verifica em várias partes do mundo, e que, se não tratado com seriedade e com a
aplicação de todas as tecnologias já adquiridas, só tende a agravar, portanto
se tiver que ocorrer uma guerra mundial motivada por um recurso escasso, será
primeiramente em função da demanda por água potável. (ecodebate)
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