A crise hídrica acabou em SP?
Veja opiniões do governo e especialistas.
Veja opiniões do governo e especialistas.
O Governador disse no início de março/16 que a questão
da água está ‘resolvida’.
Já moradores da Grande SP relatam que ainda falta
água periodicamente.
Vista da represa do
Jaguari-Jacareí, do Cantareira.
"A
gente está sempre correndo atrás de prejuízo, buscando água cada vez mais
longe. Precisamos melhorar mecanismos de gestão, práticas de reuso. É um
momento para avançar em outras agendas para estruturar soluções de longo prazo
para segurança hídrica", explicou Samuel Barrêto, gerente nacional de água
da The Nature Conservancy.
Dias
depois da declaração de Alckmin, um temporal provocou enchentes em várias
cidades da Grande São Paulo. Em 21/03 o Centro de Gerenciamento de Emergências
(CGE), anunciou que a cidade de São Paulo teve índice de chuvas 9% acima do
esperado para o verão. O outono chegou e a tendência é chover cada vez menos
nos próximos meses.
O G1
conversou com especialistas e com a Sabesp, companhia responsável pelo
fornecimento na região metropolitana, e elaborou uma lista de perguntas e
respostas sobre a crise hídrica, que começou em 2014.
A
crise da água acabou?
O
governo e a Sabesp dizem que sim, mas especialistas pedem cautela e moradores
relatam torneiras secas de forma periódica na Grande São Paulo. Segundo o
governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a questão da
falta d’água não tem mais risco, mesmo que haja seca. "Teremos
a partir do ano que vem uma superestrutura em São Paulo. O estado e a região
metropolitana estarão bem preparados para as mudanças climáticas”, disse
Alckmin.
O
presidente da Sabesp, Jerson Kelman, afirmou que isso não significa que a
população pode esquecer do uso consciente da água. "Nós não estamos
dizendo: ‘bom, a crise acabou e agora liga o chuveiro, deixa o chuveiro
aberto’. Não, nada disso. Continue economizando água. Apenas estamos dizendo:
‘não precisa sofrer mais’", disse.
Já o
gerente nacional de água da organização sem fins lucrativos de conservação
ambiental The Nature Conservancy (TNC Brasil), Samuel Barrêto, admite que São
Paulo não passa pelo auge da crise, mas defende que a situação está longe de
ser superada. “Bastou ele [Alckmin] falar e começou a aparecer diversas
manifestações de pessoas que estão sem água. A situação é mais favorável em
relação ao ano passado, mas ainda está bem longe de dizer que toda a questão
está superada".
O
professor da USP e Uninove, e especialista em recursos hídricos, Pedro Luiz
Côrtes, classificou como precipitada a decisão de decretar o fim da crise
hídrica. Segundo ele, apesar da chuva acima da média nos últimos meses, os
reservatórios têm capacidade para abastecer a população até o fim de 2016, mas
sem um fôlego no caso de um período de seca mais extremo durante o inverno.
"Embora
o período de chuva ainda esteja em vigência, nós já temos um prognóstico de que
a chuva no segundo semestre não seja tão intensa como foi no segundo semestre
do ano passado, já sob influência do El Niño, mas ainda não dá pra calcular
essa redução", explicou o especialista.
Por
que ainda falta água em algumas casas?
A
redução de pressão na rede ainda ocorre, mas em períodos mais curtos. Segundo a
Sabesp, moradores de bairros mais altos, sem caixa d'água em casa, podem ficar
com as torneiras secas entre 23h e 5h, quando a pressão é reduzida na rede. Se
ocorrer falta d'água em outros horários, a companhia
defende que o problema não é causado pelo fechamento das válvulas e
orienta os moradores a comunicarem o serviço de atendimento ao cliente.
"São
muitas as causas de falta de água na casa das pessoas. As mais comuns são sobre
problemas na rede de distribuição, que não têm nada a ver com a redução de
pressão. Se tive manutenção em uma rede, se tiver acidente, falta de energia em
uma estação elevatória, esses são os episódios que em geral levam o maior
número de pessoas a ficarem sem água. Esses eventos estão ocorrendo todos os
dias, ainda mais em uma cidade como São Paulo, onde as tubulações são
antigas", afirmou o presidente da Sabesp, Jerson Kelman.
Ainda
tem desconto na conta para quem economizar?
Sim,
mas desde fevereiro está mais difícil conseguir o bônus porque a Sabesp mudou a
forma de calcular o desconto. No mês passado, a adesão ao programa caiu um
terço e só 44% dos
clientes da companhia conseguiram o desconto na conta. A empresa
disse que decidirá quando o programa deve acabar em um "momento
oportuno".
Ainda
tem multa para quem gastar mais água?
Sim,
e o índice de aplicação de sobretaxa na conta de água tem aumentado desde o ano
passado. Em fevereiro, 15% dos
clientes da Sabesp foram multados por consumirem mais do que a média,
antes da crise hídrica. Ainda não foi definida uma data para o fim da cobrança.
As
represas já se recuperaram?
Em
partes. A chuva acima da média acelerou a recuperação das represas e, em março,
o volume de água armazenado nos sistemas que abastecem a Grande São Paulo
ultrapassou o nível do início da crise hídrica. No fim do ano, o Sistema
Cantareira saiu da reserva técnica e opera, desde então, com seu volume útil.
De
qualquer forma, em 2012, antes da crise, o maior reservatório de São Paulo
operava no dia 10 de março com 74,8%. Na mesma época, no ano seguinte, baixou
para 60,4%. Em 2014, o nível foi para 14,5%, depois caiu para 12,6% no ano
passado. Atualmente, está em 63,5%, mas ainda considera duas cotas do volume
morto no cálculo.
O
volume morto ainda é explorado?
Não.
Em dezembro do ano passado, o Sistema Cantareira saiu da reserva técnica e opera,
desde então, com seu volume útil. Uma resolução de órgãos reguladores cancelou
a autorização dada à Sabesp para exploração das reservas. Caso seja necessário
voltar ao volume morto, a companhia terá que pedir uma nova autorização para a
Agência Nacional de Águas (ANA) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica
de São Paulo (DAEE).
Sistema de captação do volume
morto da Represa Atibainha em novembro/14.
O
volume morto é uma reserva com 480 bilhões de litros de água situada abaixo das
comportas das represas do Cantareira. Até então, essa água nunca tinha sido
usada para atender a população. Em maio de 2014, bombas flutuantes foram
inauguradas para a captação da primeira cota da reserva. Em julho, o volume
útil do Cantareira acaba e o abastecimento de parte da região metropolitana é
feito somente com a primeira cota.
Em
outubro de 2014, a Sabesp consegue autorização para usar uma segunda cota do
volume morto, com 105 bilhões de litros. Somente em dezembro do ano passado, o
sistema conseguiu recuperar as duas cotas do volume morto e voltou a operar
apenas com o volume útil.
Quais
obras foram feitas na crise?
Considerada
a obra mais importante para a crise hídrica, a interligação dos sistemas Rio
Grande e Alto Tietê foi inaugurada em setembro do ano passado, com atraso. O
projeto prevê a transferência de até 4 mil litros por segundo e, segundo a
Sabesp, estava nesse índice em fevereiro. O Sistema Cantareira também foi
beneficiado com a obra porque o bombeamento fez com que as regiões atendidas
pelo sistema passaram a ser abastecidos pelo Alto Tietê, ajudando a aliviar o
manancial em crise.
A
capacidade de produção do Sistema Guarapiranga também foi ampliada em 1 mil
litros por segundo. Já o Sistema Rio Grande aumentou em 500 litros por segundo
sua produção de água com obras de ampliação para tratamento. A Sabesp cita
ainda como projetos contra a crise a ampliação da transferência de água do
córrego Guaratuba e a ligação do Guaió para o Sistema Alto Tietê.
Existem
obras em andamento?
Sim.
A Parceria Público Privada (PPP) São Lourenço vai ampliar em até 6,4 mil litros
por segundo a produção de água na região. É considerada uma das maiores obras
de saneamento do país e deve ficar pronta em 2017. Outro projeto é a
interligação entre a represa Jaguari, em Igaratá (SP), na Bacia do Paraíba do
Sul à represa de Atibainha, em Nazaré Paulista (SP), no Sistema Cantareira.
Inicialmente,
a Sabesp previa dar início ao trabalho em maio de 2015 e depois alterou o
cronograma para agosto. A entrega da primeira fase do empreendimento está
prevista para abril de 2017. A Sabesp também aguarda licença ambiental prévia
para aproveitamento da bacia do rio Itapanhaú, com a reversão de águas do
ribeirão Sertãozinho (formador do rio Itapanhaú) para o reservatório de
Biritiba. O sistema está concebido para captar em uma vazão média de 2 m3/seg.
Obra
resolve o problema?
As
obras, no entanto, têm "prazo de validade", segundo o gerente
nacional de água da The Nature Conservancy. "Aumenta o consumo, e a gente está
sempre correndo atrás de prejuízo, buscando água cada vez mais longe.
Precisamos melhorar mecanismos de gestão, práticas de reuso. É um momento para
avançar em outras agendas para estruturar soluções de longo prazo para
segurança hídrica", explicou Samuel Barrêto.
Entre
uma das propostas para reuso anunciadas no início da crise hídrica estão as
estações de produção de água de reuso, as EPARs, com tratamento de esgoto para
abastecimento humano. A Sabesp, no entanto, decidiu priorizar obras de
interligação por acreditar que "há outros projetos de engenharia que podem
gerar resultados mais eficientes com custos menores e entrega em menos
tempo".
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