China
acaba com política do filho único após quase 40 anos
Objetivo é corrigir
desequilíbrio entre homens e mulheres e conter envelhecimento.
Recém-nascidos
em hospital de Pequim
PEQUIM — O Partido Comunista chinês decidiu abolir com a política
do filho único e autorizará pela primeira vez em quase 40 anos que os casais
tenham dois filhos, segundo um comunicado do Partido Comunista divulgado pela
agência oficial Xinhua. A reforma, que põe fim à controversa política que
limitava os nascimentos no país, foi anunciada na reunião anual do partido
diante de preocupações sobre a desaceleração da economia do país.
— A China vai permitir a todos os casais terem dois filhos,
abandonando a sua política de décadas de um só filho — disse a agência Xinhua,
mas sem divulgar detalhes sobre o prazo para a implementação.
A decisão histórica foi tomada dois anos depois de o governo
autorizar que os casais, em que um dos cônjuges fosse filho único, tivessem um
segundo filho. O objetivo é corrigir o desequilíbrio entre homens e mulheres e
conter o envelhecimento da população, além de estimular a economia, depois de o
país registrar neste mês o pior crescimento trimestral desde 2009.
Durante
meses, circularam no país especulações de que Pequim estava se preparando para
abandonar a política do filho único, introduzida no final da década de 1970
pelos líderes comunistas como uma forma de conter o crescimento populacional e
limitar demandas de água e de outros recursos. Os casais que violassem as leis
eram penalizados com multas, alguns perdiam seus empregos e, em alguns casos,
as mães eram forçadas a abortar seus bebês ou passarem por esterilizações.
Um caso
dramático relacionado a essa política ocorreu em 2012 com uma mulher de 23 anos
da província de Shaanxi, no Noroeste do país. Ela foi levada pelas autoridades
do planejamento familiar e obrigada a realizar um aborto mesmo estando grávida
de sete meses. Segundo o governo, foram impedidos cerca de 400 milhões de
nascimentos, mas o custo humano da medida foi incalculável, com esterilizações
e abortos forçados, infanticídio e um desequilíbrio de gênero dramático que
implica a milhões de homens nunca encontrarem parceiras.
Mães
chinesas passeiam em parque de Pequim com seus bebês
Os
opositores do governo também alegam que a política criou uma “bomba-relógio”
demográfica, com população em rápido envelhecimento, enquanto a força de
trabalho encolhe. A ONU estima que até 2050 a China terá cerca de 440 milhões
de pessoas com mais de 60 anos. Já os em idade ativa - aqueles entre 15 e 59
anos - vão cair dos atual 1,37 bilhão para 1,3 bilhão.
A
expectativa é que a mudança na lei provoque mudanças históricas na comunidade
chinesa, mas críticos apontam que ainda é pouco e muito tarde para corrigir os
efeitos negativos substanciais da política do filho único na economia e na
sociedade.
Decisão
divide especialistas
Alguns
comemoraram a mudança, considerando um passo positivo rumo à maior liberdade
individual na China. Mas ativistas de direitos humanos criticaram o fato de que
o governo continua controlando o planejamento familiar.
— O Estado
não tem que se envolver na regulamentação de quantos filhos as pessoas têm —
criticou William Nee, um ativista da Anistia Internacional, baseado em Hong
Kong. — Se a China é séria em relação aos direitos humanos, o governo deve
acabar imediatamente com tais controles invasivos e punitivos.
Na mesma
linha, Marie Holzman, presidente da associação China Solidarité, disse que a medida
não significa um avanço nos direitos humanos.
—Não é
exatamente um progresso em relação aos direitos humanos. É uma medida de
caráter puramente econômico e pragmático. É uma situação anormal que está sendo
combatida com condições anormais — disse ela ao GLOBO, advertindo para a
situação das mulheres. — Enquanto a administração atual de controle
populacional estiver no comando, eles continuaram perseguindo as mães.
Alguns
especialistas reagiram com surpresa:
— É uma
daquelas coisas em que você vem trabalhando e recomendando que deve ser feita
há anos e finalmente aconteceu. É um choque — afirmou Stuart Gietel-Basten, um
demógrafo da Universidade de Oxford, defensor do fim da política de filho
único.
A imposição
de um único filho trouxe um imenso custo humano, como esterilizações em massa,
abortos forçados e infanticídios, além do dramático desequilíbrio entre homens
e mulheres. Os casais que violassem as leis eram penalizados com multas, e
alguns até perdiam seus empregos. Num dos casos mais chocantes de violação dos
direitos humanos, uma mulher que estava grávida de sete meses foi sequestrada
por agentes de planejamento familiar na província de Shaanxi, em 2012, e
forçada a fazer aborto. Apesar disso, o governo se orgulha de ter evitado 400
milhões de nascimentos nas últimas décadas.
De acordo
com as Nações Unidas, em 2050 a China poderia ter 300 milhões de famílias
formadas por um pai, uma mãe e um filho. Nesse mesmo período, estima-se que 11
milhões de famílias terão perdido os filhos, resultando em pais idosos sem
assistência e, muitas vezes, isolados. (globo)
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