Pantanal pode ter temperaturas elevadas em 7º C até 2100, indica estudo
Modelos também sugerem que, durante o inverno no
hemisfério Sul, a região poderá ter redução na quantidade de chuva de 30% a
40%.
O Pantanal, a maior planície alagada do mundo, corre
o risco de, em 2100, ver as suas temperaturas médias anuais elevadas em até
7°C. Tamanho aumento de temperatura implicaria uma redução sensível no regime
de chuvas da região, principalmente no inverno. Tais mudanças climáticas teriam
impacto sobre a evaporação da região e a própria existência do Pantanal como o
conhecemos.
Essas projeções foram estimadas a partir da aplicação
ao Pantanal dos modelos climáticos globais do 5º Relatório de Avaliação (AR5)
do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2014.
O trabalho “Climate Change Scenarios in the
Pantanal”, publicado no livro Dynamics of the Pantanal Wetland in South
America,
é de autoria da equipe do hidrologista e meteorologista José Antonio Marengo
Orsini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais
(Cemaden), em Cachoeira Paulista, e tem apoio da FAPESP e do Instituto
Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas – que,
por sua vez, é apoiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq).O Pantanal tem uma área de 140 mil km², 80% da qual
fica no Brasil, nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. É uma região
semiárida. Não fosse o enorme fluxo anual de água para a região, o bioma seria
tão seco quanto a caatinga nordestina. Isso não ocorre porque o Pantanal é um
grande reservatório que armazena as águas que escoam dos planaltos circundantes.
Nos meses de novembro a março, na estação chuvosa, os
rios transbordam, inundando até 70% da planície. É quando se formam os
banhados, os lagos rasos e quando os pântanos incham. Tudo isso faz com que,
nas áreas mais elevadas, surjam ilhas de vegetação, um refúgio para os animais.
Grandes áreas permanecem inundadas por quatro a oito meses no ano, com uma
cobertura de água que varia de uns poucos centímetros até 2 metros.
Durante a estação seca, de abril a setembro, as águas
refluem para a calha dos rios e os banhados são parcialmente drenados. As águas
antes represadas seguem seu curso através das bacias dos rios Paraguai e
Paraná, em direção ao rio da Prata e ao Atlântico Sul. Deixam em seu lugar uma
camada de sedimentos férteis que impulsionam o crescimento da vegetação e das
pastagens.
Esse é o retrato do Pantanal hoje. Nele caem
anualmente entre 1.000 e 1.250 milímetros de chuva. A temperatura média anual é
24°C – sendo que a temperatura máxima, alguns dias no ano, atinge os 41°C. O
que as projeções climáticas de Marengo indicam para o futuro?
O 5º Relatório de Avaliação do IPCC projeta um
aumento na temperatura média global em 2100 de 3,7ºC a 4,8°C. Quando seus
parâmetros são usados para analisar as variáveis climáticas específicas do
Pantanal, o resultado impressiona. Até 2040, as temperaturas médias devem subir
de 2ºC a 3°C. Em 2070, o aumento poderá ser de 4ºC a 5°C, atingindo em 2100 uma
temperatura média 6°C mais elevada do que a atual.
Embora haja muita incerteza com relação às projeções
pluviométricas, os modelos sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, o
Pantanal poderá experimentar uma redução na quantidade de chuva de 30% a 40%.
A associação entre temperaturas mais elevadas e menos
chuva implicará um aumento da evaporação no Pantanal. Dependendo da
temperatura, volumes consideráveis de água represada poderão desaparecer, o que
reduzirá a área total alagada e a quantidade de água nas porções de terra que
permanecerão alagadas. “Um aumento da temperatura média de 5ºC a 6°C implicaria
em deficiência hídrica, o que afetaria a biodiversidade e a população”, observa
Marengo.
As consequências para a fauna e a flora poderão ser
severas. Espécies vegetais pouco adaptáveis a um grau de umidade inferior ao
atual poderão desaparecer ou migrar para outras regiões. Em seu lugar,
germinariam outras espécies, que preferem climas mais secos.
A alteração na vegetação implicaria diretamente as
populações de invertebrados e de vertebrados herbívoros – capivaras, antas que
delas dependem (mas também o gado das fazendas) –, numa reação em cadeia que
afetaria todos os nichos da cadeia alimentar, até atingir os predadores de
topo, como os felinos, os jacarés e as aves de rapina.
Muito embora Marengo faça questão de salientar que as
incertezas com relação às mudanças climáticas ainda são elevadas, especialmente
no quesito do regime pluviométrico, uma coisa é certa: as temperaturas globais
estão aumentando e o mesmo acontecerá no Pantanal.
Como aquela planície alagada fica no centro da
América do Sul, portanto longe da influência marítima que poderia ajudar a
amenizar o clima, o aumento das temperaturas no Pantanal tende a ser mais
dramático. “O dia mais quente do ano pode vir a ser até 10°C mais quente do que
hoje”, diz Marengo.
Se atualmente, nos dias mais quentes do verão, a
temperatura no Pantanal passa fácil dos 40°C, estamos falando em temperaturas
máximas em torno ou superiores aos 50°C. É temperatura de deserto. A maioria
das plantas suporta pontualmente um calorão desses. Pontualmente. (ecodebate)
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