Em 21/03 é comemorado o Dia Internacional das
Florestas, uma data instituída pela Organização das Nações Unidas para a
Alimentação e a Agricultura – FAO, para sensibilizar a população sobre a
importância das florestas para a vida e a necessidade de preservá-las. Este
ano, o tema escolhido para discussão é "Florestas e mudanças
climáticas", um assunto que ganha cada vez mais espaço na pauta de
discussões internacionais, em especial porque neste ano acontece a 21ª
Conferência do Clima, em Paris, onde está prevista a negociação de um novo
acordo entre os países signatários da Convenção. Os debates sobre mudanças
climáticas globais são cada vez mais relevantes para o Brasil, considerando os
compromissos internacionais assumidos de redução de emissões de gases de efeito
estufa.
Mudanças do clima (MC) sempre aconteceram,
mas demoravam grandes períodos de tempo para serem sentidas. Hoje, este
processo está sendo mais intenso por causa do efeito estufa, um fenômeno natural,
até mesmo essencial para a existência de vida no planeta, mas que tem sido
intensificado pelo aumento da concentração dos gases de efeito estufa (GEE) na
atmosfera, em especial gás carbônico, metano e óxido nitroso. As florestas
atuam neste cenário tanto com potencial de mitigação do efeito estufa, por meio
do sequestro de GEE, como também precisam de atenção sobre os impactos que
poderão sofrer com as alterações do clima, isso tanto para espécies florestais
naturais quanto plantadas, que são utilizadas com fins comerciais e tem
importância na economia brasileira. O tema é complexo e multidisciplinar, o que
têm exigido intensificação de esforços da pesquisa científica para conhecer
melhor os efeitos da relação entre florestas e clima, além do desafio de
fornecer respostas relativamente rápidas em um tema que exige mais tempo de
pesquisa devido ao seu ciclo longo.
Para isso, o Brasil tem investido em projetos
como o "Simulação de Cenários Agrícolas Futuros a Partir de Projeções de
Mudanças Climáticas Regionalizadas" (SCAF), coordenado pela Embrapa em
parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O SCAF
realizou análises de risco climático com projeções futuras do clima para
culturas agrícolas e florestais. Os estudos levaram em conta diversas
simulações de cenários, desde os com maior concentração de GEE e consequente
aumento da temperatura, até os cenários de baixa emissão. O projeto avaliou os
riscos sobre dez espécies florestais, tais como araucária (Araucaria angustifolia), erva-mate (Ilex paraguariensis), paricá (Schizolobium amazonicum), Eucalyptus grandis e Pinus taeda, considerando as
projeções de cenários globais regionalizados. Os mapas de risco climático foram
gerados a partir de dados de uma rede de estações meteorológicas do Instituto
Nacional de Meteorologia (Inmet). Os cenários de emissões (SRES, da sigla em
inglês) utilizados foram baseados no IPCC (Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas), que levam em conta cenários projetados de aumento
populacional e desenvolvimento socioeconômico, entre inúmeros outros
indicadores. Segundo a pesquisadora Rosana Higa, da Embrapa Florestas, "as
projeções futuras do clima feitas com o uso de modelos climáticos são
extremamente úteis e podem ser usadas como ferramentas para auxiliar na
adaptação das diversas culturas às novas condições".
Segundo dados da Indústria Brasileira de
Árvores (Ibá), entidade que representa o setor de florestas plantadas, o país
possui hoje 7,6 milhões de hectares de plantios florestais com fins econômicos,
sendo que o gênero Eucalyptus é o mais plantado, em especial como matéria-prima
para papel, celulose, movelaria e carvão vegetal, seguido pelo Pinus. O setor
representa, atualmente, 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), sendo o quarto
maior produtor mundial de celulose, o nono maior produtor de papel. Toda esta
cadeia pode ser impactada fortemente pelas mudanças climáticas. Algumas
simulações de cenários apontam, por exemplo, que regiões hoje aptas ao cultivo
de espécies florestais podem ser deslocadas em virtude das mudanças climáticas.
Já para as espécies nativas estudadas, o
clima alterado poderá modificar as áreas de ocorrência natural de algumas
espécies, o que também pode causar impacto nas reservas de biodiversidade do
país. "É certo que os limites climáticos da distribuição natural de
diversas espécies vão sofrer alterações e o conhecimento é a chave para
evitarmos grandes perdas. Ao identificar uma espécie que será impactada,
podemos retirar esse genótipo dali e plantar em outros lugares, onde o clima
não vai se alterar ou será mais suscetível àquela espécie", explica a
pesquisadora.
Poderão ser observados, ainda, efeitos
indiretos, como por exemplo, a suscetibilidade ao ataque de pragas e doenças em
virtude das plantas estarem enfraquecidas, bem como o aumento de incêndios
florestais. O zoneamento de risco climático, não só baseado no clima atual, mas
também no clima futuro, vai possibilitar informações estratégicas para a
expansão de áreas de plantações florestas e programas de conservação genética.
Os dados do Scaf devem ser publicados ainda
este ano, facilitando a discussão de políticas públicas relacionadas a
florestas, entre outras culturas pesquisadas. No caso de florestas, os
resultados podem trazer indicações de estratégias de conservação, manejo e
melhoramento genético, entre outras, colaborando para a chamada economia de
baixo carbono. "Melhorar o conhecimento principalmente por meio de
observações de médio e longo prazo é a ‘arma' que nós temos", explica a
pesquisadora Rosana Higa. "A gente não tem tempo pra aposta. Tanto
florestas nativas quanto plantadas têm ciclos longos, estão dispostas
diretamente ao tempo, e a tomada de decisão errada pode representar grandes
prejuízos ambientais e financeiros. Nossos desafios e complicações são muito
maiores", afirma. Antecipação e planejamento são pontos-chave, uma vez que
o clima é, sem dúvida, o principal fator determinante da adaptação e
crescimento das árvores.
Balanço de GEE
Em outra linha de trabalho, conhecer o
balanço dos GEE dentro das florestas nativas e plantadas é outro desafio.
Quanto emitem?
Quanto absorvem?
Em que condições ajudam a mitigar ou
favorecer as MC?
Qual o papel do Brasil no cenário global?
São informações que afetam diretamente a
posição do país nas Conferências do Clima. Melhorar estes dados sobre o
balanço das emissões brasileiras é outra grande e complexa linha de pesquisa.
No caso de florestas, o projeto Saltus, coordenado pela Embrapa Florestas
(Colombo/PR) em parceria com instituições de pesquisa, universidade e empresas
privadas, está estudando o balanço da emissão e absorção de gases de efeito
estufa em florestas plantadas e naturais representativas dos biomas Mata
Atlântica, Pampa, Pantanal, Cerrado e transição Cerrado/Amazônia. São 15
unidades de estudo distribuídas nestes biomas, pesquisando pínus, eucalipto,
acácia e remanescentes de vegetação natural próximos às áreas de plantio
florestal. A ideia é pesquisar florestas naturais e de produção nas mesmas
condições de clima e solo. Com isso, pretende-se identificar e subsidiar a
adoção de modelos de produção e de preservação/recuperação florestal com
potencial mitigatório mais adequado a cada bioma.
A complexidade é tamanha que são várias as
especialidades envolvidas, como por exemplo, solos, fisiologia, manejo, agrometeorologia,
entre muitas outras. "São necessários monitoramentos de longo prazo",
explica a pesquisadora Josiléia Zanatta, da Embrapa Florestas. "Em
floresta, um a dois anos não é suficiente para generalizar as informações em
escala temporal e espacial. Quando olhamos para a diversidade brasileira, a
complexidade aumenta exponencialmente". O projeto Saltus acaba de entrar
em seu terceiro ano de pesquisa e os primeiros resultados devem estar prontos
no segundo semestre. "Os desafios de pesquisa são muitos, considerando a
extensão territorial do país para a implantação de sistemas de observação e
monitoramento, além da capacitação de recursos humanos", completa a
pesquisadora.
E o processo de pesquisa não para. Além de
conhecer o balanço de carbono em florestas e como adaptá-las à realidade das
mudanças climáticas, o processo tem que ser constantemente avaliado: conforme o
clima muda, a forma e a quantidade das emissões também mudam, afetando de forma
diferente. Cada vez mais serão necessários projetos mais abrangentes, mais
complexos, com redes formadas por diferentes instituições e multidisciplinares.
“As decisões em relação às mudanças climáticas não são fáceis”. Precisamos
oferecer opções exequíveis:
O que tenho que adaptar?
Quanto custa?
Quais são as barreiras?
Quais são as prioridades?
Muitas vezes, as prováveis soluções nem
sempre são acessíveis, seja pela complexidade técnica ou pelo custo. “As
decisões não são fáceis e devem ser tomadas à luz do conhecimento”, finaliza
Rosana Higa. (embrapa)
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