Mudanças
climáticas exigem adaptações das cidades, mas ainda não são prioridades.
Desafio em cidades como
São Paulo é integrar políticas públicas relacionadas às mudanças climáticas com
políticas de moradia e de planejamento urbano, entre outras, dizem cientistas.
As
mudanças climáticas globais impõem riscos às cidades e levam à necessidade de
desenvolver planos de adaptação. Mas de que modo cidades como São Paulo, que
contam com tantos outros problemas de infraestrutura e desenvolvimento, podem
desenvolver uma capacidade adaptativa que permita responder eficientemente aos
desafios impostos pelas mudanças climáticas?
Encontrar
respostas para essa pergunta é um dos objetivos de uma pesquisa conduzida por
cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da University of Michigan (UM),
com financiamento da universidade norte-americana em conjunto com a FAPESP.
Segundo
as coordenadoras do projeto, as professoras Gabriela Marques Di Giulio, da
Faculdade de Saúde Pública da USP, e Maria Carmen Lemos, da School of Natural
Resources and Environment da UM, a crescente compreensão de que ações de
mitigação não serão suficientes para evitar os impactos climáticos tem levado a
um aumento no número de cidades no mundo que apresentam planos de adaptação,
reconhecendo os riscos associados às mudanças climáticas e os impactos nos seus
sistemas socioecológicos.
Apesar
disso, há muitas outras em situação de risco que pouco têm feito. E os motivos
são limitações econômicas, institucionais ou políticas, que reduzem a
capacidade de prover serviços básicos, infraestrutura e suporte às suas
populações.
Di
Giulio e Lemos, que apresentaram a pesquisa no dia 28 de março na FAPESP Week
Michigan-Ohio, que ocorre até 1º de abril nas cidades de Ann Arbor e Columbus,
nos Estados Unidos, apontam que pesquisas têm identificado recursos e
estruturas de governança que aumentam as chances de uma adaptação bem-sucedida.
E compreender como esses recursos interagem positiva e negativamente é
essencial para construir cidades mais resilientes e sustentáveis.
“São
Paulo, por exemplo, que é nosso foco de pesquisa, faz parte do C40 Cities
Climate Leadership Group [rede de megacidades comprometida com os desafios
envolvidos nas mudanças climáticas globais] e é uma das poucas megacidades
que contam com uma política municipal sobre mudanças climáticas globais,
instituída em 2009, ainda que a maioria dos objetivos não tenha sido atingida”,
disse Di Giulio.
Segundo
ela, em São Paulo o desafio é integrar políticas públicas relacionadas às
mudanças climáticas com políticas de moradia, saneamento, planejamento urbano,
gerenciamento de recursos hídricos e mobilidade urbana.
“Trata-se
de uma região metropolitana com alta heterogeneidade em termos de acessos a
recursos, níveis de pobreza e capacidade de interagir com as mudanças
climáticas”, disse.
“Por
meio de nossa pesquisa, procuramos entender como uma megacidade, no caso São
Paulo, tem se mobilizado para lidar com riscos e ameaças das mudanças
climáticas, como os tomadores de decisão em ciência, políticas e sociedade
civil percebem os riscos climáticos na esfera local e como fatores contextuais
influenciam a capacidade adaptativa local”, disse.
A
pesquisa se baseou em métodos qualitativos, que incluem revisão da literatura
científica, pesquisa documental – análise de pesquisas de opinião pública,
conteúdo jornalístico, documentos e dados socioeconômicos –, entrevistas com
atores e grupos sociais e reuniões técnicas e científicas, explicou Di Giulio.
O
projeto colaborativo apoiado pela FAPESP e pela UM conta, além de Di Giulio e
Lemos, com mais dois pesquisadores no Estado de São Paulo e um em Michigan.
Os
pesquisadores já realizaram quatro missões no projeto desde outubro de 2014,
que incluíram a realização de um seminário, um workshop e encontros em São
Paulo e em Michigan.
Entre
os resultados do projeto, Di Giulio mencionou a publicação de artigos como Building
adaptive capacity in the megacity of São Paulo, Brazil: urgencies,
possibilities and challenges, apresentado em 2015 na RC21 International
Conference, International Sociological Association, na Itália, e “Megacidades e
mudanças climáticas: um enfoque interdisciplinar sobre o município de São
Paulo”, a ser publicado este ano como capítulo de um livro.
Outras
cidades brasileiras
“Estamos
construindo uma plataforma analítica para entender melhor o processo complexo
da adaptação, especialmente se considerarmos as incertezas relacionadas às
projeções climáticas de ocorrência e frequência de eventos extremos. Em termos
de fatores contextuais que influenciam diretamente a capacidade de adaptação,
também analisamos como as restrições econômicas, institucionais e políticas
afetam a capacidade das cidades de prover serviços básicos e de apoiar as
populações, infraestruturas e ecossistemas atuais”, disse Di Giulio.
Segundo
a pesquisa, a população em São Paulo tende a ver as mudanças climáticas como um
problema menor. “As pessoas reconhecem os impactos das mudanças climáticas,
mas, ainda que preocupadas, para elas esses impactos competem com outros
assuntos, que as pressionam mais”, disse Di Giulio.
Os
pesquisadores analisaram políticas urbanas recentes em São Paulo, entre as
quais intervenções específicas em sistemas de mobilidade, moradia e iniciativas
de infraestrutura sustentável, mas consideram que essas e outras medidas não
têm sido descritas como ações de adaptação às mudanças climáticas.
O
projeto continua com o desenvolvimento do CiAdapta (Cidades, Vulnerabilidade e
Mudanças Climáticas), uma abordagem integrada e interdisciplinar para analisar
ações e capacidade de adaptação. O novo projeto, com duração até 2017, é
financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq). O CiAdapta envolve seis capitais brasileiras: São Paulo, Manaus,
Fortaleza, Vitória, Curitiba e Porto Alegre.
Outro
projeto conduzido por Lemos e Di Giulio envolve as cidades do Estado de São
Paulo. “Pretendemos desenvolver uma plataforma teórica e metodológica para
analisar a adaptação climática aplicável a todas as cidades com população entre
20 mil e 500 mil habitantes. Inicialmente, desenvolvemos um questionário que
foi distribuído para essas cidades com a colaboração da Secretaria Estadual do
Meio Ambiente”, disse Lemos, que fez a graduação na Universidade Federal de
Juiz de Fora e o mestrado e doutorado no Massachusetts Institute of Technology.
“É
importante destacar que o que as cidades fizerem agora irá prepará-las para as
mudanças climáticas globais e a plataforma que estamos desenvolvendo poderá
ajudar nas tomadas de decisões não apenas as cidades contidas na pesquisa, mas
também outras cidades no Brasil”, disse a professora da UM. (ecodebate)
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