A
transição demográfica é um dos fenômenos sociais de mudança de comportamento de
massa mais importantes da história da humanidade. Desde o surgimento do Homo
Sapiens, há cerca de 200 mil anos, as taxas de mortalidade sempre foram altas e
para compensar os óbitos precoces, as taxas de fecundidade também tinham de ser
altas. Segundo Angus Madison, por volta de 1800, a esperança de vida da
população mundial estava na casa de 25 anos e as taxas de fecundidade estavam
em torno de 6 filhos por mulher.
Mas
as taxas de mortalidade, principalmente mortalidade infantil, começaram a cair
com os avanços da industrialização, da urbanização, da educação, do saneamento
básico e o aumento da oferta de alimentos. Depois de certo tempo, após o início
da transição da mortalidade, teve início a transição da fecundidade. Este
processo de mudança de altas taxas para baixas taxas de mortalidade e
natalidade/fecundidade é conhecido como transição demográfica.
Praticamente
todos os países e regiões do mundo já iniciaram este processo de transição
demográfica. Contudo, o nível, o padrão, o início, o ritmo de queda e o final do
processo variam sobremaneira. De modo geral, pode-se dizer que a Europa (e
países de forte influência europeia como EUA, Canadá e Austrália) liderou a
transição demográfica, pois foi o continente que, ainda no século XIX,
experimentou o início da queda das taxas de mortalidade e fecundidade. Mas a
transição demográfica se espalhou para o resto do mundo, em ritmos diferentes,
ao longo do século XX.
Segundo
a Divisão de População da ONU, em 1950, a população da Europa era de 549
milhões de habitantes, de 544 milhões na China, de 376 milhões na Índia, 179
milhões na África Subsaariana e 169 milhões na América Latina e Caribe (ALC). A
população somada de Europa, China, Índia e ALC era de 1,6 bilhão de habitantes,
sendo que a população da África Subsaariana naquela época representava cerca de
10% deste total.
Mas
como o ritmo da transição demográfica foi diferente em termos nacionais e
regionais a distribuição espacial e o ritmo de crescimento populacional mudou a
configuração. Em 2016, a Europa já apresentava o segundo menor contingente de
habitantes (641 milhões) a China e a Índia ficavam com primeiro e segundo lugar
e a África Subsaariana, com 1 bilhão de habitantes ficava em terceiro lugar.
Para
2046, a situação vai mudar bastante conforme as projeções da ONU. A população
da África Subsaariana vai atingir 2 bilhões de habitantes, ficando em primeiro
lugar. Em seguida vem a Índia com 1,7 bilhão de habitantes, superando a China
(com 1,36 bilhão), a ALC com 779 milhões de habitantes, superando a Europa com
711 milhões de habitantes.
Na
segunda metade do século XXI, a população vai decrescer na maior parte do
mundo, mas vai continuar crescendo na África Subsaariana e deve atingir 3
bilhões de habitantes em 2072 e 4 bilhões de habitantes em 2100. Ou seja, no
final do século, a população da África Subsaariana será equivalente à população
de Índia, China, Europa e ALC também com 4 bilhões de habitantes. Portanto,
entre 2016 e 2100 a população da África Subsaariana vai passar de 1 bilhão para
4 bilhões de habitantes, colocando um grande desafio para a redução da pobreza,
a melhoria da qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental. Há que destacar
que o Norte da África já está em uma fase mais adiantada da transição
demográfica e deve apresentar estabilidade do crescimento até o final do
século.
Segunda a teoria da transição demográfica todos os
paises já passaram ou terão de passar por quatro fases de evolução:
· Fase do «quase-equilíbrio» antigo (ou de pré-transição) entre uma mortalidade elevada e uma fecundidade igualmente elevada o que implica um crescimento natural da população reduzido;
· Fase do «quase-equilíbrio» antigo (ou de pré-transição) entre uma mortalidade elevada e uma fecundidade igualmente elevada o que implica um crescimento natural da população reduzido;
· Fase do declínio da mortalidade e da consequente
aceleração do crescimento natural da população;
· Fase do declínio da fecundidade; a mortalidade
continua a declinar embora a um ritmo mais moderado e o crescimento natural da
população diminuiu de intensidade;
· Fase do «quase-equilíbrio» moderno entre uma
mortalidade com baixos níveis e uma fecundidade igualmente baixa; o crescimento
natural da população tende para zero.
Para
entender a lenta transição demográfica da África Subsaariana vale a pena ler o
trabalho Africa’s unique fertility transition, apresentado na reunião anual da
Population Association of América (PAA), que aconteceu de 31 de março a 02 de
abril de 2016, de um dos demógrafos mais importantes do mundo, John Bongaarts.
Segundo o autor, a diferença da África Subsaariana em relação à outros países e
regiões é que a transição demográfica acontece de maneira tardia (later), em
ritmo mais lento (slower), teve início em um limiar de desenvolvimento mais
baixo (Earlier) e o nível da fecundidade é elevado (higher) do que em outras
regiões do mundo, assim como é menor o uso de métodos contraceptivos.
(ecodebate)
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