Belo
Horizonte foi a primeira cidade no país a proibir o uso de sacola plástica em
supermercados do município. Cresce no Brasil todo movimento para proibir o item
não reciclável.
Um
bilhão e meio de sacolas plásticas são consumidas no mundo por dia. Práticas,
gratuitas e presentes em praticamente toda compra do brasileiro, as sacolinhas
têm alto custo ambiental: produzidas a partir de petróleo ou gás natural
(recursos naturais não-renováveis), depois de usadas, em geral por uma única
vez, costumam ser descartadas de maneira incorreta e levam cerca de 450 anos
para se decompor. Nesse tempo, aumentam a poluição, entopem bueiros impedindo o
escoamento das águas das chuvas ou vão parar em matas, rios e oceanos, onde
acabam engolidas por animais que morrem sufocados ou presos nelas. Poucas
chegam a ser recicladas.
Não
à toa ganharam status de vilãs do meio ambiente. Já há algum tempo há uma
mobilização social para acabar com elas.
—
Retirar as sacolas plásticas de circulação traz como principal vantagem a
preservação do meio ambiente, a despoluição, porque essas sacolas formam uma
camada plástica de impermeabilização no solo, além de causar também efeitos de
gases poluentes na atmosfera — alerta a coordenadora do Núcleo de
Sustentabilidade da Universidade de Brasília (UnB), professora Izabel Zanetti.
A
cidade de Belo Horizonte foi a primeira a proibir a distribuição das sacolas,
com a Lei Municipal
9.529/2008, que obriga a substituição do uso de embalagens plásticas por
sacos e sacolas ecológicas. Em abril, a Prefeitura de São Paulo divulgou um
balanço do primeiro ano em vigor da Lei
Municipal 15.374/2011, que proíbe a distribuição gratuita ou a venda de
sacolas plásticas nos estabelecimentos comerciais da capital. A lei havia sido
aprovada em 2011, mas passou por questionamentos judiciais e só pode ser
regulamentada em fevereiro do ano passado.
Os
dados da prefeitura paulistana mostram uma redução de 70% nas sacolas tradicionais
— que passaram a ser substituídas por dois novos modelos: um verde, destinado
ao descarte de itens recicláveis, e outro cinza, para o descarte dos demais
resíduos, incluindo orgânico, papel higiênico, fralda e absorventes.
Também
agora em abril, o movimento pelo fim das sacolas plásticas ganhou a adesão da
Apple, a gigante norte-americana, considerada uma das maiores empresas do mundo
em valor de mercado. Em uma nova política de preservação do meio ambiente, a
Apple começa em abril a substituir suas tradicionais sacolinhas com logotipo
por outras de papel reciclado. Além disso, os vendedores serão orientados a, no
ato da compra, consultar o cliente para saber se quer a sacola ou se prefere
colocar seu produto diretamente na bolsa ou mochila.
Projetos
de lei visam estimular uso de plástico reciclável
No
Senado, o trabalho pelo fim das sacolas plásticas está presente em duas
propostas em tramitação na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ):
os Projetos de Lei do Senado (PLSs) 322/2011
e 439/2012.
Do
senador licenciado Eduardo Braga, atual ministro de Minas e Energia, o primeiro
projeto proíbe a utilização, fabricação, importação, comercialização e
distribuição de qualquer sacola que tenha polietileno, propileno e
polipropileno na composição.
Já o
segundo, criado por estudante que integrou o Projeto Jovem Senador, prevê a
substituição nos estabelecimentos comerciais das sacolas plásticas comuns por
sacolas reutilizáveis, confeccionadas em material reciclável e resistente ao
uso, num prazo de cinco anos.
Presidente
da Comissão de Meio Ambiente (CMA), onde os projetos terão de ser analisados, o
senador Otto Alencar (PSD-BA) acredita que proibir a circulação das sacolas
plásticas é fundamental para conservação do meio ambiente. O senador relata
que, principalmente nas cidades de interior, onde não há coleta seletiva de
lixo ou um aterro sanitário para descarte adequado dos dejetos, os sacos
plásticos acabam descartados de qualquer jeito.
—
Acho que essa proibição já deveria ter sido feita há muito tempo. As pessoas
jogam o saco em qualquer lugar, fazem isso sem consciência do que pode
acontecer e geram uma série de problemas. O governo deveria fazer também uma
campanha educacional para que as pessoas tomem consciência da gravidade desse
comportamento — pondera o senador, que conta já ter adquirido o hábito de, ao
ir a uma farmácia, por exemplo, dispensar a sacolinha e carregar o medicamento
nas mãos ou no bolso.
Redução
Hábito
semelhante tem a dona de casa Patrícia Cardoso, moradora de Brasília, que há
cerca de três anos reduziu consumo de sacolas plásticas. Patrícia conta que sua
meta principal é diminuir a produção de lixo da casa e, em decorrência disso,
já consegue usar menos sacolas.
— Eu
levo um carrinho para compras na feira, tenho sacolas retornáveis para o
supermercado e também uso caixas de papelão. Posso dizer que alcancei uma
redução de 80% no consumo dessas sacolinhas — comemora.
As
poucas sacolas que recebe nas compras, em casos pontuais ou numa emergência,
usa para descartar o lixo molhado. Patrícia garante que o novo hábito não
exigiu nenhum esforço grandioso. Foi apenas uma questão de ajustes no
comportamento, como lembrar de levar a sacola retornável sempre que saía às
compras e de recusar os sacos ao embalar produtos. Hoje, garante, essas ações
já se tornaram automáticas.
Campanha
educativa garante novos hábitos
O
consultor legislativo do Senado Luiz Beltrão, da área de meio ambiente, lembra
que existem três tipos de políticas adotadas para mudar um hábito. A primeira
delas é a política de comando e controle, por exemplo, leis que preveem multas
e fiscalização, como as que terão origem a partir dos projetos do Senado. Um
segundo tipo de política é a da medida econômica, como a cobrança das sacolas
plásticas, o que impacta no bolso do consumidor, obrigando-o a repensar o uso
das sacolas. O terceiro tipo são as políticas educativas: campanhas
institucionais, mensagens e placas no mercado, propagandas na televisão e,
acima de tudo, educação nas escolas.
— Se
a gente não atingir as gerações mais novas, se nas escolas o tema não for
tratado, outras medidas não vão adiantar. A reutilização e a reciclagem são o
segundo, o terceiro passo. O primeiro passo é não gerar [o lixo poluente]. A
nossa educação ambiental tem de atacar o problema na raiz — reforça Beltrão.
A
professora Izabel Zanetti também concorda com a necessidade de uma atuação
casada entre Legislativo e Executivo. Ela considera que é importante ter a lei
disciplinando a questão, mas diz que é preciso também campanhas educacionais
com a população — nas escolas e comunidades — e com os próprios governantes.
A
proibição das sacolas plásticas já é prevista em lei em pelo menos 20 das 27
capitais brasileiras. A medida também foi adotada em dezenas de países pelo
mundo. Na Irlanda, considerada um dos melhores exemplos de extinção das sacolas
plásticas, elas passaram a ser cobradas em 2002 — por meio de um imposto
batizado de Plas Tax, no valor de 22 centavos de euro por sacola — e, desde
então, tiveram o consumo reduzido em mais de 90%.
Na
China, onde cerca de 3 bilhões de sacolas eram consumidas por dia, a
distribuição gratuita foi proibida. Já Chile e Alemanha incentivaram os
comerciantes a oferecer aos clientes alternativa ao plástico, como sacolas de
pano e caixas. Na França, o incentivo é para empresas que produzem sacolas
biodegradáveis, que ganham benefícios para produzir mais. No Reino Unido, as
sete maiores redes de supermercado fecharam acordo voluntário com o governo
para reduzir o uso das sacolas plásticas em 50%. Em Bangladesh, uma lei federal
proibiu totalmente o uso das sacolas.
Além
deles, países como Canadá, Suécia, Estados Unidos, Austrália, Finlândia,
Quênia, Taiwan, Ruanda e África do Sul também criaram leis para redução do
consumo das sacolas plásticas.
Reutilização
de sacolas esbarra em coleta ruim o com o Ministério do Meio Ambiente, as
sacolas plásticas não são o maior vilão do meio ambiente. O problema maior é o
consumo excessivo, aliado ao descarte inadequado. Em 2009, o ministério lançou
em parceria com grandes redes de supermercado a campanha Saco é um Saco, para
incentivar novos hábitos. Uma das propostas era apostar nos “Rs” do consumo
consciente: recusar, reduzir, reutilizar e reciclar.
A
mudança de comportamento da população também é uma das principais ações
defendidas pelo Instituto Socioambiental do Plástico (Plastivida), que
representa as empresas da cadeia produtiva. Segundo o presidente da entidade,
Miguel Bahiense, a tríade mudanças de comportamento + sacolas de qualidade +
descarte correto com reciclagem é o pilar para amenizar danos das sacolas
plásticas ao meio ambiente.
Bahiense
explica que o instituto lançou um programa de qualidade das sacolas plásticas a
fim de garantir que elas possam ser mais bem aproveitadas pelo consumidor,
evitando assim o consumo excessivo. As sacolas produzidas dentro das normas da
ABNT, apesar de serem de plástico comum, são mais grossas e capazes de suportar
até seis quilos. Assim, o consumidor pode usar menos sacolas para carregar suas
compras, além de reutilizá-las com segurança para descartar o lixo molhado.
A
Plastivida destaca que a sacola plástica é utilizada por cerca de 80% da
população para embalar o lixo a ser jogado fora. Esse uso, reconhecido como uma
prática aceitável pelos ambientalistas, ficaria comprometido com a saída das
sacolas plásticas de circulação, já que a maioria da população não gostaria de
incorporar o gasto com a compra de saco de lixo ao seu orçamento doméstico.
Usar a sacola para jogar fora o lixo ou garantir que ela seja depositada nos
lugares corretos para reciclagem já seriam ações de grande avanço ambiental, na
avaliação da entidade.
Em
São Paulo, supermercado distribui aos consumidores sacolas feitas com material
reciclável.
Coleta
de lixo
O
descarte correto do plástico esbarra, porém, no deficiente sistema de coleta de
lixo do país. Dados de 2014 do Sistema Nacional de Informações de Saneamento
(SNIS), do Ministério das Cidades, constataram que a prática da coleta seletiva
ainda está longe da realidade da população brasileira.
O
número de casas atendidas por serviços de coleta regular de lixo aumentou entre
2013 e 2014. O déficit de atendimento, no entanto, ainda é grande: 17,3 milhões
de pessoas moram em regiões sem nenhum tipo de coleta, a maior parte em zonas
rurais e pequenos municípios. Se a coleta regular não é universal, mais rara
ainda é a seletiva, encontrada hoje em apenas 1.322 dos 5.561 municípios do
país, pouco mais de 20% do total.
As
informações coincidem com levantamento da Associação Brasileira de Empresas de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), feito no ano passado, logo após
a entrada em vigor da Política Nacional de Resíduos Sólidos. O estudo revelou
que dos 64 milhões de toneladas de resíduos produzidos pela população, 24
milhões, ou seja, 37,5% foram enviados para destinos inadequados. A pesquisa
envolveu 400 municípios, abrangendo 91,7 milhões de pessoas. Por dia, o
brasileiro gera, em média, um quilo de lixo.
Para
Flexa Ribeiro (PSDB-PA), também integrante da CMA, a reciclagem é o caminho
ideal para o material plástico. Mas o senador reconhece que, sem a implantação
da coleta seletiva, o plástico atualmente não é reciclado em quantidade
suficiente para evitar a poluição.
—
Então, se trabalharmos para tirar as sacolas para substituí- las por um
material que seja biodegradável, evidentemente que estamos trabalhando para
melhorar a questão ambiental, não só no Brasil, mas no mundo. (ecodebate)
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