Investimentos verdes
é a chave para a economia de baixo carbono
Debates
em torno de uma economia verde e de baixo carbono têm sido recorrentes em todas
as partes do mundo à medida que as mudanças climáticas já começaram a causar
diversos efeitos físicos com sérias consequências para as empresas e
investidores. Embora sempre tenham existido variações de temperatura e eventos
climáticos extremos, a ciência mostra que esses acontecimentos estão se
tornando cada vez mais intensos e serão mais graves ao longo dos próximos anos
e décadas. As empresas já estão sentindo esses impactos nos negócios. Por conta
disso, os investidores estão mais preocupados com as questões ambientais e têm
buscado ativamente uma maior transparência por das empresas em que investem
diretamente, enviando questionários e emitindo declarações. Investidores e
stakeholders esperam que mais as empresas façam a gestão dos riscos físicos de
curto e longo prazo, bem como de potenciais oportunidades que possam surgir e
divulguem suas estratégias de gestão de risco.
Diante
desse cenário, negócios de todo o globo têm buscado um pleno entendimento do
conceito da economia verde e formas de aplicá-lo na prática. No entanto, a
transição para uma economia de baixo carbono requer uma atuação conjunta,
estratégica e, principalmente, integrada de diferentes setores. Devemos ter em
mente que uma economia de baixo carbono não seria idêntica à nossa economia
atual com menores emissões de GEE. Seria uma economia completamente diferente,
que acarretaria em diferentes preços de equilíbrios e vários efeitos de
reajuste entre setores e tecnologias.
O
acordo climático, firmado durante a COP 21, em Paris, França, estabelece
compromissos para limitar o aumento da temperatura global em abaixo de 2°C, por
meio de regulamentações futuras. Tendo isso em vista, cada setor econômico
precisará reduzir suas emissões a um ritmo relativamente mais rápido, mudando,
dessa forma, os padrões atuais de demanda para que as empresas consigam se
alinhar ao que foi proposto. Para os investidores, uma economia de baixo
carbono significará o alinhamento de suas carteiras com a meta de 2°C. A
questão não é determinar o quanto de CO2 as empresas financiadas
estão emitindo, mas sim se os ativos que elas possuem (estações de energia,
matérias-primas, tecnologias, patentes inovadoras e etc.) são necessários, compatíveis
ou incompatíveis com o surgimento de uma economia sustentável, para evitar
investimentos em ativos bloqueados.
Existem
grandes desafios pela frente, especialmente em relação ao financiamento da
transição para uma economia e sociedade verdes, resistentes às alterações
climáticas. Sabemos que os níveis de financiamento atuais são insuficientes
para limitar o aquecimento global a 2° C acima dos níveis pré-industriais. Isso
exige um investimento maciço – mais de US$ 1 trilhão por ano até 2035, de acordo
com a Agência Internacional de Energia (IEA, International Energy Agency), para
o financiamento de um sistema de energia de baixo carbono e tecnologias mais
eficientes em termos energéticos.
O
Relatório “Empowering a Greener Future 2015″, da Climate Investment Funds (CIF)
– fundos constituídos por vários países europeus e os Estados Unidos para
financiar projetos eco-sustentáveis – mostra como os US$ 8 bilhões que o CIF
destina aos países em vias de desenvolvimento estão alavancando um adicional de
US$ 58 bilhões em co-financiamentos de outras fontes para promover uma mudança
transformacional em 72 nações. Esse tipo de financiamento estimula o potencial
de uma economia de baixo carbono.
Hoje,
existe a necessidade de participação ativa de todos os protagonistas da
economia. Os governos não são capazes de financiar uma estrutura econômica de
baixo carbono sem auxílio dos demais atores-chave da sociedade. Todos os
agentes econômicos precisam fazer a sua parte. Os orçamentos públicos devem ser
reorientados e também usados para estimular o investimento privado em projetos
de mitigação das alterações climáticas e adaptação, porque esses investimentos
substanciais só podem ser financiados por meio de um maior envolvimento do
setor privado.
Existem
várias maneiras em que os fundos públicos podem incentivar os agentes
econômicos a direcionarem o seu capital para investimentos sustentáveis. Uma
delas é o fortalecimento do promissor mecanismo de green bonds – títulos
financeiros voltados a ações sustentáveis e projetos de desenvolvimento
climático. O setor privado se mostra muito interessado no mercado de green
bonds, que aumentou quase 10 vezes entre 2012 e 2014, com mais de US$ 37
bilhões emitidos para financiar investimentos verdes. A Climate Bonds
Initiative, organização inglesa sem fins lucrativos, estima que esse mercado
tenha superado os US$ 100 bilhões ao final de 2015. Aliás, os green bonds são
uma ótima alternativa para projetos de financiamento em países em
desenvolvimento e mercados emergentes, como o Brasil.
Na
busca por uma economia verde, a indústria financeira passou a levar em conta os
riscos climáticos para tomar decisões financeiras e incorporou a preocupação
ambiental dentro dos modelos tradicionais de análise de risco, adotando o
conceito ESG (Environmental, Social & Governance). É importante destacar
que os investidores institucionais precisam ter acesso completo aos dados
climáticos, para construir uma carteira diversificada de investimentos que
antecipem as mudanças econômicas impulsionadas pelas alterações climáticas.
Organizações
como o CDP (Carbon Disclosure Project) ajudam a trazer informações corporativas
ambientais para o mercado. Em nome de mais de 827 investidores institucionais
que representam US$ 100 trilhões de ativos sob gestão, o CDP solicita para as
maiores empresas reportarem seus riscos financeiros associados com as mudanças
climáticas, como stress hídrico e riscos de desmatamento na cadeia de valores
aos seus stakeholders. O objetivo é que os investidores possam avaliar o seu
risco relacionados às alterações ambientais na sua carteira, uma vez que eles
precisam ser informados sobre o impacto que as transformações no meio ambiente
podem ter nas suas empresas investidas. Isso inclui riscos físicos, novos
riscos regulatórios e riscos relacionados à reputação.
Para
ajudar o acordo de Paris ter sucesso, devemos nos voltar para os princípios
fundamentais da medida, a transparência e a prestação de contas. A supervisão
da divulgação das emissões de gases de efeito estufa e a transparência dos relatórios
é um motor fundamental de investimento em energia limpa e inovação tecnológica.
É também uma responsabilidade fiduciária, conforme destacado pelo anúncio da
nova Força-Tarefa do Conselho de Estabilidade Financeira Sobre Divulgações
Financeiras Relacionadas com o Clima (TCFD) com a qual o CDP contribuirá com
sua experiência. Com seu sistema de divulgação ambiental global que permite as
empresas, cidades e regiões serem transparentes e responsáveis, o CDP está no
centro dessa transição para um mundo novo de baixo carbono. (ecodebate)
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