Projeto
Coral Vivo participa de iniciativas de monitoramento e NOAA prevê temperatura
de 0,5ºC acima da média histórica no mar do Sul da Bahia.
Projeto
Coral Vivo
O
aquecimento anormal da temperatura do oceano causado pelo El Niño já começa a
interferir na saúde dos corais do Brasil. Cálculos do NOAA (Administração
Oceânica e Atmosférica Nacional, na sigla em inglês), órgão do governo
americano, preveem temperatura de 0,5ºC acima da média histórica no Sul da
Bahia até junho. “Para avaliar o impacto no Parque Natural Municipal do Recife
de Fora (BA), estamos realizando dois monitoramentos simultâneos para
interpretar os dados de maneira conjunta”, explica o biólogo Emiliano Calderon,
coordenador de Pesquisas do Projeto Coral Vivo, que é patrocinado pela
Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental.
A
Rede de Pesquisas Coral Vivo realiza desde dezembro estudos científicos em três
pontos do Recife de Fora para conhecer a resposta fisiológica das espécies, com
a participação de diferentes institutos e universidades públicas. Ao mesmo
tempo, outra equipe do Coral Vivo contribui com a coleta de dados para o
Programa Reef Check Brasil, que é um protocolo internacional, aperfeiçoado para
as condições dos recifes brasileiros, realizado anualmente para monitorar a
saúde dos recifes de coral.
Colônias
branqueadas no Recife de Fora
Os
pesquisadores da Rede de Pesquisas Coral Vivo tem mergulhado quinzenalmente em
três pontos do Recife de Fora: Funil, Mourão e Taquaruçu. No estudo de campo
realizado na segunda quinzena de abril, o ponto Taquaruçu era o mais afetado
com grandes colônias de corais completamente branqueadas, como os
corais-de-fogo Millepora alcicornis eMillepora nitida e o coral Mussismilia
harttii. “Algumas colônias do coral Mussismilia hispida também estão
completamente brancas, e as demais, no geral, ainda apresentam coloração
normal”, avalia Calderon.
“Além
de verificar se as colônias de coral estão com branqueamento, estamos coletando
amostras para análises de microbiologia e de biomarcadores enzimáticos”,
explica o pesquisador Emiliano Calderon. Para completar, a cada 15 minutos
equipamentos instalados no mar medem e registram a temperatura da água e
guardam na memória eletrônica. Simultaneamente, na base de pesquisas, um
equipamento mede a incidência da luz solar. Calderon explica que ambos
parâmetros, o aumento da temperatura e a forte luz solar, estão relacionados à
ocorrência do fenômeno de branqueamento. O encerramento desses estudos está
previsto para maio ou até final do El Niño, quando os dados serão baixados e
analisados.
Será
verificado também se o branqueamento teve alguma interferência de poluentes
como cobre e carbono, por exemplo, que podem potencializar o fenômeno. “O
branqueamento ocorre por um somatório de fatores. Medindo esses parâmetros
podemos ter mais certeza sobre o que desencadeou o problema em cada ponto”,
explica Calderon.
No Brasil,
as colônias costumam ter um índice de branqueamento menor do que no Pacífico,
que tem águas mais claras. Em alguns eventos anteriores menos de 20% dos corais
de alguns locais da costa brasileira foram acometidos enquanto no Caribe ou na
Austrália chegam a mais de 80% de colônias com branqueamento. Alguns estudos
apontam que, como os recifes de coral do Brasil ficam em águas mais turvas,
esse ambiente mais escuro poderia funcionar como um filtro solar, sendo uma das
explicações de por que os corais que ocorrem no Brasil são menos afetados pelo
estresse causado pelo El Niño.
Dados
do NOAA indicam área crítica no Sul de Abrolhos
As
previsões dos mapas recentes gerados pelo NOAA indicam que a região ao Sul do
Banco dos Abrolhos é a que mais pode sofrer com branqueamento. “Caso a pluma do
Rio Doce atinja essa região neste período de El Niño, os corais já fragilizados
pelo aquecimento terão mais dificuldades para se recuperar e podem não
resistir”, avalia o geólogo José Carlos Seoane, membro da Rede de Pesquisas
Coral Vivo e professor do Instituto de Geociências da UFRJ. “A previsão de
branqueamento, que gera o alerta, é feita a partir da temperatura da superfície
da água do mar, comparada à média da temperatura esperada para cada dia do ano,
chamada de “climatologia”. Leva também em conta quantos dias a temperatura está
acima do normal, e se a água está circulando ou parada (pela medição dos
ventos)”, informa Seoane. Ele explica que todos os locais na costa brasileira
com boias virtuais do NOAA estão amarelos no sistema, e isso significa estado
de monitoramento. A previsão é que até junho, com até 90% de certeza, a
temperatura fique 0,5ºC acima da média histórica para a data na Costa dos
Corais, no Recife de Fora, em Abrolhos e em Búzios.
Reef
Check no Recife de Fora (BA)
Desde
2005, cinco pontos do Recife de Fora são monitorados pelo Programa de
Monitoramento dos Recifes de Coral do Brasil, e o Projeto Coral Vivo sempre
contribui, assim como ocorreu em abril deste ano. Mais conhecido como Reef
Check Brasil, ele é o maior programa internacional de monitoramento de recifes
de coral envolvendo mergulhadores recreacionais e cientistas marinhos. O líder
da campanha no Recife de Fora é o coordenador regional do Reef Check na Bahia e
Secretário de Meio Ambiente da Prefeitura de Caravelas (BA), Fábio Negrão. Em
pranchetas, os participantes fazem anotações sobre a saúde dos recifes de coral
e os dados são tabulados e monitorados anualmente. Das espécies de corais que
ocorrem nos recifes rasos brasileiros, dez foram encontradas com branqueamento
nos cinco pontos do Reef Check no Recife de Fora em 2016: Agaricia agaricites,
Millepora alcicornis, Millepora nitida, Montastraea cavernosa, Mussismilia
braziliensis, Mussismilia harttii, Mussismilia hispida, Porites astreoides, Porites
branneri, Siderastrea stellata. O Reef Check é realizado pelo ICMBio/MMA, com a
coordenação técnica do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal de
Pernambuco, e conta com uma série de parceiros.
Branqueamento
de corais
O
branqueamento acontece quando as microalgas simbiontes – chamadas de
zooxantelas e que dão cor ao tecido quase transparente do coral – são expulsas
por conta de estresses como aquecimento, acidificação da água ou poluição.
Assim, o esqueleto calcário fica visível atrás do tecido quase transparente.
“Quanto mais intenso e duradouro for o evento estressante, maior é a chance da
colônia de coral adoecer e morrer”, explica o coordenador geral do Projeto
Coral Vivo e professor do Museu Nacional/UFRJ, o biólogo marinho Clovis Castro.
Sobre
o Projeto Coral Vivo
O
Projeto Coral Vivo é patrocinado pela Petrobras por meio do Programa Petrobras
Socioambiental e trabalha com pesquisa, educação, comunicação e políticas
públicas para a conservação e o uso sustentável dos ambientes recifais do
Brasil. Ele faz parte da Rede Biomar, junto com os projetos Albatroz, Baleia
Jubarte, Golfinho Rotador e Tamar. Todos patrocinados pela Petrobras, eles
atuam de forma complementar na conservação da biodiversidade marinha do Brasil,
trabalhando nas áreas de proteção e pesquisa das espécies e dos habitats
relacionados. As ações do Coral Vivo são viabilizadas também pelo copatrocínio
do Arraial d’Ajuda Eco Parque, e realizadas pela Associação Amigos do Museu
Nacional (SAMN) e pelo Instituto Coral Vivo (ICV). Mais informações na página www.fb.com/CoralVivo
e no site www.coralvivo.org.br. (ecodebate)
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