4 de outubro, dia de São
Francisco
Desde janeiro deste ano,
a vazão mínima da Usina Hidrelétrica de Sobradinho, no Rio São Francisco, está
em 800 m3 por
segundo.
O fenômeno da Pororoca,
mundialmente conhecido, já não existe mais. Você sabia disso? As águas do rio
Araguari, no Amapá, já não têm forças para chegar à foz e sofrer a força
reversa das águas, o que gerava as ondas. Construíram barragens em seu leito
para gerar energia, que vem para o sul do país, além de pisotear suas margens
com manadas de búfalos.
As
águas do Araguaia estão cada vez mais escassas. Muitos de seus afluentes, antes
perenes, agora também são intermitentes.
O
São Francisco agora terá uma vazão de apenas 700 m3/s. Um rio que,
segundo o discurso oficial do antigo governo federal, tinha uma vazão “firme”
de 1800 m3/s a partir de Sobradinho. E olha que a Transposição
sequer começou. Onde Domingos Montagner morreu, na verdade, o que existe é um
fiapo de água, em comparação com o que era o Cânion do São Francisco.
O
mais emblemático, sem dúvida, é o rio Doce. A tragédia da Samarco não tem
precedentes em território nacional, mas está sendo tratada como algo secundário
e como se fosse apenas um acidente de percurso.
Se
falarmos, então, da qualidade de nossas águas, teremos que lembrar do Tietê e
do Pinheiros, a cara, a cor e o cheiro do desenvolvimento de São Paulo.
O
que acontece não é fruto apenas de como se trata as calhas principais de nossos
rios, mas de todo o desmatamento do território dessas bacias. A destruição do
Cerrado – reconhecimento rotineiro nos meios científicos e socioambientais –
levará consigo os rios que dependem do Cerrado. Já em 2004 tínhamos a
informação que, apenas no Norte de Minas, cerca de 1200 rios menores tinham
sido eliminados. Sem o Cerrado, nos dizem os cientistas, não haverá São
Francisco, Araguaia e tantos rios que dependem dos aquíferos do Planalto
Central. A criação do MATOPIBA – território do agronegócio no Cerrado – levará
às profundezas esse modelo predador do bioma.
A
curva de decadência de nossos rios coincide exatamente com a expansão das
monoculturas, seja de grãos, de gado, ou outra qualquer. É só comparar os
gráficos a partir da década de 1970.
Assim,
nesse dia de São Francisco, como os profetas dos tempos antigos, que
amaldiçoavam o dia que tinham nascido, não nos cansamos de trazer más notícias,
ainda que sejam em forma de denúncia (Jeremias 20,14-18).
Toda
classe política, todo mundo econômico – exceções de sempre – está a alguns
anos-luz distante de enxergar o país por esse ângulo. Então, prosseguimos em
linha reta rumo ao abismo. (ecodebate)
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