A aceleração da subida do nível dos oceanos e as ressacas em Santos
A
emissão de gases de efeito estufa provocam o aquecimento global que, por sua
vez, provocam o degelo dos glaciares e acelera o ritmo de aumento do nível dos
oceanos. Um artigo recente publicado na revista Nature avaliou a história da
elevação do nível do mar e comprovou que o ritmo está se acelerando. Segundo o
principal autor, João Fasullo (do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica) a
taxa de aumento do nível do mar está aumentando.
Ele
diz: “Este artigo mostra que a aceleração do aumento do nível do mar é real e
permanente. É também um exemplo de como os modelos climáticos pode desempenhar
um papel-chave na interpretação de observações e a previsão de clima futuro
próximo”.
Os
estudos mostram que entre 1900 e 2000, o nível dos oceanos subiu cerca de 14
centímetros como consequência do degelo das geleiras e glaciares. Artigo de
Nicola Jones, no site e360 Yale, coloca com clareza as tendências mais
recentes. Ela começa dizendo que 99% do gelo de água doce do planeta está preso
nas calotas da Antártica e da Groenlândia e que o degelo, especialmente desta
última, poderá fazer o nível do mar aumentar 1,8 metro no século XXI e muito
mais no século XXII.
Mas
antes mesmo deste cenário catastrófico do avanço inexorável das águas marinhas,
a situação já está problemática. São inúmeros os exemplos de partes do litoral
brasileiro que sofrem com a erosão e os prejuízos provocados pelas ondas e a
invasão do mar.
Em
27/04/2016 uma forte ressaca atingiu várias cidades da Baixada Santista, no
litoral de São Paulo. Parte das tradicionais muretas de contenção da orla da
praia de Santos, consideradas um dos cartões-postais da cidade, ficaram
destruídas por causa das ondas. A água do mar invadiu a pista sentido Ponta da
Praia da avenida Bartolomeu de Gusmão. A Companhia de Engenharia de Tráfego
(CET) de Santos bloqueou diversas vias. Os fortes ventos também provocaram
queda de árvores na avenida dos Bancários. O mau tempo paralisou completamente
o serviço de transporte de balsas entre Santos e Guarujá por quase três horas.
De acordo com a Base Aérea de Santos, os ventos na região chegaram a quase 90
km/h e as ondas provocadas pela ressaca ultrapassaram os 3 metros de altura.
Quatro
meses depois, em 21/082016 uma frente fria chegou à Baixada Santista provocando
inúmeros estragos na região, segundo o jornal Tribuna. Além da queda na
temperatura, a mudança no tempo fez com que uma forte ressaca no mar destruísse
novamente o Deck do Pescador na Ponta da Praia. A força do mar fez com que as
ondas tomassem a avenida da praia, nos dois sentidos, e invadissem a garagem de
diversos prédios no trecho entre os canais 6 e 7. Por segurança, o tráfego na
avenida está bloqueado desde o início da tarde. Os fortes ventos também fizeram
com que uma embarcação fosse arrastada da Ponta da Praia em direção às muretas
de proteção da orla, além de paralisar a travessia das balsas e derrubar diversas
árvores. Os prejuízos foram os maiores do ano.
O
jornal A Tribuna mostrou em 15/09/2016 houve novas inundações em Santos. A
elevação da maré e a ressaca causaram alagamentos em vários pontos da cidade. A
água do mar invadiu parte da pista José Menino/Ponta da Praia na Avenida
Almirante Saldanha da Gama, na altura do Deck do Pescador. Vias do Gonzaga e da
Zona Noroeste também ficaram cheias d’água. Os dramas estão se repetindo com
maior frequência. O sumiço da areia na Ponta da Praia não é novidade e o
desaparecimento na maré alta deve ocorrer em pouco tempo.
Reportagem
de Mariane Rossi mostra que uma pousada foi arrastada e destruída pela água do
mar durante uma ressaca que ocorreu durante o fim de semana (18 e 19/09/2016)
em Ilha Comprida, no litoral de São Paulo. A foto abaixo mostra a pousada
‘Filhas do Sol’ que foi destruída pela força das ondas. A água entrou e
arrebentou o piso do imóvel, o que fez a pousada tombar para o lado e ficar
inclinada. Segundo a Prefeitura de Ilha Comprida, além da Pousada, várias casas
foram invadidas pela água, mas ninguém perdeu a vida e houve muitos danos
materiais.
Os
desastres de Santos são apenas um pequeno exemplo do que está acontecendo no
Brasil e no mundo. A tendência é que estes eventos se multipliquem nos próximos
anos e décadas. No fim e ao cabo, todas as áreas litorâneas baixas podem ficar
debaixo d’água, gerando grandes danos materiais e humanos, conforme pode ser
visto no link do vídeo abaixo.
Ressaca
do mar invade a cidade de Santos, agosto 2016:
Resultado
do estudo “Uma estrutura integrada para analisar tomada de decisão local e
capacidade adaptativa para mudança ambiental de grande escala: estudos de casos
de comunidades no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos”, apoiado pela FAPESP,
estima que o nível do mar na cidade pode aumentar entre 18 e 30 centímetros até
2050 e entre 36 centímetros e 1 metro até 2100. A combinação dessa elevação com
uma sobrelevação causada por uma ressaca forte (ondas elevadas e maré
meteorológica) e numa fase de maré de sigízia (maré astronômica de maior
amplitude, que ocorre durante as luas cheia e nova, quando o Sol e a Lua estão
alinhados em relação à Terra e há maior atração gravitacional), pode resultar
em grandes inundações e enormes prejuízos, poios a planície costeira de Santos
apresenta declividades muito baixas e altimetrias inferiores a 3 metros. Além
disso, o nível do lençol freático da cidade é muito raso, o que a torna muito
suscetível a inundações provocadas pelo mar e alagamentos devido às chuvas
intensas.
As
mudanças climáticas fazem crescer os perigos da “sociedade de risco”. Todos os
desastres contemporâneos devem ser encarados como um alerta. A humanidade
precisa reduzir sua pegada ecológica e respeitar as fronteiras planetárias. Só
com decrescimento das atividades antrópicas será possível respeitar a
capacidade de carga do Planeta e minimizar os acidentes ecológicos.
Não
dá mais para manter o crescimento demoeconômico dos últimos 250 anos. A
sociedade deve seguir o caminho da simplicidade voluntária, ampliar as áreas
anecúmenas e restaurar a capacidade de recuperação dos ecossistemas.
(ecodebate)
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