segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Subida do nível dos oceanos e as ressacas em Santos


A aceleração da subida do nível dos oceanos e as ressacas em Santos

A emissão de gases de efeito estufa provocam o aquecimento global que, por sua vez, provocam o degelo dos glaciares e acelera o ritmo de aumento do nível dos oceanos. Um artigo recente publicado na revista Nature avaliou a história da elevação do nível do mar e comprovou que o ritmo está se acelerando. Segundo o principal autor, João Fasullo (do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica) a taxa de aumento do nível do mar está aumentando.
Ele diz: “Este artigo mostra que a aceleração do aumento do nível do mar é real e permanente. É também um exemplo de como os modelos climáticos pode desempenhar um papel-chave na interpretação de observações e a previsão de clima futuro próximo”.
Os estudos mostram que entre 1900 e 2000, o nível dos oceanos subiu cerca de 14 centímetros como consequência do degelo das geleiras e glaciares. Artigo de Nicola Jones, no site e360 Yale, coloca com clareza as tendências mais recentes. Ela começa dizendo que 99% do gelo de água doce do planeta está preso nas calotas da Antártica e da Groenlândia e que o degelo, especialmente desta última, poderá fazer o nível do mar aumentar 1,8 metro no século XXI e muito mais no século XXII.
Mas antes mesmo deste cenário catastrófico do avanço inexorável das águas marinhas, a situação já está problemática. São inúmeros os exemplos de partes do litoral brasileiro que sofrem com a erosão e os prejuízos provocados pelas ondas e a invasão do mar.
Em 27/04/2016 uma forte ressaca atingiu várias cidades da Baixada Santista, no litoral de São Paulo. Parte das tradicionais muretas de contenção da orla da praia de Santos, consideradas um dos cartões-postais da cidade, ficaram destruídas por causa das ondas. A água do mar invadiu a pista sentido Ponta da Praia da avenida Bartolomeu de Gusmão. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de Santos bloqueou diversas vias. Os fortes ventos também provocaram queda de árvores na avenida dos Bancários. O mau tempo paralisou completamente o serviço de transporte de balsas entre Santos e Guarujá por quase três horas. De acordo com a Base Aérea de Santos, os ventos na região chegaram a quase 90 km/h e as ondas provocadas pela ressaca ultrapassaram os 3 metros de altura.
Quatro meses depois, em 21/082016 uma frente fria chegou à Baixada Santista provocando inúmeros estragos na região, segundo o jornal Tribuna. Além da queda na temperatura, a mudança no tempo fez com que uma forte ressaca no mar destruísse novamente o Deck do Pescador na Ponta da Praia. A força do mar fez com que as ondas tomassem a avenida da praia, nos dois sentidos, e invadissem a garagem de diversos prédios no trecho entre os canais 6 e 7. Por segurança, o tráfego na avenida está bloqueado desde o início da tarde. Os fortes ventos também fizeram com que uma embarcação fosse arrastada da Ponta da Praia em direção às muretas de proteção da orla, além de paralisar a travessia das balsas e derrubar diversas árvores. Os prejuízos foram os maiores do ano.

O jornal A Tribuna mostrou em 15/09/2016 houve novas inundações em Santos. A elevação da maré e a ressaca causaram alagamentos em vários pontos da cidade. A água do mar invadiu parte da pista José Menino/Ponta da Praia na Avenida Almirante Saldanha da Gama, na altura do Deck do Pescador. Vias do Gonzaga e da Zona Noroeste também ficaram cheias d’água. Os dramas estão se repetindo com maior frequência. O sumiço da areia na Ponta da Praia não é novidade e o desaparecimento na maré alta deve ocorrer em pouco tempo.

Reportagem de Mariane Rossi mostra que uma pousada foi arrastada e destruída pela água do mar durante uma ressaca que ocorreu durante o fim de semana (18 e 19/09/2016) em Ilha Comprida, no litoral de São Paulo. A foto abaixo mostra a pousada ‘Filhas do Sol’ que foi destruída pela força das ondas. A água entrou e arrebentou o piso do imóvel, o que fez a pousada tombar para o lado e ficar inclinada. Segundo a Prefeitura de Ilha Comprida, além da Pousada, várias casas foram invadidas pela água, mas ninguém perdeu a vida e houve muitos danos materiais.

Os desastres de Santos são apenas um pequeno exemplo do que está acontecendo no Brasil e no mundo. A tendência é que estes eventos se multipliquem nos próximos anos e décadas. No fim e ao cabo, todas as áreas litorâneas baixas podem ficar debaixo d’água, gerando grandes danos materiais e humanos, conforme pode ser visto no link do vídeo abaixo.
Ressaca do mar invade a cidade de Santos, agosto 2016:

Resultado do estudo “Uma estrutura integrada para analisar tomada de decisão local e capacidade adaptativa para mudança ambiental de grande escala: estudos de casos de comunidades no Brasil, Reino Unido e Estados Unidos”, apoiado pela FAPESP, estima que o nível do mar na cidade pode aumentar entre 18 e 30 centímetros até 2050 e entre 36 centímetros e 1 metro até 2100. A combinação dessa elevação com uma sobrelevação causada por uma ressaca forte (ondas elevadas e maré meteorológica) e numa fase de maré de sigízia (maré astronômica de maior amplitude, que ocorre durante as luas cheia e nova, quando o Sol e a Lua estão alinhados em relação à Terra e há maior atração gravitacional), pode resultar em grandes inundações e enormes prejuízos, poios a planície costeira de Santos apresenta declividades muito baixas e altimetrias inferiores a 3 metros. Além disso, o nível do lençol freático da cidade é muito raso, o que a torna muito suscetível a inundações provocadas pelo mar e alagamentos devido às chuvas intensas.
As mudanças climáticas fazem crescer os perigos da “sociedade de risco”. Todos os desastres contemporâneos devem ser encarados como um alerta. A humanidade precisa reduzir sua pegada ecológica e respeitar as fronteiras planetárias. Só com decrescimento das atividades antrópicas será possível respeitar a capacidade de carga do Planeta e minimizar os acidentes ecológicos.

Não dá mais para manter o crescimento demoeconômico dos últimos 250 anos. A sociedade deve seguir o caminho da simplicidade voluntária, ampliar as áreas anecúmenas e restaurar a capacidade de recuperação dos ecossistemas. (ecodebate)

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