Enquanto
as delegações reunidas na cidade de Marrakesh, no Marrocos, para a 22ª
Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – COP 22 -, dão início aos
trabalhos no âmbito das negociações climáticas, o mundo testemunha um dos
resultados mais surpreendentes da história política recente: a eleição de
Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, confirmada em 09/11/16. Candidato
do partido republicano, o presidente eleito para governar um dos países mais
influentes do mundo é declaradamente um cético das mudanças do clima.
Em
novembro de 2012 ele escreveu na rede social Twitter que “o conceito de
aquecimento global foi criado por e para os chineses, a fim de diminuir a
competitividade da produção dos EUA”. Anos mais tarde ele disse que o tweet era
uma piada. No entanto, em várias outras ocasiões disse explicitamente que as
mudanças climáticas eram uma farsa. Por esse motivo, ambientalistas e ativistas
veem a vitória de Trump nas urnas com apreensão, já que ela pode significar
retrocessos nos esforços de combate ao aquecimento global.
“A
eleição de Donald Trump é um desastre, mas não pode significar o final do
processo internacional de negociações climáticas. Não vamos desistir, e a
comunidade internacional também não deveria fazê-lo. Donald Trump vai tentar
frear as ações climáticas, e isso significa que nós precisamos pisar fundo no
acelerador. Nos Estados Unidos, o movimento climático vai fazer de tudo para
proteger os avanços que tivemos até agora, e vai continuar pressionando para
que medidas relevantes sejam implementadas. Nosso trabalho será muito mais
difícil daqui para frente, mas não será impossível. E nós nos recusamos a
abandonar as esperanças”, declarou May Boeve, diretora executiva da 350.org.
Apesar
do sentimento geral de desapontamento, o clima de perseverança também tem sido
sentido nos corredores da COP. “Estamos aqui por um propósito e precisamos
seguir com ele apesar da conjuntura política desfavorável. O presidente dos
Estados Unidos pode não reconhecer as mudanças climáticas e o ser humano como
causador das mesmas, mas o acordo global assinado e ratificado por mais de 100
países, incluindo os EUA, reconhece. Esse é o momento de acelerarmos essa
implementação. Quanto mais cedo atuarmos, maiores os benefícios para o clima”,
frisou Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da 350.org Brasil e América
Latina e coordenadora nacional da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pelo
Clima, Água e Vida.
No
Brasil, o Congresso Nacional aprovou o Acordo de Paris em menos de três meses.
Firmado em dezembro de 2015 por 195 países e já ratificado por 102, ele passou
a valer como lei no último dia 04, tendo como principal objetivo frear o
aumento da temperatura média da Terra a 2ºC até 2100 em relação aos níveis
pré-industriais. “Os países que ratificaram o acordo têm pelo menos cinco anos
sem poder ‘abandoná-lo’. Além disso, diversas empresas americanas, além da
sociedade civil e dos governos locais, já estão comprometidos com a redução de
suas pegadas de carbono”, lembrou Nicole.
Segundo
ela, essa é uma oportunidade para o Brasil, um dos destaques nas negociações
internacionais, mostrar seu protagonismo e dar um exemplo ao mundo do que deve
ser feito para de fato tirar o acordo global do papel.
“O mercado das energias renováveis é o que mais cresce no mundo, portanto é uma excelente oportunidade de crescimento econômico em tempos de recessão. Em 2015 houve uma elevação de 3,5% nas emissões brasileiras de gases de efeito estufa. O governo tem que ter a humildade de assumir que está complicado atingir a meta [de 43% de redução de emissões até 2030] por conta do aumento do desmatamento, do investimento em carvão e outras políticas. Pra começar, o governo tem que colocar como meta não ter nenhum novo projeto que envolva combustíveis fósseis: nenhuma termelétrica a carvão, nenhuma termelétrica a gás, nenhum poço de pré-sal, nenhum poço de fracking [tecnologia altamente poluente utilizada para extração de gás de xisto]. A partir daí começamos a fazer a transição para uma economia de baixo carbono, com investimento em novas fontes de energia.”
Primeira
conferência após a entrada em vigor do Acordo de Paris, a COP 22 teve início em
07/11/16, e reúne líderes mundiais de diversos países para debater a
regulamentação do compromisso global e como os países vão implementar as regras
nacionalmente. Diversas organizações da sociedade civil, incluindo a 350.org,
estão presentes para acompanhar as negociações e pressionar os governos para
que adotem metas mais ambiciosas para a redução das emissões de gases
causadores do efeito estufa. (ecodebate)
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