Planeta ultrapassa marca de 400 ppm de CO2 de
forma permanente
Os livros de História vão lembrar setembro de 2016
como um marco para as mudanças climáticas. O mês, que normalmente registra
baixa na concentração de dióxido de carbono (CO2), ficou pela
primeira vez acima de 400 partes por milhão (ppm). Para os cientistas, isso
significa que este ano será oficialmente o primeiro a cruzar a marca simbólica
das 400 ppm, de forma permanente.
“É possível que outubro produza um valor mensal inferior
a setembro e retorne para abaixo de 400 ppm? É quase impossível”, escreveu
Ralph Keeling, cientista responsável pelo programa de monitoramento de CO2
do Instituto Scripps para Oceanografia.
“Excursões breves para valores mais baixos são
possíveis, mas já parece seguro concluir que não veremos um valor mensal abaixo
de 400 ppm neste ano – ou nunca mais num futuro indefinido”.
Segundo Keeling, nas últimas duas décadas, quatro
anos registraram níveis menores de concentração de CO2 em outubro em
relação a setembro. Entretanto, a redução máxima foi de 0,45 ppm, o que não
seria suficiente para levar a taxa para abaixo dos 400 ppm. Em novembro inicia
o ciclo de alta, que pode levar a níveis inéditos acima das 410 ppm.
Normalmente, setembro registra as menores
concentrações de dióxido de carbono na atmosfera por causa do crescimento das
plantas no Hemisfério Norte durante o verão. Com a chegada do outono, as
árvores perdem suas folhas que, quando entram em decomposição, liberam
novamente o carbono estocado. Segundo o Observatório Mauna Loa, existem sinais
de que este processo já foi iniciado, mas os níveis permaneceram acima dos 400
ppm.
Mesmo que a Humanidade zerasse as emissões,
concentração de CO2 continuaria alta por décadas.
O Acordo Climático de Paris pode ser um alento, mas
é improvável que o mundo retorne a níveis de poluição por carbono abaixo dos
400 ppm. Mesmo que a Humanidade encerrasse todas as emissões amanhã, levaria
décadas para a concentração começar a cair.
“No melhor dos cenários, haveria um balanço no
curto prazo e os níveis de CO2 não mudariam tanto, mas poderia
começar a cair em uma década ou mais”, disse Gavin Schmidt, cientista-chefe da
NASA, ao site Climate Central. “Na minha opinião, nós nunca mais veremos um mês
abaixo de 400 ppm”.
Análises em camadas de gelo indicam que nos últimos
800 mil anos (até o período pré-industrial), a concentração de CO2
na atmosfera variou ciclicamente entre 180 ppm e 280 ppm. De acordo com um
estudo publicado em 2009 pela Science, nos últimos 20 milhões de anos, os
níveis de dióxido de carbono na atmosfera só estiveram perto do que temos hoje
durante o Mioceno, entre 16 milhões e 12 milhões de anos atrás. Na época, as
temperaturas eram entre 3 e 6°C maiores que as atuais, e o nível do mar era de
25 a 40 metros superior.
A marca de 400 ppm é simbólica, mas mostra que o
mundo não está tomando medidas suficientes para manter o aquecimento do planeta
dentro de níveis seguros. A meta de elevação máxima da temperatura em 1,5°C em
relação aos níveis pré-industriais acordada em Paris já foi comprometida, e é
cada vez mais improvável que o aquecimento fique abaixo dos 2°C, marca
considerada segura, apesar de já provocar danos incalculáveis a populações em
diversas partes do mundo. (biodieselbr)
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