Ser humano: maior espécie invasora
“O
ser humano é um ectoparasita que está matando o seu hospedeiro” - Alves
(28/09/16)
“Há
10.000 anos os seres humanos e seus animais representavam menos de um décimo de 1% da biomassa dos vertebrados da terra. Agora,
eles são 97%” - Patterson (07/05/14)
Em
2012, escrevi um artigo provocativo no Portal Ecodebate perguntando se a
expansão do ser humano por todos os cantos e espaços do Planeta poderia ser
considerada uma atividade semelhante ao que acontece na biologia com as
espécies invasoras.
A
ideia do conflito irreconciliável e antagônico entre o ser humano e a natureza
não é nova. Diversos autores já trataram a humanidade como um câncer, uma praga
ou erva daninha que ataca a biodiversidade da Terra. Por exemplo, o grande
ambientalista David Attenborough disse: “Somos uma praga sobre a Terra. Não
é apenas a mudança climática; é o espaço absoluto, lugares para cultivar
alimentos para esta enorme horda. Ou nós limitamos o nosso crescimento
populacional ou o mundo natural fará isso por nós. Aliás o mundo natural já
começou a fazer isso para nós agora”.
Na
mesma linha, o filósofo britânico John Gray, em entrevista à revista Época
(29/05/06), apresenta um prognóstico pessimista sobre a humanidade: “A
espécie humana expandiu-se a tal ponto que ameaça a existência dos outros
seres. Tornou-se uma praga que destrói e ameaça o equilíbrio do planeta. E a
Terra reagiu. O processo de eliminação da humanidade já está em curso e, a meu
ver, é inevitável. Vai se dar pela combinação do agravamento do efeito estufa
com desastres climáticos e a escassez de recursos. A boa notícia é que, livre
do homem, o planeta poderá se recuperar e seguir seu curso”.
Também
o Dr. David Suzuki (2016) considera que os seres humanos estão no topo dos
predadores do mundo. Predação é uma função natural importante. Mas como a
população humana cresceu, passou a influir na dinâmica dos ecossistemas
rompendo os equilíbrios naturais. Ele diz que precisamos parar de procurar
bodes expiatórios e olhar no espelho e perceber que a principal causa do
declínio das espécies são o agigantamento das atividades antrópicas.
Em abril/16, a revista Nature publicou o texto
“Post-invasion demography of prehistoric humans in South America” (GOLDBERG,
et. al. 2016) que trata da “invasão” humana na América do Sul. O texto
reconstrói os padrões espaço-temporais de crescimento da população humana na
América do Sul, usando um banco de dados recém-agregados de 1.147 sítios
arqueológicos e 5.464 datações calibradas abrangendo quatorze mil a dois mil
anos atrás. Demonstra que, em vez de uma expansão exponencial constante, a
história demográfica dos sul-americanos é caracterizada por duas fases
distintas. Em primeiro lugar, os humanos se espalharam rapidamente por todo o
continente desde 14.000 anos, mas manteve-se com população baixa até 8.000 anos
atrás, incluindo um período de oscilações (boom and bust) sem crescimento
líquido por 4.000 anos. Só com sedentarismo generalizado a partir de 5.500 anos
atrás houve uma segunda fase demográfica de crescimento exponencial da
população. A capacidade da humanidade para modificar seu ambiente e para
aumentar acentuadamente a capacidade de carga na América do Sul é, portanto, um
fenômeno recente.
O
estudo estabelece uma base para a compreensão de como os seres humanos
contribuíram para a maior extinção do Pleistoceno de grandes mamíferos, como
preguiças, cavalos e criaturas chamadas gomphotheres. Em seguida, o estudo
considera que, de acordo com outras espécies invasoras, os seres humanos
parecem ter sido submetidos a um declínio da população, consistente com a ideia
da sobre-exploração dos recursos naturais. Mas com o surgimento de sociedades
sedentárias houve novamente crescimento exponencial da população.
Hoje
em dia parece que o crescimento populacional ultrapassou a capacidade de carga
novamente. A pergunta que fica é se os avanços tecnológicos serão capazes de
superar os limites da capacidade de carga ou se a pressão das atividades
antrópicas vai provocar uma grande extinção em massa das espécies endêmicas e
dos demais seres vivos do Planeta.
O
artigo publicado na revista PLoS Biology, em agosto de 2016, estima que o mundo
natural contém cerca de 8,7 milhões de espécies. Mas a grande maioria ainda não
foi identificada. Os autores alertam que muitas espécies serão extintas antes
que possam ser estudadas.
As
estatísticas mostram que as áreas de proteção ambiental cobrem apenas 20
milhões km2, ou cerca de 15% do planeta, número que está abaixo das
Metas de Aichi de Biodiversidade, adotadas por mais de 190 países em 2010, que
prevê 17% de cobertura em 2020. As Metas de Aichi são consideradas o maior
acordo global sobre biodiversidade em nível mundial e estão voltadas à redução
da perda da biodiversidade, em todo o planeta. Reunidas em cinco objetivos
estratégicos, as 20 Metas de Aichi são assim chamadas, pois foram definidas
durante a 10ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica
(COP-10), realizada em Nagoya, Província de Aichi, Japão. No entanto, segundo o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as conquistas em
número e tamanho têm de ser acompanhadas de melhoras em sua qualidade, com a
proteção de lugares com maior diversidade biológica.
Nos
últimos 20 anos, o mundo perdeu 3,3 milhões km2, ou quase 10%, das
suas áreas de natureza não domesticada, isto é, regiões praticamente intocadas
pela ação humana, segundo cálculo do periódico científico “Current Biology”.
Trata-se de uma perda catastrófica da vida selvagem. Em artigo publicado na
revista Science, o biólogo americano Samuel Wasser mostra que cerca de 50.000
elefantes africanos são caçados por criminosos a cada ano, para uma população
de 500.000 indivíduos. Uma taxa de 10% ao ano pode levar rapidamente à extinção
da espécie.
Para
mudar este quadro, o biólogo Edward Osborne Wilson acredita que o ser humano
está provocando um “holocausto biológico” e para evitar a “extinção em massa de
espécies”, ele propõe uma estratégia para destinar METADE DO PLANETA
exclusivamente para a proteção dos animais. No livro O futuro da Vida, Osborne
faz uma defesa da incrível diversidade de espécies que o Homo sapiens está
destruindo antes mesmo de ter acumulado conhecimento sobre elas.
Como
diz matéria da France Presse (06/11/14): “O ser humano é, por excelência, a
espécie mais invasora do planeta. Surgiu na África e se expandiu, modificando
todos os ecossistemas”. É uma espécie auto invasora, pois as migrações são
seguidas de dominação e destruição.
A
mesma conclusão é apresentada em interessante artigo de Fábio Olmos, em O Eco
(19/09/16) que mostra como a dominação do Planeta pelo Homo Sapiens provocou a
extinção de inúmeras espécies nos últimos 50 mil anos. Ele sintetiza o artigo:
“Uma conclusão é que somos a mais destruidora dentre as espécies exóticas e
invasoras, embora não nos listem no catálogo oficial das espécies-praga danosas
à biodiversidade”.
Portanto,
se não tomar cuidado, a humanidade pode ser vítima de seu próprio sucesso,
podendo fracassar devido ao retrocesso das demais espécies, como as abelhas que
são fundamentais para a polinização e a produção de alimentos no mundo. O
parasitismo humano está matando o hospedeiro e provocando um holocausto
biológico. O invasor parasitário geralmente fracassa quando o egoísmo predomina
sobre o altruísmo e se adota uma solução de terra arrasada. (ecodebate)
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