Contaminação de nitrato em aquíferos em zonas agrícolas do semiárido ao árido
Notas sobre a contaminação de nitrato em aquíferos em zonas agrícolas de climas semiáridos a áridos.
No
Estado do Rio Grande do Norte, levando-se em consideração apenas o índice
pluviométrico, o clima é tropical chuvoso com verão seco, no litoral sul, com
precipitações médias acima dos 1 200 milímetros (mm) anuais; tropical chuvoso
com inverno seco no litoral nordeste, nas partes mais elevadas da Serra de João
do Vale e na região serrana, onde se situam as serras de Luís Gomes, Martins e
Portalegre (800 a 1 200 mm anuais); subúmido seco na Chapada do Apodi e das
Serras de Santana, São Bernardo e Serra Negra do Norte (600 a 800 mm);
semiárido na região do Vale do Açu, em parte do Seridó e litoral norte do
estado, entre São Miguel do Gostoso e Areia Branca (400 a 600 mm); e árido ou
semiárido rigoroso, presente em nove municípios potiguares e apresentando os
mais baixos índices de precipitação, em torno dos 400 milímetros por ano
(SEPLAN, 2013). A importante região agrícola do Vale do Açu está, portanto,
situada em clima semiárido.
Shalev
et al. (2015) discutem sobre a contaminação por nitrato de aquíferos superficiais
que representa um grande desafio no desenvolvimento de uma agricultura
sustentável, particularmente em regiões semiáridas, onde a água subterrânea
também é utilizada como água potável. Os autores estimam, nesse artigo, a
contribuição relativa das várias fontes de nitratos que contaminam os aquíferos
rasos subjacentes aos campos agrícolas da região extremamente árida do Vale do
Arava Central (CAV), no sul de Israel. Uma síntese de itens iniciais desse
trabalho (Introdução e Área de Estudo) é transcrita a seguir.
Muitas
regiões áridas e semiáridas dependem das águas subterrâneas locais como único
recurso hídrico para irrigação agrícola (Foster, 2012). O desenvolvimento da
agricultura intensiva nessas regiões é crucial para a subsistência da população
em crescimento, especialmente tendo em vista a desertificação acelerada. No
entanto, as práticas de fertilização frequentemente resultam na deterioração da
qualidade da água dos aquíferos rasos, principalmente devido ao aumento das
concentrações de nitrato (p.ex., Bohlke, 2002; de Vries and Simmers, 2002;
Jalali, 2007; Abdesselam et al., 2013). Isto é particularmente alarmante tendo
em conta o longo tempo de residência da água nas regiões áridas e a sua
utilização adicional como recurso de água potável (Stigter et al., 1998;
Bohlke, 2002; Jalali, 2007; Herczeg and Leaney, 2010).
A
contaminação por nitratos de águas subterrâneas rasas em regiões agrícolas
deriva principalmente de nitrogênio residual, resultante do consumo incompleto
de N-fertilizantes, aplicado como nitrato, amônio ou N-orgânico (Oenema et al.,
1998; Hadas et al., 1999; Bohlke, 2002; Dochartaigh et al., 2010; Charfi et
al., 2012). Outras fontes antropogênicas de contaminação por nitrogênio incluem
infiltrações de esgotos e instalações de armazenamento de adubos (Heaton, 1986;
Aravena et al., 1993; Seiler, 2005).
O
orgânico-N e outras fontes de amônio são comumente modificados por reações de
mineralização e nitrificação na zona não saturada para produzir nitrato. O
excesso de irrigação aplicado aos campos cultivados em regiões áridas para a
remoção de sais que se acumulam na zona das raízes após alta evapotranspiração,
contribui com a sua contaminação por lavagem do nitrato juntamente com os sais
da subsuperfície até os aquíferos rasos.
O
estudo de Shalev et al. (2015) descreve a progressiva contaminação de nitrato
em aquíferos rasos da região árida do Central Arava Valley (CAV), Israel. Nas
últimas duas décadas, as concentrações de nitratos nestes aquíferos
superficiais aumentaram de 50 ppm. Este aumento é acompanhado, na maioria dos
casos, por um aumento nas concentrações de cloreto, mas não existe
necessariamente uma correlação clara entre as duas variáveis.
Variação temporal das
concentrações de Cl- e NO3- em dois poços no CAV. (Shalev et al.,
2015)
O
CAV é um estudo de caso ideal para investigar as fontes e os processos de
contaminação por nitratos das águas subterrâneas em regiões agrícolas áridas,
devido à sua extrema aridez, recarga limitada de água natural e cultivo
intensivo, utilizando práticas agrícolas modernas e técnicas de economia de
água.
O
Central Arava Valley (CAV) faz parte do Rift Valley do Mar Morto. A parte
central do vale é um graben alongado de SSW-NNE, limitado pelas falhas
marginais orientais e pelas falhas marginais ocidentais (WMF). Esta região
extremamente árida é caracterizada por temperaturas de dia de verão atingindo
~45°C, evaporação extremamente elevada de ~3500 mmy-1 e precipitação muito
baixa de 25-50 mmy-1 (Goldreich and Karni, 2001).
O
CAV tem sido intensamente cultivado desde a década de 1960, após o
estabelecimento de vários assentamentos rurais ao longo do vale. Costituem,
principalmente, de culturas sazonais, como vegetais e flores, com alguns campos
de plantações de palma e vinhas. A maioria das culturas sazonais é cultivada em
estufas. A estação de crescimento estende-se sobre 10 meses no ano, do período
de chuvas até o começo do verão. O regime anual de irrigação começa com a
lavagem dos solos, a fim de remover os sais acumulados na zona de raízes como
resultado da intensiva evapotranspiração durante o período anterior.
Posteriormente, os campos são fertilizados com esterco bovino. Durante a
estação de crescimento, os campos são irrigados por gotejamento e fertilizantes
sintéticos são aplicados através do sistema de irrigação (Oren et al., 2004).
De um modo geral, todos os campos cultivados na CAV recebem anualmente três
tipos de fertilizantes: NO3- sintético, NH4+ sintético e
esterco em quantidades quase iguais. (ecodebate)
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